Mais dos Coen (publicado originalmente em 7/2/2008)

‘Onde os Fracos Não Têm Vez’ (2007), nos cinemas brasileiros desde sexta-feira passada, é um primor. Desde a primeira cena até seu desfecho seguro e de alto despiste, mostra-se com a força de se poder tornar uma das melhores obras realizadas na década. Na direção, os irmãos Coen: Ethan e Joel. A dupla, depois de ter realizado ‘Fargo’ (1996), fita praticamente rodeada pelas travessuras deles (o ponto alto foi afirmar ser ‘Fargo’ baseado em fatos reais, o que era invencionice), patinaram várias vezes em obras duvidosas, como ‘O Amor Custa Caro’ (2003) e ‘Matadores de Velhinhas’ (2004). E ano passado os Coen acertaram em cheio em diversos alvos: roteiro, elenco, fotografia, locações etc.

Javier Bardem, sem qualquer dúvida, encara seu principal papel e o desempenha com os traços fulgurantes. Ele é Anton Chigurh, assassino cruel, perverso e cuidadosamente penteado pelos irmãos Coen. Seu estilo ‘chapinha’ anos 1980, claro, não combina com seu ângulo vil. Chigurh atira caso se incomode com algo. Ponha na lista deste ‘algo’ quem cruzar seu caminho em busca de uma valise de 20 milhões de dólares, capturada por Llewelyn Moss (Josh Brolin), ex-combatente no Vietnã e nada esperto. Moss acha a mala após quase presenciar uma chacina decorrente do tráfico de drogas. Foge. Sabe que logo o procurarão para reaver o montante. Assim, manda a esposa mudar de casa e inicia a jornada do destino incerto. Todas as suas trapalhadas são incorporadas por Anton Chigurh, o ser frio.

O xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones, com mais um de seus personagens iguais, o do tira durão e de sorriso ausente) acompanha as desventuras de longe, enquanto também tenta prender um bando de mexicanos envolvidos com drogas... Entretanto, quer se aposentar logo e está desanimado com o novo mundo que se anuncia, onde as armas valem mais que palavras de autoridade. Tudo isso acontece no Texas em 1980 e é posto para o público. No longa, Bardem fala pouco, mas o suficiente para espantar pombas da paz. Seu talento lhe rendeu sua segunda indicação ao Oscar, de melhor ator coadjuvante (a primeira foi há oito anos por ‘Antes do Anoitecer’). ‘Onde os Fracos Não Têm Vez’ encabeça mais sete postos: filme, direção, fotografia, roteiro adaptado, edição, som e edição de som.

Fãs de filmes água-com-açúcar de decepcionarão com o filme dos Coen. É bom que seja desta forma. Para o bem ou para o mal, longas-metragens são feitos para provocar. E isto os irmãos sabem aprontar quando querem, como foi com ‘Fargo’ e a policial grávida Marge, interpretada por Frances McDormand (na vida real, esposa de Joel), ganhadora do Oscar de melhor atriz daquele ano. Bingo!

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 05/09/2009
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