Danke, Deutschland (publicado originalmente em 12/7/2006)

Com organização e palcos impecáveis, a 18ª edição da Copa do Mundo chegou ao fim domingo passado. E que campeonato nós assistimos! Não falarei aqui do Brasil, um país desacostumado com a derrota, mas que está derrotado completamente faz algum tempo. A coluna de hoje se dedica ao todo, com destaque aos germânicos que sediaram o torneio. A Alemanha deu um show de seriedade, além de mostrar ao planeta o seu ressurgimento. A nação, acabada 60 anos atrás, conseguiu se reerguer. E como a Fênix, nos emocionou. Ver aquelas pessoas carregando suas bandeiras gigantes, gesto que há décadas não era visto, foi o ponto chave. Era o mar de gente que vibrava e torcia pelo seu país. Nem a ausência no jogo decisivo os fez mudar o pensamento. Após perder para a Itália (aliados quando da Segunda Guerra) numa partida épica, os alemães sequer abaixaram a cabeça. Os panos tingidos das cores preta, amarela e vermelha continuaram a balançar, seja grudado nos carros, pregados nas casas ou hasteada nos cantos. Sei que não eram os germânicos os únicos a se ajoelharem diante da pátria, mas os donos da casa tinham um motivo além-futebol: naqueles instantes, nascia de novo a Prússia, a Germânia, vociferada ‘Deutschland’. Foi pena eles não terem atingido a decisão da Copa do Mundo.

Eles caíram de pé. Nada serve de consolo, mas há personagens a serem comentados, como, por exemplo, técnico Jürgen Klinsmann. Constestadíssimo por torcedores, imprensa e até pelo presidente do Comitê Organizador da Copa, o Kaiser Franz Beckenbauer, ele deu a volta por cima. Campeão na competição de 1990, quando Beckenbauer era o treinador e Klinsmann um ótimo atacante, Jürgen se tornou, hoje, indispensável para seleção. O modo como ele vibrou nos gols da Alemanha nesta Copa, que se encerrou três dias atrás, foi contagiante e emocionante. Era como uma criança que via o Papai Noel. Pulou, berrou, deu socos no ar, se desesperou. Passou a todos essa sensação impactante. Torci pela Alemanha. Fiquei viciado. E isso aumentou mais dentro de mim quando vi jogadores brasileiros dando de ombro para o campeonato. Ao lado dos alemães, foi como se os adversários fossem Muros de Berlim a serem derrubados. Mas não com machadadas, pedradas, e sim com gols. Gols de Klose, o polonês naturalizado, artilheiro do torneio com cinco gols. Na retaguarda, Lehmann, o goleiro, era a face da segurança. Frings e Ballack seguravam o meio-campo. E Podolski (outro polaco), formou com Klose a dupla de matadores. Enfim, como não levaram o troféu, o terceiro lugar ficou merecido.

Outro ponto positivo foram os estádios. Tudo estava pronto 12 meses antes da Copa começar. Foram gastos milhões de dólares. O resultado agradou compulsivamente. Nada surpreendeu, pois na Europa, na maioria das vezes, tudo sai como o planejado. Beckenbauer, seguindo este planejamento, esteve presente em 56 dos 64 jogos. Parecia Deus, o onipresente. As câmeras o focalizavam, e estava ele lá, engravatado, com seus óculos quase escuros, ao lado de outro ‘supertorcedor’: o presidente da Fifa (Federação Internacional de Futebol), o suíço Joseph Blatter. Nas partidas da Argentina, o ídolo Diego Armando Maradona, sempre com a camisa azul e branca, comandou, da arquibancada, o país do tango. Mas toparam com os anfitriões. Foram embora (este duelo o ex-camisa 10 não acompanhou por não ter ingresso à sua ex-esposa e sua filha). Enquanto isso, as cidades alemãs se contaminavam e a Copa prosseguiu. Bravos soldados aqueles 23 atletas da Germânia. Sem pegar em armas, sem os traumas de outro dia, sem precisar se impor, colocaram nação deles no lugar de onde nunca deveriam ter saído: o primeiro plano da Europa. Jürgen Klinsmann definiu bem a meta do time: ganhar o título inédito para o país, pois os três anteriores (1954, 74 e 90) estavam ainda com a divisória no local.

Agora, em 2008, na Eurocopa, disputada nas vizinhas Suíça e Áustria, a Alemanha terá outra chance de conquistar o posto de melhor equipe de futebol do continente. É a única flâmula que falta, já que o coração do alemão, o grupo de jogadores e a comissão técnica conquistaram nesses últimos 31 dias. E, na derrota para Itália, o orgulho deles era tão grande que a frase proferida, repetidamente, era: “Danke, Deutschland!” (“Obrigado Alemanha”).

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 28/07/2009
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