A mamadeira, a fralda e a chupeta (publicado originalmente em 17/3/2004)

Ser famoso não é para qualquer um. Ter sucesso indiscutível é fato raro. Mantê-lo é mais difícil ainda. A palavra celebridade virou sinônimo de vaidade e jactância nesse mundo rodeado de flashes e pouca inteligência. O efêmero se deita do lado de baixo da cama e lá fica, despreparado. Uma jaça sem defeitos, pobre. No entanto, quando surgem pessoas virtuosas, o problema é outro. As crianças, principalmente, atraem mais se vierem com o talento colado no corpo. Nesse mini-panteão, a lista de pequenos seres com qualidades ímpares é grande. Porém, as dúvidas em certos aspectos permanecem: os menores foram obrigados pelos pais ou fizeram tudo por livre e espontânea vontade? Essa questão fica de lado.

Shirley Temple é até hoje a mais lembrada. Aos seis anos, em 1934, recebeu um Oscar especial. A entrada dela nos estúdios Fox foi um enorme alento, pois a empresa passava por maus bocados financeiros. O público, ressabiado pela quebra da Bolsa de Nova Iorque (em outubro de 1929), voltou aos cinemas para ver a jovenzinha cheia de ternura e com covinhas encantadoras. Temple rompeu bilheterias entre 1935 e 1938. Nenhuma outra estrela infantil teve tanta bajulação e cuidado. A garota (atualmente com 75 anos) começou a ter aulas de dança aos três e logo “assinou” contrato para participar de uma série de curtas-metragens que parodiavam estrelas e astros adultos, entre eles Marlene Dietrich, Fred Astaire e Clark Gable.

Em pouco tempo, seus cachinhos aloirados roubaram a cena. Em “Levante-se e Aplauda” (1934) cantou e agradou. A Fox a emprestou à Paramount, que solidificou seu brilhantismo. Contudo, ela não teria seis anos para sempre. Adolescente, seguiu embalada com “Desde que Você foi Embora” (1944), mas já não possuía aquele toque de inocência, o qual se esvaecia a cada trabalho. “Aposentou-se” do mundo dos sets de filmagem em 1949. Na década de 1960, voltou aos holofotes como membro do Partido Republicano. Exerceu a função de embaixadora de Washington em Gana e na antiga Checoslováquia. Sua última aparição em telas aconteceu em 1998, na septuagésima edição da entrega do Oscar.

Saiu a estonteante Shirley e entra Margaret O’Brien. A vida artística começou quando a MGM formou um time somente com crianças a partir de quatro anos. Entre elas estava Margaret. Estreou em 1942 com “A Viagem de Margaret”, filme feito sob medida para a atriz. Aos sete anos, a MGM cedeu seu passe por empréstimo à Fox. Tornou-se companheira de Elizabeth Taylor em “Jane Eyre”. Arrecadou muito dinheiro. No fim da década de 1940, nova troca de local de trabalho: foi para a Colúmbia. Porém, sofreu preconceito igual ao de Temple e não sustentou a magnitude na adolescência. “O Primeiro Romance Dela”, com 15 anos, não conseguiu o mesmo êxito. Enfim, porque elas crescem?

Não há resposta para essa questão, a não ser a biológica. Existem artistas que são mitos com pouca idade e após vários anos retornam em papéis de médio-porte, envelhecidos, mas com vigor inalterado. Isso aconteceu com Jackie Cooper. Entre os dez e 13 anos, atuou em quatro longas. No primeiro deles, “Skippy”, de 1931, dirigido por seu tio Norman Taurog, esteve na cerimônia do Oscar concorrendo a categoria de melhor ator. Em 1978, depois de ser produtor de TV e estar sumido da grande mídia, voltou às películas como ator. Estava com 57 anos quando interpretou o durão, impaciente e teimoso chefe de redação Perry White em “Superman”. Seu esforço foi reconhecido e prosseguiu nos outros três filmes do herói.

Mais recentemente, Haley Joel Osment deixou platéias piedosas e assustadas com a maneira sutil e tensa que deu ao forte personagem de “O Sexto Sentido” (1998). Tal como Cooper, conquistou indicação para o Oscar aos dez anos, mas em ator coadjuvante. Bazofiou em “A Corrente do Bem” (2000), cujo fim é inesperado. Talvez Joel siga a trilha dourada de Hollywood, contrariando os colegas aqui citados. Entre as exceções, ou seja, manter a fama lá em cima após o período “nenê”, estão as milionárias gêmeas Mary Kate e Ashley Olsen. Nascidas em 1986, a dupla americana iniciou os afãs com meses de idade. Em 1987, todos se derreteram por elas no seriado “Três é Demais”, exibido atualmente pelo SBT.

As caretas e os olhos azuis sapecas contagiaram o público. Na adolescência, mantiveram o alto-astral em novas séries e filmes, o último deles “Viagem a Roma” (2002). Nesta fita, que não veio aos cinemas do Brasil, indo direto às locadoras, vivem histórias onde comédia e romance leve se mesclam em boa sintonia. Trajetórias diferentes da maioria dos astros mirins. Pessoas com inspiração cutucada sem paciência. Ao se tornarem adultas, ficam problemáticas, o que as levam a ter problemas sérios com drogas e alcoolismo. Exemplos disso são Linda Blair (a possuída pelo demônio em “O Exorcista”, de 1973, que fez aos 13 anos) e Macaulay Culkin (o peralta de “Esqueceram de Mim I e II” – 1990 e 1992, com dez e 12 anos respectivamente).

Acompanhá-los a cada passo é importante. Afinal, o sucesso, dizia alguém por aí, exige a queda. Essas celebridades de 1,30 metro saberão lidar com isso? Nova pergunta cuja resposta só o tempo dará e dirá.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 10/05/2009
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