Frenesi oculto (publicado originalmente em 26/1/2005)

As figuras medonhas do cinema, desde o vampiro Nosferatu, na década de 1920, causavam medo nos espectadores. Com o passar do tempo, estes seres bizarros viraram motivo de piadas chatas e sem graça. “O Filho de Chucky” estreou e antes deste dia, nos trailers, a platéia já dava gargalhadas com a não menos boba risada do boneco assassino. E aí somam-se outros monstros ilustres, do porte de Jason e Freddy Krugger. Que no fim das contas dá no mesmo em matéria de importâncias para os milhares de fãs desse segmento. Desde 2002, livros cujas histórias saltam causas sobrenaturais, onde a pessoa horrorosa não é um matador, e nem ninguém, e sim situações pavorosas, crenças malignas e mortes macabras. Quando “O Chamado” (2003) estreou aqui no Brasil, o sucesso dele nos Estados Unidos era monumental. Havia arrecadado milhões de dólares em poucas semanas de exibição. Uma desinteressante fita de vídeo amarrava toda a linha condutora da trama. Quem a assistisse, morreria em sete dias. Naomi Watts e David Dorfman, interpretando mãe e filho, sustentaram a película.

Escrito por Kôji Suzuki, a novela “O Chamado” foi lançada no Japão em 1989, quando. Rápido os direitos para filmar a história da jornalista que investiga o desaparecimento de uma prima e cai na VHS do mau, foram comprados. A adaptação nipônica para as telonas concluiu-se em 1998. Mas não tem a qualidade da norte-americana. No “O Chamado” japonês, o ingrediente medo é optativo, pois os lances escabrosos terminam na garota-fantasma, que não possuía aspectos característicos. Nos sets dos EUA isso não se repetiu. Pitadas de humor negro e terror foram incluídos, assim como as cenas de espanto, onde se arrepiar na cadeira do cinema se faz comum. Samara (este é o nome da menina-pavor na América do Norte) copiou o mesmo estilo de cabelão preto da “parente” oriental e deu mais sustos. O rosto deformado contribuiu, mas a voz fina da pobre criança a deixou com ares mais doces. Ela teve seu passado revelado aos poucos. Nos momentos finais do longa-metragem, ficava claro que haveria continuação. E em abril ela aterrizará no Brasil, quem sabe com igual frenesi escondido.

Dos personagens do primeiro, continuarão em “O Chamado II” (2005), além de Naomi (Rachel Keller) e David (Aidan Keller), Shannon Cochran, que fará novamente Anna Morgan, a mãe maluca de Samara. Aliás, quem fará Samara, agora aos 17 anos, é Kelly Stables que anteriormente havia se destacado pouco em outras filmagens. No trailer, a atriz aparece num quarto fechado. Ainda não se sabe se acontecerá o terceiro filme. Caso o mistério seja revelado totalmente, a magia se acabará. “O Grito” (2004) pegou carona nessa onda de olhos puxados. Adaptado de outro livro, desta vez bolado por Stephen Susco, o filme é uma amostra perfeita de como se fazer o “terror” sem precisar de serras elétricas, decapitações e sangue derramado. Dirigido por Takashi Shimizu, a película repetiu todos os cenários. Filmado no Japão, dividiu o elenco entre americanos e japoneses. De um lado, a ex-parceira de Scooby Doo, Sarah Michelle Gellar, como assistente social que vai tentar a sorte no país do sol nascente com o namorado. Há também Bill Pullman, William Mapother, Rosa Blasi e Jason Behr.

A linha de idéia do filme escapa dos pensamentos do Japão. Lá, existe uma crença onde quem morre de uma maneira sofrida, com raiva, a alma desta pessoa perambula pelo local do falecimento até que outro ser humano morra. Quem entra em contato com esta praga está também condenado a tal final escabroso. Toshio (Yuya Ozeki), menino de dez anos, é quem dá os temerosos gritos do título da fita. Ao lado de um gato preto, ele apavora os visitantes de uma grande casa num bairro retirado de Tóquio. “O Grito” dá mais sustos se comparado a “O Chamado”, mas o elenco tem qualidade bem menor. E a seqüência está quase certa. Assim como no longa de 2002, a cena final dá o toque número dois. O olho de Yoko, a mãe de Toshio, desperta calafrios. Necessariamente por excluir personagens em carne e osso, mas sim fantasmas, provérbios tradicionais, o filme trouxe algo de novo ao cinema. Não é uma reviravolta no mundo da sétima arte. Seria exagero. O cinema japonês aderiu ao ocidente em 1950 apenas, mais de meio século após o surgimento da atração. Akira Kursawa foi responsável.

“O Chamado” soube aliar imagens sombrias (as da fita misteriosa, que seriam extraídas de um pesadelo – tinham dedos amputados se mexendo, insetos nojentos, escadas e cadeiras) com David em inspiração alta. Como Aidan, o menino que perde a pessoa que mais amava, a prima, e se comporta como adulto (vide a cena onde ele arruma a roupa da mãe para o velório), o ator-mirim surrupiou as cenas a seu favor. E apesar de aparecer pouco, Daveigh Chase, a intérprete de Samara nesta versão um, também alimenta boas expectativas. A mansidão com que fala e se move é delicada, mas como ela mesma diz, “sabe que vai continuar machucando as pessoas”. Toshio também sabe disso como ninguém. Está em alhures e algures. Em um momento, caça sua presa na casa de Tóquio. Noutro, vai a Nova Iorque assustar a pobre irmã de um dos ex-moradores daquela mini-mansão. Se na trama de três anos atrás a vítima ia à televisão, na deste ano os coitados são tragados pelo fantasma, que suga-as. Mistérios e suspenses que não têm hora para encerrar. Quando menos se espera, lá vem de novo.

“O Grito” já não tem tantas, se podemos chamar assim, revelações. O menino se destaca, pois os demais personagens se fundem na mesma ladainha. Não há tantos efeitos especiais assim, mas eles mostram alguns. O suspense fica engatilhado e é só o público se descuidar um pouco e zás! Sarah Michelle desempenha bem sua função: olhares tensos, movimentos lentos, sorriso encantador. Esses tipos de filme, os dos horrores ocultos, vem adquirindo terreno no campo cinematográfico. E trazem com eles os repetecos de anos antes, como Chucky, Freddy e Jason, “O Massacre da Serra Elétrica”. Claro, estes “trash” dão boa bilheteria porque têm recursos rasos, mas com exageros bem-vindos. Os corpos dilacerados, com cabeças rolando, estão presentes. Isso faz todos caírem da cadeira de tanto rir. O contrário ocorreu com “O Chamado” e “O Grito”. Se a risada vem, é de tensão. Se é querido sair do local, você não consegue, porque a história te prende de tal maneira que o espectador quer ver como tudo acabará. Seja com fitas de vídeo ou mortes trágicas, o aperitivo para o medo reinar está na mesa. Para ser deliciado.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 15/06/2009
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