Quinteto da boa idade (publicado originalmente em 2/10/2004)

Nos meses de setembro de outubro, cinco baluartes do cinema comemoram aniversários. Mais que nunca, estes astros da sétima arte merecem honrosas homenagens: Fernanda Montenegro, Sophia Loren, Brigitte Bardot, Michelangelo Antonioni e Marcello Mastroianni. Respectivamente 75, 70, 70, 92 e 80 anos (se o ator italiano estivesse vivo) completados com recordações afiadas e lembranças fiéis. A representante brasileira assoprará as velinhas em 16 de outubro. Com pouco mais de meio século de carreira, Fernanda (na verdade, ela é Arlete Pinheiro Esteves da Silva) anda com as cordas todas. Aqueles que pensavam na aproximação da aposentadoria, estão totalmente enganados. Seja em produções da televisão, peças de teatro ou filmagens para o cinema, Montenegro carrega debaixo do braço projetos e mais projetos. Nos sets, a fita “Do Outro Lado da Rua” (2004), onde atua ao lado de Raul Cortez, foi apontado como um dos possíveis indicados brasileiros para concorrer ao Oscar de 2005. Perdeu para o badalado e tão festejado longa-metragem “Olga” (2004), de Jaime Monjardim.

Mas para quem já sentou numa das poltronas do Kodak Theatre, em Hollywood, como indicada para a categoria de melhor atriz, na festa da Academia de 1999, isso não acabou como decepção. em 1998, Fernanda brilhou absoluta. Ninguém apareceu tanto e recebeu os mais doces elogios. E tudo no carregamento de “Central do Brasil”, dirigido por Walter Salles Júnior. A história, classificada, além do quesito atriz, em filme de língua estrangeira, explodiu nas salas. Vinícius de Oliveira, achado nas ruas fluminenses, protagonizou a película. Depois, sumiu. Fernanda obteve todas as glórias existentes e perdeu o prêmio máximo para Gwyneth Paltrow, intérprete de “Shakespeare Apaixonado” (1998). Ela iniciou sua vida profissional em 1950 fazendo radionovelas em emissoras do governo brasileiro. Conheceu Fernando Torres, também ator, e casou-se com ele anos depois. As fotos dela no começo da década de 1950 mostram a incrível e impressionante semelhança com Fernanda Torres, filha dela. Parecem a mesma pessoa. Fã confessa de Bibi Ferreira, Montenegro está em cartaz com “Redentor”.

Diferentemente da atriz brasileira, na ativa, a francesa Brigitte Bardot ajeitou os calendários na última terça-feira, ao fazer 70 anos. Em 74, abandonou a carreira acumulada há 18 temporadas para dedicar-se, desde então, à proteção de animais. Xenófoba de carteirinha, admitiu recentemente gostar pouco de imigrantes e negros. Em entrevistas, afirmou ter aspirado voltar à década de 1960, quando beirava os 30 anos, distribuía beleza e carisma. O olhar concentrado não desapareceu. Casada muitas vezes, centrou-se em discussões provocadas por maus tratos a bichos em extinção. A protagonista do filme “E Deus Criou a Mulher” (1956) está longe de caras/bocas que fizeram garotos enlouquecerem de vez. Atualmente anda aparada por bengala, mas os dentes brancos grandes e marcantes continuam à toda prova. Polêmica, incendiou conversas da igreja católica por causa dos relacionamentos rápidos e rasteiros que vivia, verdadeira infâmia na época. Com Jean-Luc Godard, diretor e roteirista francês, filmou “O Desprezo” (1968), onde aparecia com o nome de batismo, Camille Javal. Eterna Brigitte.

Sophia Loren é outra integrante do clube do 70. Fez aniversário em setembro. Estreou nas telas em 1950, ainda adolescente de 16 anos. Com seu mediterrâneo, voluptuoso e exuberante rosto, era a deusa do amor da Segunda metade do século passado. Nasceu em Roma, mas radicou-se na pobreza de Nápoles, local onde foi descoberta por Carlo Ponti quando participava de concurso de beleza. Eles se casaram em 1957, separaram-se em 1962 e voltaram às boas em 1966. Com Marcello Mastroianni atuou em 15 fitas, entre elas “Ontem, Hoje e Amanhã” (1963), “Casamento à Italiana” (1964, pelo qual foi indicada ao Oscar) e “Prêt à Porter” (1994). Por “Duas Mulheres” (1960), arrebatou estatueta de atriz. Trabalhou em parcerias com mitos cinematográficos do quilate de Charles Chaplin (no filme derradeiro dele), Charlton Heston (em “El Cid”, de 1961), Frank Sinatra e Peter Sellers. Rodou por países da Europa, como Inglaterra. Esteve também nos Estados Unidos, mas a maioria das produções da atriz fixaram-se na terra natal Itália. Hoje em dia, suas aparições causam, como antes, calafrios.

Antonioni teve sorte diferente. Obcecado pelo cinema, escrevia críticas sobre películas italianas e estrangeiras. Somente aos 38 anos, em 1950, alcançou a meta e dirigiu “Crimes D’Alma”. Antes, o diretor havia feito diversos documentários enquanto aperfeiçoava técnicas de câmeras. Observou e colaborou com o iniciante Roberto Rossellini e exerceu a função de assistente com o francês Marcel Carné. 120 meses depois de debutar na cadeira mais importante dos sets, gravou “Aventura” (1960), a parte um da trilogia que incluiu “A Noite” (1961) e “O Eclipse” (1962). “Depois Daquele Beijo”, de 1965, é sua obra mais conhecida. A saúde o impediu de prosseguir os roteiros da vida. Em 1985, aos 73 anos, ficou parcialmente paralisado em decorrência de ataque cardíaco. Os enredos previstos a filmar ficaram impedidos. Ser europeu dificultou apontamentos da Academia. Michelangelo esteve entre os cinco melhores apenas na festa de 1966, pelo já citado “Depois Daquele Beijo”. Entender os critérios dos componentes de lá é arriscado. Várias injustiças foram cometidas e eles não se cansam.

O único falecido da lista de aniversariantes é Mastroianni. Morto por enfarte a 19 de dezembro de 1996, Marcello passou por inúmeros percalços ao longo de seus 72 anos. Esteve em campos de concentração alemães, de onde conseguiu escapar, escondeu-se em Veneza. Antes, era projetista na Segunda Guerra Mundial. Entrou para grupo de teatro e atingiu magnitude plena ao encarnar, em “A Doce Vida” (1960), de Federico Fellini, o jornalista falido e desgostoso com tudo e todos. Atuou em mais de 100 fitas. Sônia Braga esteve com ele numa dessas aventuras. Foi casado mais de 50 anos, mas a “pulada de cerca” era constante. Com a atriz francesa Catherine Deneuve, 19 anos mais nova, tem um filho. É o ator italiano mais conhecido de todos os tempos. Como Antonioni, freqüentou o Oscar só em 1962, por “Divórcio à Italiana”, história que concorreu também à melhor direção, com Pietro Germi. Em precisamente quatro décadas de carreira, platéias do mundo inteiro viram de perto e emocionadas seus personagens. Mastroianni morreu e virou nobre amante de suas viúvas tristes.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 03/06/2009
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