Goles de amor (publicado originalmente em 9/10/2008)
Faz mais de três anos... No longe 10 de agosto de 2005 escrevi uma coluna inteira sobre a atriz Helena Ranaldi. O texto referia-se apenas a seus afazeres em televisão, pois ela jamais havia pisado em cinema. Pois bem. Helena estreou na sétima arte. E de forma aceitável a meu ver, com o charme e o magnetismo típicos dela. Em ‘Bodas de Papel’ (2006), do produtor e diretor André Sturm, está no personagem Nina. A trama é interessante. Criativa diria. Passa-se em Candeias, cidade esvaziada há muito para que ali fosse construída a hidrelétrica. Porém, o governo desiste do projeto. Sendo assim, a população retorna aos poucos à agora cidade-fantasma. Nina, cujo avô era dono do único hotel, é uma das moradoras. Quer reformar o local e ativá-lo novamente ao público. Noutro ponto do roteiro vemos Miguel, o arquiteto argentino. Ele desembarca no mini-município a trabalho. Arrumará a casa de Dona Cecília (Cleyde Yáconis, em participação afetiva). Então, o cheiro de romance paira no ar...
Eis que numa noite de chuva, Miguel e Nina se encontram e... Vocês imaginam. Neste ponto o script é como os demais: a novela cor-de-rosa de cada dia. E tudo caminha bem. O casal apaixonado, seus vizinhos tranqüilos, como Arnaldo (Walmor Chagas) e Humberto (Antônio Petrin). Até que eles completam um ano de namoro, a tal bodas de papel do título. E ela nunca se esqueceu do vô Nonato (Sérgio Mamberti), que lhe contava as histórias. Nina adquiriu igual dom e narra ao namorado muitas aventuras. Pretende casar-se e viver em Candeias. Porém, o destino pensou outra coisa. Uma tragédia recalcitrante cairá e a alterará Nina sem precedentes. Como conviver com isto bem? ‘Bodas de Papel’ tenta nos orientar acerca das perguntas. De certa forma atinge o objetivo. Há respostas incontestáveis.
“Você deve reparar nas pipas dos moleques que voam por aí. Ou sentir o barulho do bambuzal quando ele estiver sem o vento. Pode ainda beber um gole de cerveja bem gelada e demorar a engoli-la, a fim de sentir mais o gosto. Tudo faz parte. É homenagear a vida.” Este belo e sincero discurso é dito por Arnaldo a Nina. O idoso deseja ensinar à jovem os bons frutos que a vida tem a oferecer. A fita de Sturm é inteira assim. Apesar das reviravoltas e traições pregadas por ela, a vida, temos de nos esforçar e amá-la até o fim. Talvez depois idem. O roteiro de Sturm, Flávio Carneio e Adriana Lisboa é delicadíssimo nesta chave. Tênue, aspira soluções a problemas quiçá insolúveis. Nem tudo é sonho.
Um ponto forte de ‘Bodas de Papel’ é a fotografia de Fábio Cabral. Merece aplausos. Imagens realmente excelentes. As cores têm energia, ânimo. As paisagens dotam-se de uma fortaleza incrível. Soma-se à fotografia a atuação surpreendentemente segura de Helena Ranaldi e Darío Grandinetti. O casal de protagonistas se entendeu bem diante das câmeras. Principalmente no caso da atriz, estreante nas telonas. Grandinetti é macaco-velho. Filma desde a década de 1980, entre longas-metragens e as novelas. Mas ela, além de segura, mostrou-se empática. Nas seqüências quentes, não esteve tímida. Sturm soube passar a experiência à ‘novata’ muito bem. Nota-se o toque dele em diversas cenas, bem como tem de ser o bom diretor. A beleza de Helena permanece intocável, uma questão sine qua non.
‘Bodas de Papel’, por ser bem bordado técnica e amorosamente, cativa quem o assiste. Porém, nem todos. Há o ‘ame-o ou deixe-o’ como em qualquer filme. Os detratores apunhalarão a obra com indicativos fracos, frágeis. O longa pode até parecer inconveniente e monótono. Parece, mas não é.