Gestação original (publicado originalmente em 21/2/2008)

‘Juno’ (2007) estréia só amanhã no Brasil, mas a pré-estréia acontece desde sexta-feira passada. De início, um teor preconceituoso pode soar sobre ele: é daqueles filmes de adolescente. Bobagem. Já nos créditos iniciais, vemos a criatividade rondar a história. Letreiros desenhados misturando-se à personagem principal, a do título, interpretada com garbo e elegância por Ellen Page (hoje ela faz 21 anos). Na fita, aos 16, num dia de ócio puro, Juno decide farrear com Paulie Bleeker (Michael Cera), seu melhor amigo, nerd e atleta. Da ‘gozação’ vem o ingrediente que recheia todo o longa-metragem: a gravidez. Deste instante, passando pelas estações do ano, a adolescente decide não querer o filho. A decisão é doá-lo a algum casal maturo, quem sabe, formado por um guitarrista e uma ‘dona-de-casa’.

E nos classificados, ela encontra o anúncio de Vanessa e Mark Loring (Jennifer Garner e Jason Baterman), casados, sedentos por rebentos, mas que tentaram por cinco anos e nada. Desta feita, Juno simpatiza com eles e pronto: agora basta aguardar nove meses e entregar de bandeja “tudo aquilo lá”.

‘Juno’ é candidato a quatro Oscars: melhor filme, diretor (Jason Reitman), atriz (Ellen), roteiro original. Merece o quarteto. Tem linguagem original, cheia de gírias e respingando inteligência para todos cantos. O roteiro é de Diablo Cody, uma ex-prostituta americana, como Bruna Surfistinha dos Estados Unidos. A produção independente rendeu frutos. As comparações com outro filme de igual categoria, ‘Pequena Miss Sunshine’ (2006), é razoável até certo ponto. O drama de dois anos atrás foi feito para crianças. ‘Juno’ concebeu-se sobre crianças, mas para público adulto. A trilha sonora quase cai na mesmice dos longas teens, mas consegue emergir junto com 96 sinceros minutos da história. O rock meloso e as discussões intelectualóides sobre filmes de terror trash ajudam a catalisar o sucesso.

Sabemos que Juno não está preparada para ser mãe. Olhamos sua família: o pai, a madrasta e a irmã mais nova. Notamos seu carinho por Paulie. Encaramos seu problema de frente. Tudo isso soa e é meio desproporcional àquela vida pacata de jovem, que se restringe a ouvir música, ir à escola e às paqueras. Vemos Juno com sua enorme barriga. Ela, a barriga, não combina com o rosto de criança da prematura mãe. Porém, acontece. É pela tamanha hipocrisia em não desejar o tipo de assunto nos lares que ‘Juno’ é tão preciso. Esta ‘gestação original’ é doce. Os personagens bem dirigidos deixam-na assim. Há momentos lindos, sem clichês. A cena final tem a doçura dos tons mais infantis e puros possíveis. Um estalo cinematográfico que surgiu em ótima hora. Bonito, simples e falso sentimental.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 06/09/2009
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