Muita imaginação (publicado originalmente em 25/10/2006)

É difícil, à primeira vista, entender o filme “A Casa do Lago” (2006). Dois mundos distintos se colocam para o espectador: de um lado, a solitária médica Kate Forster (Sandra Bullock); do outro, o arquiteto melancólico Alex Wyler (Keanu Reeves). A porção torta se dá pela mera diferença entre ela e ele: 24 meses. Pode-se resumir a fita dessa forma – Kate morava em uma bela casa à beira do lago; depois, sem muitas explicações, começa a trocar correspondências com o novo inquilino do local, o arquiteto. Mas, para espanto de alguns, existe uma barreira de tempo que divide a dupla. Alex vive os seus dias em 2004, enquanto a doutora tem seu cotidiano em 2006. Estranho? Claro. Um ao outro, as cartas são enviadas. Não se sabe como chegam ao destino. Tampouco de que maneira isso é possível. Porém, acontece. O mais espantoso é como se dá tal situação. A caixa de correspondência parece ter vida e age para avisá-los de que a resposta aterrizou ali. Seria, trocando por um exemplo da internet, uma conversa do tipo ‘mensagem instantânea’, ou por MSN, nome daqui do Brasil. A estranheza fica persistente? Fica. Para ajudar na questão, aparece o irmão de Wyler, Henry (Ebon Moss-Bachrach), e o pai deles, Simon (interpretado pelo ator Christopher Plummer, que na certa aceitou este papel pois devia alguma coisa na praça e não tinha mais para onde correr senão a este trabalho). Ambos – Henry e Simon – são também arquitetos, mas com personalidades diferentes. A mãe morreu anos atrás.

O roteiro, de David Auburn, baseado em roteiro de Ji-na Yeo e Eun-Jeong Kim, é complexo a esmo. Além disso, a direção do argentino Alejandro Agresti deixa bastante a desejar. E o manejo de Agresti é pior porque são basicamente dois atores (Bullock e Reeves, com talento um tanto discutível das duas partes). O diretor, cuja película de maior sucesso até então foi “Valentin” (2004), ingressou em Hollywood com o pé esquerdo. De querer rebuscar a fita várias vezes, transformou o enredo, que poderia ser interessante, num desastre homérico. Nem a presença da iraniana Shohreh Aghdashloo (a mesma de “Casa de Areia e Névoa”, de 2003), que dá vida a companheira de trabalho de Kate, Anna, salva a trama. E quanto mais o filme se arrasta, mais confuso fica. São cenas que não se conectam, a sensação de que algo sempre está para se explicar, enfim, nada tem ligação com nada. A impressão que fica é a de um longa-metragem rodado às pressas, sem prestar contas para os mais interessados: as pessoas que gastam seu dinheiro para assisti-lo. Começa do elenco. Como já citei, Sandra Bullock e Keanu Reeves são atores cuja confiança não dá para se ter. São intérpretes medianos. Para segurar bem a fita, devia-se procurar outro tipo de profissional, por exemplo, Nicole Kidman, Russel Crowe. Eles sim agüentariam bem a história porque são artistas fortes. “A Casa do Lago” não ficaria à mercê de distrações. É o que acontece quando Bullock e Reeves atuam. Fracos, comprometem o caminho.

Com fim extensamente comum e sem graça, o longa perdeu a chance de brilhar sob os aspectos mais positivos. Fincou bandeira do contrário em diversos quesitos. Se, como escrevi, à primeira vista o filme é difícil de entender, quando minutos se desenrolam na telona, o público vira de cabeça para baixo. Mesmo assim, ou com forças sobrenaturais, nem um mouro conseguiria. Quando os créditos surgem, anunciando o fim da história, não se sabe em qual ano a trama acaba, se Wyler é fantasma, se a própria Kate é uma reencarnação... Nesse caldeirão, cabem infinitas idéias. Menos a melhor. As inspirações de Agresti não foram as mais auspiciosas. Sejam elas as mais criativas. De nada adiantou manobrar o roteiro a seu bel prazer. “A Casa do Lago” soa, em uma concepção comparativa, com um outro trabalho de Keanu Reeves, “Doce Novembro” (2001). Películas com este viés não me agradam. O cinema hollywoodiano ultimamente tem deixado a desejar neste ponto. Pares românticos com a tal simpatia e carisma têm sido raros. Aliás, agora não me recordo de recentes. Talvez a musa Scarlett Johansson e Jonathan Rhys-Meyers em “Ponto Final” (2005). Ou, para ir um pouco mais longe, Meg Ryan e Billy Crystal em “Harry e Sally – Feitos um para o Outro” (1989). Sem se esquecer, claro, de Ingrid Bergman e Humphrey Bogart em “Casablanca” (1943), que são ‘hours concurs’. Dica: vejam “A Casa do Lago” e esqueçam. Não vale a pena quebrar a cabeça por algo tão maluco ou estúpido. Repito: vejam e esqueçam.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 05/08/2009
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