Esperanças (publicado originalmente em 7/2/2007)

Tanto em “Pequena Miss Sunshine” quanto em “À Procura da Felicidade”, que estrearam dias atrás no Brasil, têm um aspecto em comum: a busca pela esperança de seus protagonistas. No primeiro, a minúscula Olive (interpretada brilhantemente pela atriz mirim Abigail Breslin), fascinada por concursos de miss, tenta concorrer na disputa que dá título ao filme. No segundo, Chris Garner (também feito com bastante esmero pelo surpreendente Will Smith) é um homem que quer dar uma vida melhor a seu filho e a sua esposa, mas luta contra os percalços do cotidiano. Comparar ambas as fitas não é um trabalho fácil exatamente porque elas não são paralelas entre si, mesmo tendo esta semelhança da esperança. Mas dá para se fazer um estudo cuidadoso sobre o comportamento destes dois personagens, cujos atores estão na lista dos indicados ao Oscar deste ano (Abigail concorre entre as coadjuvantes e Smith no ator principal). A dupla domina os longas-metragens por suas boas atuações e carismas exagerados. Abigail, que estreou aos seis anos de idade em “Sinais” (2002), é cativante, além de talentosa. Já Smith reina solitário na trama dirigida pelo italiano Gabrielle Mucino.

Em “Pequena Miss Sunshine”, uma família anormal viaja dentro de uma Kombi para assistir ao tal concurso de crianças. Estão a mãe controladora (Sheryl, a atriz Toni Collete); o pai, criador de um programa de nove passos para 'vencer na vida' (Richard, o ator Greg Kinnear); o tio suicida (Frank, feito por Steven Carell); o avô viciado em drogas (Alan Arkain, indicado ao Oscar de ator coadjuvante); e o irmão mais velho que fez voto de silêncio Nietche Dwayne (Paul Dano). Juntos, cada um representa um sentimento: compaixão, derrota, veneração e insatisfação. A menina Olive seria um contraponto a todos eles, com seus sentimentos aglomerados. Para a escolha da miss Sunshine, a garota não tem como ganhar: é feia, usa óculos enormes está acima do peso. Mas quem se importa? Afinal, o roteiro serve precisamente para cutucar estas eleições mirins, nas quais os pais transformam seus filhos em anões supermaquiados. Treinada pelo avô, Olive surpreende os espectadores do concurso com sua apresentação ousada. O longa é dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, marido e esposa, que demoraram cinco anos para conseguir emplacar esta história tão fascinante na tela grande. Com o sucesso, a fita independente se candidatou a quatro estatuetas.

No “À Procura da Felicidade”, Garner patenteou e agora vende um raio-x ósseo de valor muito caro no mercado. Assim, os médicos o consideram um luxo desnecessário a seus consultórios e deixam Garner a ver navios. Desesperado, procura alguma forma de sustentar o filho Christopher (Jaden Christopher Syre Smith, de oito anos, filho de Will Smith na vida real) e a esposa Linda (Thandie Newton), que só reclama da miséria da família. Com um revés atrás do outro, Garner arruma estágio não remunerado em uma corretora de ações. O filme possui todos os ingredientes necessários para os típicos enredos de superação: sofrimentos seguidos, fundo do posso, e, no fim, a superação por meio do trabalho duro. Smith produziu a fita, baseada na história verídica de Garner, hoje um milionário do ramo das ações. A meu ver, “À Procura da Felicidade” merecia mais sorte no Oscar. Além de Smith, o roteiro poderia ser apontado entre os finalistas. Mesmo assim, é pouco provável que Smith, que envelheceu para o papel, ganhe o prêmio máximo do cinema que acontecerá em Los Angeles dia 25. Seu passado de filmes ruins não o ajudará neste ponto crucial de sua extensa carreira.

Pode-se afirmar que “À Procura da Felicidade” seja uma produção independente, assim como fiz referência a “Pequena Miss Sunshine”. Trata-se de duas obras que tiveram seus lançamentos pouco divulgados e que estouraram nas bilheterias norte-americanas. Há críticos dos Estados Unidos que afirmar ser reais as chances da história de Olive se transformar em Oscar de melhor filme, o que seria uma baita surpresa, tal como a do ano passado, quando “Crash” (2005) saiu vencedor. Como a Academia de Artes Cinematográficas parece estar girando neste rumo, as chances desta trama seguem no sinal verde. Isso é perfeito porque “Pequena Miss Sunshine” é um belo trabalho, que demorou a ser reconhecido. A denominação de filme 'não-comercial' lhe cairia bem antes da estréia. Agora, não mais. “À Procura da Felicidade” também. Mas este menos, por se tratar de fazer brilhar apenas uma estrela (Will Smith), e não um conjunto, como acontece na película de Jonathan e Valerie, onde se destacam todos os atores. São roteiros bem escritos que seguram firme os filmes e que valem a pena o prestígio do público.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 11/08/2009
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