‘A Malvada’ (publicado originalmente em 6/3/2008)

‘A Malvada’ (1950) é, ao lado de ‘Titanic’ (1997), o filme com mais indicações em todos os 80 anos do Oscar: 14. Mas, devido a tropeços da natureza e algumas cambalhotas, o filme que reforçou Bette Davis como uma das lendas cinematográficas levou cinco prêmios a menos em relação a obra de dez anos atrás. Entretanto, as estatuetas levadas pela história da atriz em decadência que se vê às voltas com a fã nada conveniente foram mais ‘fortes’ às do naufrágio mais famoso da humanidade. A fita em preto-e-branco aglomerou diversos aspectos marcantes à sétima arte. Em primeiro lugar, seu elenco é cintilante. Além de Davis, compõe o drama George Sanders, Anne Baxter e Thelma Ritter. O calibre aumenta quando, aos quase 24 anos, Marilyn Monroe aparece em uma ponta muito tímida. De fato, ela interpreta Claudia Caswell, aspirante a atriz que usa seus dotes físicos para impressionar os demais a volta. ‘A Malvada’, por isto e mais, reflete-se como um longa-metragem de biografias...

Em 1950, Bette Davis vivia um início de decadência. Havia sido das precursoras profissionais do ramo, fundara a Academia de Artes e Ciências em 1927 (foi a primeira mulher a presidi-la), tinha recebido, poucos anos antes, indicações consecutivas ao Oscar (1938 a 1942, somadas tantas outras), enfim, era Bette Davis. Mas os anos passam e a idade bate à porta. Ao filmar ‘A Malvada’, estava em seu 42º aniversário. Não era, assim como Gloria Swanson em ‘Crepúsculo dos Deuses’ (1950), a flor do tempo. E ‘A Malvada’ rodou este roteiro de espelhos. Sua inesquecível Margo Channing era isto, com uma grama extra: a fã Eve Harrington (Baxter) era grudenta e maquiavélica ao extremo – queria roubar o lugar de Margo a qualquer preço. Qualquer mesmo. Porém, esbarraria em obstáculos duros, como o cínico crítico teatral Addison De Witt (Sanders)... A direção imperceptível (por isto mesmo, brilhante) de Joseph Leo Mankiewicz combinou perfeitamente com o tom do filme: corajoso demais.

‘A Malvada’ começa com Eve sendo agraciada com o Sarah Siddons, dos prêmios teatrais dos mais gabaritados. A partir daí, com narração de Witt, a trajetória dela é mostrada ao público, desde a admiração por Margo até a ‘passada de perna’ final. Roteirizado pelo próprio Mankiewicz, o papel da atriz na parte de baixo da carreira esteve cotado para Claudette Colbert (não o aceitou por ter sofrido acidente), Marlene Dietrich, Gertrude Lawrence. Caiu para Davis fazer. Na mosca. Tal como ocorreu com Gloria no mesmo ano. Davis, aliás, arrumou marido no decorrer das filmagens. Seu par diante das câmeras, Gary Merrill (como Bill Sampson), se tornou seu companheiro na vida real, no quarto e último casamento dela. Ah, os Oscars conquistados por ‘A Malvada’ foram de filme, diretor, roteiro, ator coadjuvante (Sanders), figurino e som. Perdeu em atriz (B. Davis e A. Baxter foram juntas), atriz coadjuvante (Celeste Holm e Thelma Ritter juntas), direção de arte, fotografia, edição e trilha sonora.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 06/09/2009
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