Gangues (publicado originalmente em 27/7/2005)

Tempos atrás, existiam nos Estados Unidos duas gangues rivais: Sharks e Jets. A primeira era composta por porto-riquenhos. A segunda, por americanos “puros”, brancos. Desses dois panteões, Tony, antigo líder dos Jets, se apaixona por Maria, irmã do chefe dos Sharks. Está claro qual intenção de “Amor, Sublime Amor” (1961): encenar a história de Romeu e Julieta, do escritor inglês William Shakespeare, nos anos 50 em bairros pobres dos EUA. Dirigido pela dupla Jerome Robbins e Robert Wise e roteirizado por Ernest Lehman, a fita é baseada na obra musical de Arthur Laurents. Tanto Tony quanto Maria vão até as últimas conseqüências em busca do amor perfeito. Como na peça de Shakespeare, são acometidos pela tragédia. Antes, o filme, que ganhou 10 Oscars, é empolgante e até tem ares de onírico. Logo na abertura, dois grupos de bailarinos, cada qual pertencente a sua gangue, exibe a coreografia devidamente ensaiada. Durante os estalares de dedos, os dançarinos passeiam no cenário. Bailam na ginga devidamente adversária. Quando Sharks e Jets se esbarram, sai faísca. Os dois enamorados estão em perigo. Com a briga pela conquista do território cada vez mais acirrada, o casal não enxerga soluções. E elas, de fato, não aparecem.

O longa tem no elenco Natalie Wood e Richard Beymer os papéis principais. Ambos estavam com 22 anos quando rodaram a película, de duas horas e meia de duração. Wood teve vida meteórica. Aos cinco anos, estreou nas telonas. Aos 17, tinha sua primeira indicação ao Oscar, por “Juventude Transviada” (1955), quando fazia par com o galã James Dean. Seis anos mais tarde, outra vez entre as cinco melhores atrizes da Academia, agora em “O Clamor do Sexo”. Duas temporadas mais tarde, novo apontamento, com “O Preço de um Prazer” (1963) – notem-se aí os nomes dos filmes, com as dicas para o sexo fácil. Casou três vezes, sendo duas com a mesma pessoa – Robert Wagner. A partir dos anos 1970, com mais de 30 anos, passou a trabalhar menos. A fatalidade, assim como sua Julieta falsa em “Amor, Sublime Amor”, aconteceu. Aos 43 anos, nas filmagens de “Brainstorm”, sofreu um acidente de barco e se afogou: 29 de novembro de 1981. O mundo chocava-se com morte prematura da atriz. Já Beymer, em 1961, realizava seu oitavo trabalho em frente às câmeras. Começara aos 11 anos, na série de TV “Os Sonhos de Sandy”. Depois de “Amor, Sublime Amor” trabalhou em fitas pouco expressivas e está desde 2000 sem filmar. Fez 67 anos em fevereiro.

Os coadjuvantes do filme desbancaram as estrelas. Rita Moreno e George Chakiris receberam os Oscars de atriz e ator coadjuvantes. Rita interpretou Anita, namorada do personagem de George, Bernardo. Com o sotaque latino bem exaltado, somado à pele morena jambo dos dois, conquistaram as platéias no mesmo ritmo do estalar de dedos. Rita, porto-riquenha de nascimento, era experiente quando fez “Amor, Sublime Amor”. A carreira dela iniciou 11 anos antes do filme, quando a atriz tinha 19 anos. A película da dupla Jerome-Robert foi a 22ª de Rita. Em 2003, apareceu, depois de muito tempo, na mídia, ao comparecer à 75ª edição do Oscar. Com Chakiris, ocorreu o oposto. Está há uma década sem rodar longas-metragens. Está com 71 anos. Destaca-se ainda neste elenco Russ Tamblyn, que encarnou Riff, substituto de Tony na liderança da gangue dos Jets. Parecidíssimo com o ator Richard Beymer (cheguei a pensar que eram irmãos), Russ é quem balança melhor na fita. O molejo do rapaz, então com 27 anos, impressiona pela precisão. Um ano antes, havia participado da refilmagem de “Cimarron” (1960, o primeiro foi lançado em 1930), mas este segundo resultou num fracasso. Já fez 66 filmes em 57 anos de carreira, o último em 2000.

Jerome Robbins ficou responsável pelas cenas de dança. Robert Wise, pelas demais. Nesse fiel entrosamento, tudo se saiu bem durante um determinado tempo. Porém, devido ao preciosismo de Jerome, que insistia em repetir as cenas inúmeras vezes (e, com isso, aumentava o orçamento da fita, que girava em torno dos seis milhões de dólares), ele foi dispensado pelos produtores quando 60% da película estava pronta. Claro, seu nome não saiu dos créditos. Como era comum naqueles musicais, os atores foram dublados nas partes nas quais eles soltavam a voz. Audrey Hepburn e Elvis Presley estavam cotados para interpretar o casal Maria-Tony. Entretanto, a gravidez de Audrey e a não vinda do “Rei do Rock” impediram essa parceria. Não é a toa que “Amor, Sublime Amor” tinha um “quê” teatral. A história havia sido encenada na Broadway anos antes. Seis atores dos palcos foram para as telas grandes. Vários artistas já famosos na época fizeram testes para trama e não deram certo. Entre eles estão Antonhy Perkins (o doido de “Psicose”, de 1960), Richard Chamberlain (o padre Ralph da série “Pássaros Feridos”, de 1983, exibida no Brasil pelo SBT nas décadas de 1980 e 1990) e Warren Beatty (de “Bonnie & Clyde”, de 1967, e “Dicky Tracy”, de 1990).

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 05/07/2009
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