Não, senhor (publicado originalmente em 5/3/2009)

Eu estava deveras ocioso quando aceitei, de modo intragável, assistir a ‘Sim, Senhor’ (2008), mais recente trabalho de Jim Carrey. O ator, sabe-se quem lê esta coluna há certo tempo, está no rol dos atores e atrizes de quem nutro animada antipatia profissional. Em 2005, por exemplo, publiquei neste espaço um manifesto claramente contrário a ele, pedindo para que retornasse a seu afazer no circo, onde iniciou a sua tosca carreira. Mas vi ‘Sim, Senhor’. Como era de se supor, entrei na sala com a pré-péssima impressão e saí dela sem me decepcionar. A sensação foi ruim mesmo. O filme, dirigido por Peyton Reed, um jovem de quase 45 anos sem qualquer história no cinema, se daria bem com todas as outras obras de Carrey: seu roteiro é pífio, o elenco de apoio é constrangedor e o protagonista se sai notadamente apagado, algo raro nas fitas nas quais Carrey atua. O ator, aos 46 anos, está envelhecido para as caretas e trejeitos exagerados que são, estes sim, os pontos fortes dele. Quando em close, o seu rosto denuncia rugas e uma expressão de cansaço, típica de quem não suporta mais interpretar um igual papel em praticamente todos os longas. E é estranho ver qual motivo levou o experiente Terence Stamp a aceitar participar duma aventura desse tipo.

Stamp, para aqueles de memória falha, é o ator que já ganhou prêmios em Cannes, Globo de Ouro e foi indicado ao Oscar. Esteve presente ainda em três filmes comerciais de destaque: os dois primeiros do ‘Superman’ (1978 e 1980), quando deu vida ao general Zod, o inimigo do herói, e ‘Priscila: A Rainha do Deserto’ (1994), na pele de Bernadette. Septuagenário (aniversaria em 22 de julho), ele deveria, até para preservar a carreira, se meter em projetos mais artísticos e menos bufos, como é o caso de ‘Sim, Senhor’.

A história do filme de Reed, aliás, é tão simples quanto burlesca: um bancário (Carrey) é daqueles sujeitos que dizem não para tudo – festas, passeios, encontros etc; por isso perdeu a esposa e vive sozinho num apartamento. Em determinado dia, um amigo lhe dá a dica da ‘Terapia do Sim’, onde os antissociais como ele têm esperança de melhorar o humor. Carl Allen, então, vai até o local e depara-se com Terrence Bundley (Stamp), o guru das ovelhas (o lugar parece o palco de Tim Tones, aquele personagem de Chico Anysio, um pseudopastor). A partir dali, ele começa a dizer sim a tudo e se envolve em confusões. Porém, não só são infortúnios suas derrapadas. Ele conhece Allison (a bela e fraca como atriz Zooey Deschanel), motoqueira e cantora de apenas sete fãs, por quem se enamora. Além disso, é promovido no emprego. Seu chefe é Norman, interpretado por Rhys Darby, ator neozelandês de 34 anos que é a surpresa da película. É seguro em cena, explorou bastante o ridículo de seu personagem e o melhor: é a estreia dele no ramo da sétima arte, o que mostra que já veio preparado e não teve medo das câmeras e dos sets. As aparições dele são os pontos altos da comédia. Os óculos e o cabelo exótico ajudaram muito na composição de Norman.

Baseado em livro de Danny Wallace, jornalista e produtor britânico que acatou dizer sim a tudo no período de seis meses, ‘Sim, Senhor’ foi bem nas bilheterias. Sorte de Jim Carrey, que apostou o cachê na realização da obra. Reduziu o salário em troca de participação na venda de ingressos. Aqui no Brasil, para se ter uma noção, o longa estreou há quatro semanas e esteve, até a semana passada, entre os cinco filmes mais rentáveis. Isto tem um óbvio motivo: janeiro é mês de férias; férias significam crianças à solta; e elas livres querem dizer sim a todos os filmes tatibitate em cartaz. Se ‘Sim, Senhor’ tivesse entrado à baila em maio ou setembro, por exemplo, teria naufragado sem poderes de recuperação. Nada restaria de concreto.

E J. Carrey se tornou, assim, um profissional de fita de férias (o filme estreou no meio de dezembro nos Estados Unidos). De modo fracassado, leva a vida embolsando milhões de produtores executivos que enxergam nele o estereótipo do canastrão – o que ele é realmente. Entretanto, não, senhor, ele nunca me convencerá. Trata-se de uma paródia de ator, idêntico a ‘astros’ como Eddie Murphy, Adam Sandler etc.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 25/09/2009
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