Amor e amar demais (publicado originalmente em 10/1/2008)

Até onde vai sua capacidade de amar? Agüentaria esperar tanto pela pessoa amada? Caso você responda positivamente, quanto tempo seria o período suportável? Um mês, dois anos, três décadas? O escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez esboçou esta solução no livro “Amor nos Tempos de Cólera”, publicado em 1985. Ele estava com 57 anos. A transposição à telona demorou 22 anos para ficar pronta. Logo compreendem-se os motivos. Há algumas semanas estreou no cinema. Com elenco espanhol, americano e brasileiro, o filme é contagiante, mas fraco. Javier Bardem (de “Mar Adentro” –2004) interpreta Florentino Ariza, o ingênuo e esperançoso moço que se apaixona por Fermina Daza (Giovanna Mezzogiorno) e não tem o amor correspondido, após aguardar anos por ela. Fernanda Montenegro faz Tránsito Ariza, mãe do pobre Florentino. A trilha musical fica por conta de Shakira.

Captar o íntimo da obra literária não é para qualquer um. O veterano diretor Mike Newell, 65 anos, conhecido por seus trabalhos na televisão, teve a experiência (fajuta) em 2005, com o tacanho “Harry Potter e o Cálice de Fogo”... Agora, numa obra mais sóbria e séria, teve de se desdobrar para arrancar do elenco os vários mínimos retoques que as linhas de G. Márquez exigem... Para o produtor Scott Steindorff, a tarefa foi mais complicada. Partiu dele a idéia de levar a trajetória voluptuosa de Florentino à sétima arte. Foram três anos de conversas com o escritor ganhador do prêmio Nobel por “Cem anos de Solidão” (publicado em 1967). A história, com cenas quentes, mas ‘morais’, deixa a desejar ao longo da trama. A maquiagem, idem. Atores de nacionalidades diferentes é outro fator a deteriorar a qualidade do enredo. Não se fazem mais adaptações literárias como antigamente mesmo.

Fermina rejeita Florentino e se casa com Juvenal Urbino, jovem médico combatente da cólera. Têm filhos. Anos se passam. São mais de 51. Quando Urbino morre, Ariza, agora um senhor com os 70 e poucos anos, corre para o colo de Fermina, que, novamente, o põe para fora de casa. Por pouco tempo. Nada desses arranjos servem para melhorar o esforço de Newell. E não se enganem quanto a reprodução de época. Bardem e Fernanda, vejam só, deixam se contaminar pelas demais maçãs ruins da fita. Fica nítida a situação de que quando se começa algo errado, ele continua errado e piora assim que os minutos voam. ‘Amor nos Tempos de Cólera’ vale a pena ser visto somente pela bela história. O amor que rompe barreiras... Até que ponto a obsessão de Florentino por Fermina pode ser contida, segura? Quais os limites para se gostar de alguém? Há certezas. Mas o filme de Newell não as exibe.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 04/09/2009
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