Porque o mundo precisa do Superman (publicado originalmente em 19/7/2006)
A sensação de que estamos a salvo. Ou perceber que, no fim, tudo dará certo. A estranha magia de uma capa vermelha. O fascínio pelo super-herói intransponível, inabalável. A excitação ao vê-lo lá em cima, com toda sua força. Superman cruza os arranha-céus a tantos quilômetros por hora. E todos sabem que o perigo passou. Tiros, terremotos, vulcões, raios de tempestades; nada é capaz de detê-lo. O Homem de Aço parte para salvar mais alguém. Mas em Superman – O Retorno (2006), ele volta à Terra depois de 60 meses longe de nós, pobres mortais. O filho de Krypton estava curioso para ver de onde veio, e como estava o local onde nasceu. Depois de verificar as ruínas de seu planeta, volta ao mundo dos terráqueos para continuar sua saga. Porém, as coisas estão diferentes. A principal dessas “coisas” é Lois Lane. Casada com o sobrinho de seu chefe, é mãe de Jason, de cinco anos. Até hoje não entende porquê Superman foi embora sem lhe dar a saideira. Nessa busca pela resposta, vinga-se de seu passado unindo-se em matrimônio com Richard. Quando está na Terra novamente, Clark Kent quer reaver, por sua identidade secreta, tudo o que deixou para trás. Mas é tarde. Enquanto isso, tem de tentar impedir Lex Luthor de construir um continente só para ele e sua amiguinha Kitty Kowalski.
Com pelo menos 30% de cópia de Superman – O Filme (1978), a fita atual, dirigida pelo ágil Bryan Singer (responsável por “X-Men 2” – 2003), trata o maior herói de todos os tempos com pão-de-ló. Na telona, não está o homem forte que quer salvar milhões de pessoas. Ele quer isso também, mas sua principal meta é convencer Lois de que ele, realmente, precisava ficar afastado. O casal Kate Bosworth e Brandon Routh convence, entretanto existem ressalvas se compararmos à história de três décadas atrás: a atriz é mais linda que sua antecessora, Margot Kidder, mas é pior na interpretação; e em segundo lugar, Routh não é, nem de longe, Christopher Reeve, o protagonista de 1978. É bastante parecido, isso sim, mas jamais poderá ser afirmado que possui o mesmo carisma, a igual “forma de voar” do ator morto em 2004. Kevin Spacey, o senhor Luthor, também está abaixo de Gene Hackman em todos quesitos. Certas cenas do filme deste ano resultaram em colas do primogênito. Notei cerca de quatro. Talvez cinco. Não me considero expert em Superman, mas por ter visto a película número um cerca de 50 vezes, sei que estou apto a escrever isso. Essas referências soam como homenagens à trama antiga. Isso vale... Aos conservadores, como eu, fã confesso do herói, também passa nos testes.
Emocionei-me, por exemplo, ao ver, na abertura, as letras e os efeitos especiais iguaizinhos aos antecessores. Como não acompanhei nos ecrãs o roteiro de 1978, e sim por VHS e DVD, era enorme minha vontade de ver de perto, e em tamanho gigante, as aventuras de Superman. O filme é ótimo e tanto emoção como aventura estão lá, assim como altas doses de romantismo. E, ao vê-lo novamente, me dá a certeza de que o mundo precisa do Superman. Se, na seqüência de Singer, ele volta depois de cinco anos, para nós, o Homem de Aço surge após anos de intervalo – data do quarto e último filme rodado por Reeve, o dispensável “Superman em Busca da Paz”, de 1987. Lois, em 2006, está prestes a ganhar o tão desejado prêmio Pulitzer pelo artigo “Porque o Mundo Não Precisa do Superman”. Eu não receberei prêmio algum, e digo o contrário (no filme, a repórter tenta começar outro artigo, cujo título é o da coluna de hoje, e ela não consegue sequer iniciar). Superman está entranhado em nossos costumes, do planeta todo, e o todo não é norte-americano. É o mais conhecido, mais imitado, mais poderoso, enfim, mais mais. Ter essa ilusão de que ele aparecerá a qualquer momento, ou pedir a ele, como se pede a Deus que tudo melhore. O mundo precisa do Superman para estar totalmente a salvo.
E, a salvo, nos deliciaremos com suas pródigas aparições. Seja para resgatar um gato na árvore, ou servir de trilho para o trem passar, para impedir alagamentos, perseguir e prender arquiinimigos. Enviado à Terra por seu pai tal como Jesus Cristo, Superman tem todos os atributos para ser mais que o rebento de Deus. Em alguns pontos, supera. É milagroso com as próprias mãos. Sem ele, o planeta pereceria. Os fãs não têm essa ânsia solitária. O mundo precisa, hoje e sempre, do Superman. Voe...