Primeira Arte (publicado originalmente em 24/1/2008)
‘Eu Sou a Lenda’, filme com Will Smith protagonista, estreou esses dias no Brasil. O ator, para promover a fita, veio nos visitar e ficou algum tempo aqui. O longa, entretanto, é mais uma repetição das obras sobre catástrofe que os Estados Unidos fazem a esmo. Depois de enchentes avassaladoras (‘O Dia Depois de Amanhã’ – 2004), asteróides assassinos (‘Armagedon’, de 1998, entre outros) e os furacões do cotidiano, a bola da vez é o vírus potente. Ele dizimou 90% da população da Terra. Dos 10% restantes sobraram somente 12 milhões de pessoas ‘normais’. Todos os demais 588 milhões são seres irracionais, infectados pela doença, mas que conseguiram sobreviver e só atacam ao anoitecer.
Smith é Robert Neville, cientista da polícia. Ao ficar imune, vive em Manhattan, cidade agora deserta e recheada daqueles humanos débeis. Deste ponto de partida, o roteiro segue os padrões dos dramas de terror: sustos bem programados, instantes de desolação, emoções pró-norte-americanismo. Tudo bobagem. No passar dos minutos, vem a sensação de ‘já vi isto antes’ e ‘não agüento mais tanta fantasia’. Existem gostos e gostos, porém, cansei deste tipo de filme. Sabemos como termina e vamos ao cinema apenas para gastar nosso precioso ouvido. Will Smith tem carisma, é esforçado e mereceu trabalhar em ‘Eu Sou a Lenda’ por ser uma fita dele. Ele a carrega nas costas com bastante firmeza.
A película tem ingrediente verde-amarelo: Alice Braga, sobrinha de Sônia Braga, atua na parte final da trama como a salvadora de última hora de Neville. Como Anna, ainda não exibe a herança da tia famosa. Francis Lawrence, o mesmo de ‘Constantine’ (2005), outro longa absurdo, é o diretor. Há quase seis anos, em 2002, ‘Eu Sou a Lenda’ era para ter saído da gaveta, com Smith ainda como sua prima-dona. Um projeto paralelo dele impediu o prosseguimento. Mas não se deixe enganar com as propagandas sobre a fita. Hollywood ultimamente, em seu bolo central, sofre de extremíssima falta de criatividade. E, quando isto aperta, apela-se para as tragédias baseadas nos efeitos especiais. Haja!
Para ver cinema é necessário gostar de cinema... E, por mais incrível que pareça, precisa-se do silêncio. E de atenção. Neste aspecto, detalhadamente, ‘Eu Sou a Lenda’ merece cinco estrelas. Não é só. A sétima arte – na minha visão é a primeira – expõe lendas em telonas. As pessoas importam, o efeito especial, menos. A obra de Lawrence e Smith deixa a desejar quanto à parceria com o público. Ao mesmo momento em que prende a atenção, nos larga, sozinhos, com uma história boba nas mãos.