No alvo (publicado originalmente em 4/12/2008)

Domingo passado, último dia de novembro, o diretor Ridley Scott completou 71 anos. Desde 1977 comanda fitas. Como em toda profissão há instantes de acertos e as derrapagens com os erros. Atingiu o alvo com ‘Blade Runner: O Caçador de Andróides’ (1982), a ficção científica de primeira grandeza com Harrison Ford; ‘Thelma & Louise’ (1991), o romance com Susan Sarandon; e o épico ‘Gladiador’ (2000), com um incrível Russel Crowe no papel principal. Em compensação, Scott mirou e disparou no próprio calcanhar com produções fraquíssimas como o fracassado ‘1492: A Conquista do Paraíso’ (1992), com o irreverente Gérard Depardieu na pele de Cristóvão Colombo; ‘Hannibal’ (2001), pretensiosa tentativa de reprisar o brilho de ‘O Silêncio dos Inocentes’ (1991) com o mesmo Anthony Hopkins (não sei o motivo de o ator ter aceitado o personagem novamente) no elenco; e, do mesmo ano, ‘Falcão Negro em Perigo’, com Ewan McGregor, acerca da guerra civil da Somália. Esta avaliação recai apenas às fitas grandiosas e não às rasas como ‘Um Bom Ano’ (2006), por exemplo.

Ao ver ‘O Gângster’ (2007), a mais recente produção, não fiquei em cima do muro. Enquadro-a no panteão das obras atingidas no alvo. Baseado em fatos reais e tendo como pano de fundo a Nova Iorque dos anos 1960 e 1970, Scott filmou a trajetória de Frank Lucas, atualmente com 78 anos. Foi herdeiro de Ellsworth Johnson, o chefão do tráfico de drogas no Harlem, bairro pobre de Manhattan. Entre 1968 e 1975, Lucas, um negro rebelde que jamais foi à escola, comprou heroína no Vietnã e as revendeu, puras, naquela região dos EUA, por muitas vezes mais. Em pouco mais de cinco anos US$ 250 milhões estavam com ele. Preso em 1975 e condenado a 70 anos, foi solto em 16 por colaborar com a polícia. Denzel Washington ficou com o papel. Um presente que o ator soube aproveitar bem.

Do lado contrário está Richard Roberts, hoje com 67 anos. Detetive honesto e incorruptível, ele tem a vida difícil. Divorciado, não consegue ver seu filho. A cabeça anda a mil por obrigações com o emprego. Não sabe o que fazer. Mulherengo, seu ímpeto pelo sexo oposto é incontrolável. Roberts é quem investiga o tráfico de drogas em Nova Iorque e chega a Lucas depois de praticamente um ano inteiro de buscas. Curiosamente, o ex-traficante se torna o primeiro cliente do policial quando este se aposenta das investigações e inicia a empreitada de advogado de defesa. Russel Crowe fez Roberts.

O filme rendeu prestígio, mas não troféus. No Oscar, além de Ruby, o longa apareceu somente na categoria de direção de arte. E para realizar a obra foram precisos vários períodos de negociação. Scott foi ‘só’ o terceiro diretor do projeto. Washington tinha recebido US$ 20 milhões em 2004, mas esperou até 2006 para filmar. Benicio Del Toro seria Roberts, mas ficou fora (US$ 5 milhões foram pagos ao ator pois havia o contrato). O orçamento dobrou de US$ 50 milhões para US$ 100 milhões.

‘O Gângster’, na versão estendida (a que vi), possui 2h55 de duração. Os não acostumados aos longos minutos de fita logo desistiriam... Aceitei o desafio e me decepcionei com quase nada. Raros são as cenas que poderiam ser extintas, um equívoco interpretativo aqui e ali, mas no todo o longa é firme tanto na direção como nos pormenores (direção de arte, fotografia etc). Só não entendi porque a atriz Ruby Dee, no papel da mãe de Frank Lucas, recebeu indicação ao Oscar de coadjuvante. Pode ter sido uma homenagem (no mês retrasado completou 84 anos sem parecer ter 84), o que não creio. A ‘Mama’ mal aparece na história e o momento mais impactante é quando discute com o filho e lhe dá uma bofetada na cara. Se for realmente por esta cena, a Academia foi infeliz. Não era para tanto.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 20/09/2009
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