Um filme ‘de casa’ (publicado originalmente em 13/9/2006)
Existem certos filmes cujos conteúdos qualquer família pode apreciar. Os musicais infantis dos anos 1960, por exemplo, estão nesta lista. As histórias do Superman (1978) e Batman (1989), pegam mais as crianças, mas os adultos não perderão tempo se assistirem. Há uma fita de 1987 nesse estilo ‘familiar’. Contém uma trama envolvente, atores revelações, música que tempo depois ficaria muito conhecida pelos adolescentes e, evidentemente, um casal apaixonado com final feliz. Refiro-me ao musical romântico ‘Dirty Dancing’, renomeado no Brasil para ‘Ritmo Quente’. A trama revelou para o mundo o ator Patrick Swayze, o qual triplicaria sua popularidade dois anos após o lançamento desta fita, desta vez com ‘Ghost – Do Outro Lado da Vida’ (1990). ‘Ritmo Quente’ conta como foram as férias de Frances, uma garota de quase 20 anos. Junto com os pais e a irmã mais velha, vai para um hotel-fazenda, onde conhece Johnny Castle, um jovem de origem latina, instrutor de dança do hotel. ‘Ritmo Quente’ aborda as festas que ocorrem no setor dos empregados. Estas diversões são proibidas pelo proprietário do lugar. Mas quem se importa? E é numa dessas festas que Frances, com a ajuda de um garçom, adentra ao mundo da dança, do molejo e da música. Dessa forma, a paixão começa. E rende praticamente a metade dos 100 minutos da duração. Não é necessário muito para se contagiar.
Curiosamente, os dois filmes nos quais Swayze se consagrou se tornaram vencedores de Oscar. ‘Ghost’ arrebatou duas estatuetas: atriz coadjuvante (Whoopi Goldberg) e roteiro original. Já ‘Ritmo Quente’ foi galardoado com troféu de melhor canção original, com a famosa ‘The Time of my Life’. Aliás, esta música foi inserida no filme em um momento instigante: o fim. Quem viu as seqüências finais da trama jamais se esquece das cenas entre Swayze e Jennifer Gray, que deu vida a Frances. Os momentos dançantes ficaram na memória de todos. Isso fez o filme ser relançado no cinema há nove atrás a pedido dos admiradores de ‘Ritmo Quente’, em uma votação para a televisão. É parecido com o que aconteceu com o já citado aqui ‘Superman’, em 2003, quando completou aniversário de bodas de prata, e ‘O Exorcista’, reexibido em 1998 também ao soprar as velas de 25 anos de lançamento. E os exemplos se multiplicam. ‘Ritmo Quente’ foi mais um. O diretor Emile Ardolino coroou sua breve e ofuscada carreira com a película de 1987. Ele morreu em decorrência da Aids aos 50 anos, no fim de 1993. Havia rodado apenas 14 filmes em 16 anos de trabalho, entre 1976 e 1993. Nenhum desses trabalhos foi tão reconhecido como ‘Ritmo Quente’. Morreu esquecido da mídia. Caso igual ocorreu com Jennifer Gray. Atuou no ultrafiasco ‘Cotton Club’ (1984), ao lado do galã (será?) Richard Gere.
São bem poucas as pessoas que viram ‘Ritmo Quente’ e viram-lhe as costas. Há quem defina a fita como ‘melada’ demais, ou ‘água-com-açúcar’, para expressar aquela história comum em tudo. E não é verdade. O roteiro, muito bem habilitado por Eleanor Bergstein, mescla passagens de comédia, outras de drama, com pitadas de romantismo e uma boa dose de música. Por isso insisti em qualificá-lo como filme ‘de família’. Ou, se preferirem, filme ‘de casa’. O espectador que alugá-lo pode trazer filhos, primos, namorada, mãe, pai... Nenhum deles sairá da sessão reclamando. Nas cenas decisivas, são raros aqueles que não se emocionam. Swayze e Gray tiveram uma sintonia muito rara de se ver por aí. Algo semelhante a Billy Crystal e Meg Ryan em ‘Harry & Sally – Feitos um para o Outro’, de 1989. Ou Humphrey Bogart e Ingrid Bergman no eterno ‘Casablanca’ (1943). É esse tipo de sintonia, a fina, a de qualidade, que Swayze e Gray apresentam. ‘Ritmo Quente’ tornou-se cult. Guardou bem seu lugar nas prateleiras dos mais belos filmes de amor dos últimos 30 anos. Apesar de a continuação ser péssima (de 2004), a história das duas pessoas dançarinas de quase 20 anos atrás cativou a todos. O par que se formou se consagrou de uma forma inigualável. Jennifer Gray e Patrick Swayze jamais serão atingidos nisso. Insubstituíveis. Dançarão para sempre nas nossas memórias, nos DVDs por aí.