‘A um passo da eternidade’ (publicado originalmente em 10/7/2008)
Mal a Segunda Guerra havia fechado suas cortinas, e até mesmo antes do fim dela, os Estados Unidos montaram enorme estrutura para esboçar as minúcias do confronto. Dos filmes temáticos do assunto, talvez o mais premiado seja ‘A Um Passo da Eternidade’ (1953). Na fita, astros cuja estrela brilhava totalmente à época, casos de Frank Sinatra, Burt Lancaster e Deborah Kerr, estavam ali. Do primeiro, a carreira nos ecrãs já era chamativa. ‘Marujos do Amor’ (1945), por exemplo, com Grace Kelly, foi arrebatador. O segundo tinha somente sete anos de profissão. O longa-metragem seria seu maior sucesso. A terceira, esta sim, era experiente. Fitas como ‘Quo Vadis?’ (1951) e ‘As Minas do Rei Salomão’ (1950) encantaram platéias. Ao se juntarem, o trio levou ‘A Um Passo da Eternidade’ ao topo de tudo. Vencedor de oito Oscars, entre eles de melhor filme, diretor (Fred Zinnemann), ator coadjuvante (Sinatra), atriz coadjuvante (Donna Reed). Impactante, é lembrado por fãs até estes dias.
O pano de fundo é a base general de Schofield, no Havaí. Lá, em 1941, Robert E. Lee Prewitt (Montgomery Cliff), ex-boxeador, se recusa a voltar aos ringues para ajudar o exército. Por isso, ele é maltratado pelos superiores. Seu melhor amigo é o beberrão Angelo Maggio (Sinatra), este sempre encrenqueiro quando lhe chamam de italianinho. Ambos adoram farra. Esperam ansiosamente o dia da folga e partem aos cabarés. Maggio ainda sofre devido a isto nas mãos do sargento Fatso (Ernest Borgnine). À parte destes bons vivants está o casal Milton Warden (Burt Lancaster) e Karen Holmes (Kerr). São amantes, pois ela é esposa do capitão Dana Holmes (Philip Ober). (Muitos se lembrarão da cena na praia na qual os dois, deitados na areia, se beijam carinhosamente. E algum tempo atrás, a seqüência foi usada no comercial das pastilhas Valda. Recordaram?) Então, chega o 7 de dezembro. Naquela manhã, aviões japoneses bombardearam a base de Pearl Harbor. Os EUA entram na guerra.
‘A Um Passo da Eternidade’ é recheado de tragédias, a começar pelo título da obra. A narração gira em torno das incapacidades de cada um dos personagens. Eles têm fraquezas e Zinnemann faz questão de escancará-las. Sinatra especialmente está fulgurante. Aos 38 anos, apresentava um tipo de fragilidade que contrastava com a braveza. Seu 1.70 metro parecia 1.55. Como foi rodado em preto-e-branco, na obra os famosos olhos azuis do cantor-ator não eram tão notados assim. B. Lancaster era diferente. Era 1.85 metro de músculos e força. A direção acertou na escalação dos atores, mas pecou na das atrizes. Kerr contava apenas 31 anos, mas sua aparência estava envelhecida. A maquiagem a atrapalhou. Não se tratava de representar a diva suprema, entretanto a falta de beleza a atingiu com a eficácia soberana. Indicada ao Oscar de atriz, perdeu para Audrey Hepburn, sinônimo de formosura, graça, beleza e elegância – o filme dela: ‘A Princesa e o Plebeu’ (1953), mais uma simples perfeição.
A tese do longa de Zinnemann é a de que, no fim das contas, todos terminam infelizes. Vejam os destinos de Karen e Alma (Donna Reed). Abandonadas por seus respectivos namorados (Warden prefere ficar no posto a casar e Prewitt morre baleado por ser confundido com um desertor). Agudez e ardidez deixadas de lado, ‘A Um Passo da Eternidade’ mereceu os alardes devido aos retumbantes cenários ao ar livre. Os takes do ataque nipônico desassossegaram os espectadores quando o filme foi exibido, afinal de contas os estadunidenses estavam com a brutalidade de olhos puxados na memória. A Segunda Guerra Mundial acabou precisamente com duas bombas atômicas jogadas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. O ‘Pearl Harbor’, sem dúvida, ocasionou isto tudo. E só para o mau.