Um homem, uma lenda (publicado originalmente em 12/6/2008)
No penúltimo dia de julho de 1975, os Estados Unidos receberam pela televisão a noticia sobre o desaparecimento do sindicalista James Riddle Hoffa, então com 62 anos. Desde este dia, o sumiço dele assombra o país da América do Norte, já que o corpo até hoje não foi encontrado. Combatente, insistente, teimoso e turrão, Jimmy, como o homem ficara conhecido, estava às portas de retornar ao seu posto, que o tornou famoso: presidente do Sindicato Internacional dos Caminhoneiros. Dezessete anos após a suposta morte, Danny DeVito resolveu desencavar este mistério. Escalou Jack Nicholson para dar vida a Jimmy, juntou outros atores e montou ‘Hoffa: Um Homem, Uma Lenda’ (1992). Este é, talvez, o filme menos conhecido de Nicholson: aquele raramente exibido na TV (seja ela aberta ou fechada), dificílimo de encontrar em locadoras ou complicado de se achar nos sites especializados em vendas de DVDs. Trata-se somente de uma película biográfica sem quaisquer relances de excelência.
Para realizar a produção, a terceira naquele ano de 1992 na carreira de Nicholson (filmara ainda o fraco ‘Cão de Guarda’ e o mediano ‘Questão de Honra’), DeVito escalou-se como coadjuvante de Hoffa. Interpretaria Bobby Ciaro, personagem fictício que seria o principal parceiro do sindicalista. E não somente Ciaro fora uma das criações do roteiro de David Mamet (o mesmo de ‘Os Intocáveis’, de 1987, e ‘Mera Coincidência’, de 97). Como o desaparecimento de Hoffa ainda não foi esclarecido, DeVito deu liberdade ao roteirista. Este embaralharia os fatos verídicos e falsos. Na caracterização de Nicholson, um nariz modelado lhe foi posto e a sua voz ficou modificada. A similaridade dele com o Jimmy Hoffa real não chega a ser completamente notada, entretanto. Mas as brigas dele com o então senador Robert Kennedy estão no longa, bem como sua supersuspeita de arrecadação de dinheiro no Sindicato. Isto mais tarde lhe valeu uma temporada atrás das grades – mais de uma década recluso.
‘Hoffa: Um Homem, Uma Lenda’ não obteve o sucesso esperado. Era o primeiro trabalho cuja produção ficara por conta de DeVito. O ator, por sua vez, estava envolvido em outros projetos, como a seqüência de ‘Batman’ (1992), onde encarnava o vilão Pingüim. Pode-se afirmar ter sido rodado às pressas? Dificilmente, dado os prêmios a que esteve indicado: dois Oscars (maquiagem e fotografia) e um Globo de Ouro (ator de drama – Jack Nicholson). Porém, a crítica não deu o devido valor. Isto é demonstrado, curiosamente, pela lista do Framboesa de Ouro (o contrário do Oscar, dava ‘troféus’ às piores fitas do ano). Nicholson e DeVito estavam lá: o primeiro como pior ator por ‘Hoffa’ e ‘Cão de Guarda’ e o segundo como o pior diretor (DeVito figurou também na categoria pior coadjuvante por ‘Batman II’). É interessante perceber o peso de cada premiação. O mesmo Nicholson elevado para o Globo de Ouro caiu, exatamente nesta obra, ao Framboesa de Ouro. De fato, entender é tarefa árdua.
“Sim. Eu sou Jimmy Hoffa.” De acordo com DeVito e Mamet, estas foram as últimas palavras do presidente do Sindicato Internacional dos Caminhoneiros. Em seguida, seria assassinado por um jovem ligado ao grupo dos mafiosos Tony Giacalone e Tony Provenzano no restaurante Machus Red Fox, na cidade de Bloomfield, subúrbio de Detroit. Hoffa se encontraria com ambos no local, mas os dois não apareceram. Ele queria retomar o comando do Sindicato, apesar de saber que o motivo de sua saída da prisão após 13 anos, imposta pelo presidente dos EUA Richard Nixon, era o afastamento definitivo de atividades ligadas à associação... Do Machus Red Fox, Jimmy Hoffa teria telefonado à esposa Josephine dizendo que não havia ninguém no restaurante... Afinal, as dúvidas permaneceram.