Curta curtas (publicado originalmente em 12/3/2009)
Você já parou alguma vez por cerca de cinco, dez minutos, para assistir a filmes de curta-metragem de animação? Provavelmente a resposta será negativa. Isto porque quase ninguém se interessa por este tipo de trabalho, tão ou mais nobre até que um longa-metragem. Segundo a Academia de Artes Cinematográficas, responsável pelos prêmios Oscar, o curta é toda a fita com 30 ou menos minutos. A classificação é variável. A Ancine (Agência Nacional de Cinema) indica ser de no máximo 15 minutos a duração dos roteiros (o média-metragem cobre o espaço de 15 a 70 minutos e o longa-metragem fica acima disto, de acordo com a agência brasileira).
A contemplação dos curtas de animação no Oscar vem desde sempre. Em 1931, quando eles ainda engatinhavam para organizar a terceira edição da festa, deu-se a primeira estatueta de curta animado. Para se ter ideia, só sete décadas depois, em 2001, a Academia começou a se dedicar aos longas animados. 70 anos atrás, Walt Disney era a estrela dos festivais com os desenhos de inovação moderna e elegante ao mesmo tempo. É desta época, por exemplo, que vem clássicos como ‘Os Três Porquinhos’, laureado em 1934. Somente Walt Disney ganhou 11 troféus nas 39 festas em que concorreu. Foram dez entre 1931 e 1953 e o derradeiro em 1968, póstumo, dois anos após o falecimento dele. Sem dúvida, é o ícone desta arte especificamente.
Na semana que passou, dediquei-me aos mini-filmes. O acesso a eles é amplo para os que têm Internet de banda larga. Por meio do site YouTube, consegue-se ver a praticamente tudo em relação a estas fitas. Por outros meios é mais difícil porque a distribuição deles é nula, a não ser quando estão anexados a DVDs de longas, como no caso de ‘A Era do Gelo’ (2002) e aquele castor, o Scrat, fanático por nozes e que acabou ficando bem mais famoso do que o próprio filme – aliás, é o brasileiro Carlos Saldanha o realizador dos traços de Scrat e o diretor de ‘A Era do Gelo’. Ele também está por trás das sequências ‘A Era do Gelo 2’ e ‘3’ (2006–09).
Vi o ganhador deste ano, o francês ‘La Maison en Petits Cubes’, sobre um velho que se recorda de sua casa, de sua cidade, submersas depois que a cidade foi inundada. É soberbo e triste se pensarmos que na vida tudo passa. Assisti a seus concorrentes: ‘Lavatory-Lovestory’, para mim o melhor dos cinco, acerca de uma solteirona que é caixa em um banheiro público e recebe flores de surpresa; ‘Presto’, que conta as aventuras dum mágico e o coelho da cartola que quer comer a sua cenoura logo (este é muito divertido); ‘Oktapodi’, o mais reduzido da lista (tem dois minutos), sobre o casal de polvos que está quase separado quando um é comprado para ser servido no almoço de um restaurante, e ‘This Way Up’, que apresenta dois coveiros.
São scripts relativamente simples, de fácil entendimento devido às suas durações, mas de uma variedade impressionante. Do quinteto citado, há quatro diferentes modos de desenho e países distintos: França (‘La Maison’ e ‘Oktapodi’), Rússia (‘Lavatory-Lovestory’), Estados Unidos (‘Presto’) e Inglaterra (‘This Way Up’). Quanto às diferenças de rabiscos estão as cores borradas, o noir, e o estilo mais conhecido: a falsa ‘produção de fábrica’, a computadorizada (o termo ‘falsa’ serve, pois antigamente, sem micros, eram usadas folhas de papel em sequência, que produziam movimentos). Vi também animações que disputaram o Oscar de 2004 a 2007.
Enfim, o curta-metragem é um espetáculo à parte. Deliciei-me. Os olhos ficaram fixos em cada quadro, com tramas magníficas: entrevista verídica com John Lennon (‘I met the Walrus’ – 2007, Canadá); a menina em dúvida de para qual dos músicos dá sua única moeda (‘Orquestra de um Homem Só’ – 2005, EUA); a mini-biografia de Ryan Larkin (‘Ryan’ – 2004, Canadá) etc.
Então, entre você também neste belo mundo e curta curtas! Não dá para se arrepender.