Prever a obra de prateleira (publicado originalmente em 1º/11/2007)

Há muito não escrevo aqui sobre um filme ruim que vi. Hoje é o dia. Fujam de “O Vidente”. A fita estreou esses dias e é péssima. Logo após de sair da sala, ainda com pensamentos de asas por aí, não me dei conta do que era a fita estrelada por Nicolas Cage. Aliás, tenho a impressão de que após ver tantos longas-metragens criei um faro peculiar para avaliar as fitas antes de vê-las. Isso acontece por causa da prática e da repetição, e é, no meu entender, uma qualidade. “O Vidente” engloba todos os ingredientes de um filme tipicamente decadente logo após sua primeira exibição. Tem variedade imensa de chavões, cenas de ação batidas, história sem-vergonha e o que é pior: desrespeita a cabeça dos espectadores.

Cage é Frank Cadillac, o mágico dos botequins. Existe um dom nele: prever ação com dois minutos de antecedência. Ao saber da iluminação, a policial Callie Ferris (Julianne Moore, que após “As Horas”, de 2002, nada mais fez de importante no cinema, mais uma prova, “O Vidente”) resolve procurá-lo para uma missão (oh! Vejam a novidade agora): destruir bomba que explodirá nos Estados Unidos – bomba esta colocada por terroristas franceses! Chegamos, enfim, ao caos de Hollywood...

Depois de assistir a película, corri para ver seu orçamento: 70 milhões de dólares. Não consigo compreender como podem gastar tanto dinheiro com tal coisa. A fita é tão descrente de fundamentos que, para ser a certeza de sua ineficiência, basta esperar para acompanhar o desfecho. Uma sucessão de colisões, perseguições etc. Tudo descamba para a mais pura categoria “é só o que sabemos fazer”. E a surpresa final, a gente já supõe qual quando se trata de um filme desses, de fato não é surpresa alguma. “O Vidente” ainda tem romance. Não poderia faltar.

Tudo pode ser muito bem previsto pelo público. Não nos esqueçamos da direção esquisita de Lee Tamahori, o mesmo de “007 – Um Novo Dia Para Morrer” (2002) e o tal “Na Teia da Aranha” (2001, outro filme de espetáculos bem constrangedores). Os atores de “O Vidente” – o trio completa-se com a atriz Jessica Biel – parece representar a novela mexicana, tamanho são os olhares e trejeitos exagerados, por exemplo: “Salvarei você, querida”. A mocinha responde: “Meu amor, Luiz Rafael!” O roteiro foi feito por meio da história do ator Gary Oldman. Nicolas Cage produziu a fita. Quando atores médios como ele se propõem a ficar fora da tela, algo pior sempre corre o risco de florescer. E este caso ilustra bastante.

Fraco, “O Vidente” será outra obra de prateleira. Ao ser lançado em DVD, ficará à luz daqueles locadores de fitas ‘cabeças-ocas’. Filme sem conteúdo, sem chamariz, sem força de vontade na sua elaboração. Longa-metragem sobre o mundo das previsões, os produtores, realizadores, isso vale aos atores e diretor, deveriam antever o fracasso total. Frank Cadillac é charlatão, assim como Cage o é.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 01/09/2009
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