Água, açúcar e pimenta (publicado originalmente em 16/4/2009)

O desfecho de ‘Ele Não Está Tão a Fim de Você’ (2009) é bastante previsível. Cada personagem é feliz para sempre, com exceção daqueles que infringiram a regra dos bons costumes. Tem aquela que quer se casar a qualquer preço, depois de sete anos namorando (Jennifer Aniston), a outra que casou de forma precipitada, pois é imatura (Jennifer Connely), a que apenas tem coragem de se expor pela internet (Drew Barrymore), a loira fatal amante de qualquer hora, provocante, sexy (claro que é a Scarlett Johansson), e a eterna romântica em busca do tal homem ideal (Ginnifer Goodwin). Tudo bem amarrado pelo diretor Ken Kwapis e os roteiristas Abby Kohn e Marc Silverstein, baseado no livro de Greg Behrendt e Liz Tuccillo. A ideia é bem simples: explicar, por meio do filme, quando os homens querem algo a mais com a mulher depois dum encontro. Durante toda a fita, há ingredientes depositados na trama: dicas ditas infalíveis que não deixam barato as desculpas esfarrapadas dadas por estes seres das cavernas. O elenco feminino tem as companhias de Ben Affleck, Justin Long, Kevin Connolly e Bradley Cooper. Perceberam? Cinco moças para quatro rapazes. Uma sobra. E é exatamente Scarlett, que dá vida a Anna Taylor, aspirante a cantora.

A atriz, aliás, vem ao longo dos anos se firmando como a Marilyn Monroe do século 21. Não é das mais espetaculares atrizes (como era o mito loiro dos anos 1950 e 1960) e só interpreta (propositalmente ou não) mulheres com fogo à flor da pele (vide os recentíssimos ‘The Spirit’, ‘Vicky Cristina Barcelona’, ‘Match Point’ e ‘A Ilha’). Sua Anna se assemelha à Vicky do longa-metragem de Woody Allen. O cheiro é o de ‘já vi isto antes’. Ela está como sempre. Sua beleza e sensualidade brotam naturalmente, sem fazer força. Drew, por seu lado, entrou no filme porque foi uma das produtoras. Na pele de Mary Harris, tanto faz como tanto fez ela estar ou não em cena. Anulou-se. As Jennifers dão para o gasto. Interferem muito modestamente. E isto é um elogio, pois poderiam comprometer, o que não é o caso. Quem se destaca é a quase xará delas, Ginnifer. A solteirona Gigi Haim é o fio condutor de ‘Ele Não Está Tão a Fim de Você’. Ela acredita nas promessas masculinas. Espera ansiosamente o celular tocar. Mas nada acontece. Então, se aconselha com Alex (Long), dono de um bar e super-entendido em questões ligadas a relacionamento. Na trajetória de sua personagem, descobre aos poucos que eles não são tão santos assim. Adoram desprezar.

Misture água, açúcar e pimenta. O caldo é ‘Ele Não Está Tão a Fim de Você’. Cada ator faz o seu mínimo, para que a fita não comprometa. Kwapis leva a trama em banho-maria, com a finalidade de seu público não sair da sala de cinema pelo menos chateado. E deveras não sai. Os homens por causa da dama Johansson. As mulheres se seguram em Cooper. É só. As histórias são pequenas demais para se arranjar um longa-metragem de efeito. Pode-se afirmar que não se trata nem de um trabalho comercial e tão pouco de uma película de arte. Ou seja: será esquecida dentro de meses. Mais: tem-se a impressão de que tudo se deu por único e exclusivo capricho de Barrymore. Ela, nas últimas temporadas, se dedicou a produzir e o seu lado atriz foi deixado de lado. Lembrem-se que estava por trás das duas fitas-remake de ‘As Panteras’ (2000 e 2003), que não são as perfeitas maravilhas do mundo cinematográfico. A ex-tetéia de ‘ET’ (1982) está agora preocupada com os bastidores. O ‘luz, câmera, ação’ fica em segundo plano para a atriz. Outro quesito que prejudica a comédia romântica é a longa duração. 129 minutos são tempo demais. Este tipo de filme é entre 85 e 100 minutos... Somente. O restante é ‘encher linguiça’. Nem lá nem cá. Tudo balança.

Roteiros com este igual teor nos recentes anos anteriores? Fácil: ‘P.S.: Eu te Amo’ e ‘O Amor não Tira Férias’ (ambos de 2007), ‘Menina dos Olhos’ (2004), ‘O Amor Custa Caro’ (2003), ‘Tratamento de Choque’ (2003), ‘Mensagem Para Você’ (1998) e ‘Marley & Eu’ (2008). Romances e beijos à vontade, porém sem o brilho dos melhores ‘Vênus’ (2006), ‘Juno’ (2007) e ‘Encontros e Desencontros’ (2002), por exemplo. Com tudo isto, ‘Ele Não Está Tão a Fim de Você’ se deixa enganar. Quem sabe os espectadores percebam isto antes de pagarem o ingresso. Vale a pena? Sim, àqueles que querem entretenimento barato.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 27/09/2009
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