De novo, sem chances no Oscar (publicado originalmente em 11/10/2007)
O Ministério da Cultura escolheu, alguns dias atrás, o filme “O Ano em que meus Pais Saíram de Férias” (2006) para representar o Brasil na concorrência de uma das cinco vagas da categoria fita em língua estrangeira que disputará o Oscar 2008 (a festa será dia 24 de fevereiro; o anúncio de todos os indicados ocorrerá em 22 de janeiro). Vi o longa-metragem domingo passado. Não é uma história como outra qualquer, mas também é um roteiro cujo drama estamos cansados de assistir. Mauro, de 12 anos, mineiro, não sabe, mas seus pais são fugitivos da ditadura militar (1964-1985). Dizem para o garoto que ‘sairão de férias’. Daniel, o pai, promete ao filho retornar perto do início da tão sonhada Copa do Mundo de 1970. Neste ínterim, estamos em janeiro daquele ano. Levam Mauro (a revelação mirim Michel Joelsas) para ficar com o avô, Mótel (Paulo Autran). Porém, uma fatalidade fará com que o pré-adolescente migre para a casa de Shlomo (Germano Haiut), judeu fervoroso, como seu avô.
Pronto. Formada a patota, juntada pela esperta Hanna (a perfeita Daniela Piepszyk), Mauro está para torcer pelo tricampeonato do Brasil, e, ao mesmo tempo, aglomerar lágrimas pela saudade dos pais. Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger (o diretor) demoraram quatro anos para finalizar o roteiro, baseado em história de Galperin e Hamburger. Não necessitava de tanto. A trama torna-se, ao longo da fita, simples e metódica. Sabemos qual será seu final, ainda que este pode não ser o melhor. Talvez o Ministério tenha se inspirado na indicação de 1997, quando “O Que é Isso, Companheiro?” figurou na lista dos cinco filmes estrangeiros no Oscar. “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” aborda, com igual ou maior intensidade, sublime, a época de terror da ditadura brasileira da década de 1970. Semelhante enredo a “Pra Frente Brasil” (1983). O assunto é a Copa de 70 também. A resposta, deveras, na ponta de língua: estatueta aqui no próximo ano, não.
A película de Hamburger é boazinha. Entretanto, nada possui de cacife para correr lado a lado com medalhões que venham da Europa, por exemplo. Ou da África. Como derrotar filmes franceses, holandeses, alemães, iranianos? Os cineastas tupiniquins precisam aprender, urgente, a fazer cinema sem se ater ao olho mágico do Oscar. Sem se preocupar se esta ou aquela tomada ou um determinado corte na edição final poderá interferir caso o filme seja apontado pelo Ministério. Nada disso é certo. Perguntem ao quase nonagenário Anselmo Duarte se pensava na Palma de Ouro de Cannes ao rodar cenas de “O Pagador de Promessas” (1962). Esta fissura brasileira de arrebatar de uma vez por todas o troféu dourado da Academia só prejudicou o país até hoje. Não se pode ter maneirismos na vitória. “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, duvido, sequer chegará no top five. E, se alcançar esta meta, sairá da cerimônia com mãos abanando, como aconteceu com outros brasileiros que foram lá.