Desejo com reparações (publicado originalmente em 28/2/2008)
Um filme tecnicamente admirável, mas frio e arrefecido. Pode-se afirmar que o filme ‘Desejo e Reparação’ (2007), ganhador do singelo Oscar de melhor trilha sonora na festa de domingo passado, é isto. Nada mais. Com paisagens aturdidas e história pretendida a ser inovadora, a fita empolga mais quem é fã de cinema de fato, mas não o público em geral. Na Inglaterra de 1935, Briony, uma garota de 13 anos aspirante a escritora de teatro, denuncia, por ciúmes, Robbie Turner por um crime que ele não cometeu. A calúnia abala a irmã dela, Cecília, apaixonada por Robbie. A vida do trio é alterada em conseqüência da mentira da jovem. Ao longo dos anos, Briony tenta reparar seu erro, seja com as desculpas ou pelo imenso remorso sentido. Ela chega a trabalhar como enfermeira durante a Segunda Guerra Mundial para punir-se de sua derrapagem infantil. A menina tem imaginação fértil para tanto.
Estrelada por Keira Knightley (de ‘Piratas do Caribe’ – 2005 e 2006 e ‘Orgulho e Preconceito’, de 2006) e James McAvoy (de ‘O Último Rei da Escócia’ – 2006), ‘Desejo e Reparação’ deixa assim a desejar principalmente pelas interpretações apagadas dos protagonistas. Keira se mostra apagada e desvanecida. O rosto dela não é para cinema. O convencimento é zero, mesmo porque nem bonita a atriz é. McAvoy emprestou um bocado da neutralidade da parceira de trabalho. Sequer relembrou seu belo personagem que contracenou com Forrest Whitaker quase dois anos atrás. Quem realmente deu algum valor ao longa-metragem foi Saoirse Ronan. Deu vida a Briony na primeira fase da fita. Com poucos minutos de aparição, mas com sinceridade e profissionalismo (nada mais, porém), a indicação ao Oscar veio na categoria atriz coadjuvante. Perdeu. Terá mais oportunidades para mostrar o talento.
Percebemos quando alguém trabalha somente pelo salário ou por amor, pois o dinheiro vem em seguida. O diretor Joe Wright parece se encaixar na opção um. Claro, Wright deve amar a profissão e tudo mais. Entretanto, impediu exuberância de ‘Desejo e Reparação’... A Academia observou isto e não o pôs na lista dos cinco melhores diretores do ano. O filme disputou o Oscar de melhor filme. Ele foi o único diretor dos indicados às obras a ser excluído da reta final. O tom cinza da película é o tom negativo do todo. Cinema pede interpretações à altura da história. O roteiro de Christopher Hampton, baseado em livro de Ian McEwan, é bom. Todavia, os atores não dão o retorno necessário. Por acaso, se mudássemos o nome da fita para ‘Desejo com Reparações (a fazer)’, seria um trocadilho à altura para um longa sem qualquer tipo de empolgação. Seria vitoriar o fracasso por um triz de Joe Wright.