Princesa Grace (publicado originalmente em 27/6/2007)
Poucos sabem como a atriz Grace Kelly se transformou na princesa de Mônaco. Alguns, nem sabem quem é Grace Kelly, e tampouco onde fica o tal principado de Mônaco. Outros, lembram de lá pela sede de uma das mais esperadas corridas de Fórmula 1. Mas me aterei à linda e charmosa Grace. Em 1954, o público dos ecrãs já assoprava as mãos de tanto aplaudirem-na por “Janela Indiscreta” e “Disque M para Matar”. As duas obras de Alfred Hitchcock estamparam no rosto dos espectadores a face límpida e fria da heroína que tanto o Mestre do Suspense procurava: loira gelada e fatal. Assim, convidou-a, ou convocou-a, para seu projeto seguinte: “Ladrão de Casaca” (1955). Aos 26 anos, ela se transformara na atriz preferida de um dos principais ícones de seu tempo. Depois de ter atuado ao lado de James Stewart, trabalharia com Cary Grant. Estilos diferentes, segundo o próprio diretor. Um era sério demais, com expressões fechadas e misteriosas (Stewart). O outro, debochado e com o lado humorístico saltando das veias, sempre com seu tipo desajeitado. Aceito o pedido por parte de Grace, as filmagens não tardaram a iniciar. E o local escolhido era o dos sonhos: toda a Riviera Francesa.
No roteiro de John Michael Hayes, baseado em livro de David Dodge, John Robie é ex-ladrão. Após ter defendido os Estados Unidos na II Guerra e praticado inúmeras vezes os furtos de jóias, ele resolve pendurar as luvas e se isolar numa enorme mansão na França. Porém, em um dos hotéis mais requintados das redondezas, acontecem, dia após dia, o desaparecimento de valiosíssimas jóias. Nos casos, a maneira de como as pratarias foram afanadas lembram, e muito, as maldades de Robie, que ficara conhecido, por suas habilidades motoras, como ‘o Gato’. Deste modo, temos aqui a equação do Mestre do Suspense: acusação sobre, supostamente, o homem inocente. Robie decide provar não ter nada a ver com desesperos das madames hóspedes. Para tanto, necessita da ajuda de H. H. Hughson, empregado de uma seguradora de jóias. O ‘Gato’ pretende montar uma armadilha para o gatuno. As vítimas serão Jessie e Frances Stevens, mãe e filha. Robie (Stewart) se deixa levar pelo assanhamento de Frances (Grace), que o beija logo no primeiro encontro. Aos poucos, percebe-se que o ex-afanador está mais atrapalhado do que se esperava. Seu segredo estará logo desvendado em seus planos sutis...
Durante o processo de confecção do filme, Hitchcock e os dirigidos gastaram solas passeando na Riviera. A fita propriamente dita tem imagens espetaculares. Nos extras do DVD, por exemplo, é exibida a cena em que Frances não se agüenta de tanta emoção e diz: “Não há o mundo outro lugar mais belo do que este.” A frase, dizem, seria a homenagem do Mestre do Suspense à beleza daquele paraíso terrestre. E não tão somente se apaixonar por aquele espaço colorido. O príncipe Rainier que o diga. Cinco anos mais velho que Grace, herdeiro de uma das mais respeitadas dinastias, ele caiu de joelhos ao ver a protagonista predileta de Alfred Hitchcock. Demoraram pouco mais de um ano para se casarem, em 19 de abril de 1956. No matrimônio de 26 anos (Grace morreu tragicamente aos 52 anos, 1982, em acidente de carro nas ruas do principado, ao sofrer, ao volante, um derrame cerebral), três filhos vieram: Caroline (atualmente com 50 anos), Albert (49) e Stephanie (41). Entretanto, uma outra unidade se rompeu: a parceria Kelly – Hitchcock. Obstinada em cuidar dos rebentos, a atriz se recusou definitivamente a filmar, para desgosto e depressão do diretor inglês. Triste fim para ambos.
Para o público, idem. Grace Kelly filmaria somente mais duas vezes. Em 1956, foram lançados “O Cisne” e “Alta Sociedade”, derradeiras atuações da estrela hollywoodiana que mais brilhou pela beleza em comparação com seu trabalho performático. Parece que Hitchcock previa... Afirmou, certa vez, que Grace “nunca esteve tão bonita” como em “Ladrão de Casaca”. Portanto, quem deixar de ver este longa, perderá a essência de Vênus. O último filme dela de mãos dadas com o mestre Alfred.