A música dos seus sonhos (publicado originalmente em 13/3/2004)

Quando se assiste a alguma atração, seja novela, filme, seriado ou desenho, uma parte integrante e importante passa despercebida do público em geral: a trilha sonora. Indispensáveis para qualquer entretenimento, a música quase nunca é levada com atenção pelas pessoas. Só mais tarde, ao escutar novamente a mesma canção, o espectador se recorda. O cinema teve e tem até hoje muitas inesquecíveis, compostas por maestros e músicos. Algumas para sempre na memória de todos nós. Os super-heróis, por exemplo, são responsáveis por melodias eternas. Os temas mágicos de “Superman” (1978 – 1987) ficaram a cargo de John Williams, que arrebatou o Oscar por eles em 1978. Este, porém, foi o quarto ganho por ele.

Em 1971, John, atualmente com 72 anos, recebeu o primeiro por “O Violinista do Telhado”. Quatro anos depois, Steven Spielberg lhe encomendou sons para “Tubarão” (1975). Não deu outra: a música aterrorizante, dando a impressão de que algo acontecerá a qualquer instante, rendeu ao maestro seu segundo prêmio. Por “Guerra nas Estrelas” (1977), foi agraciado com mais uma estatueta. Outras duas, pelos filmes “O Império Contra Ataca” (1980) e “ET” (1982), lhe foram oferecidas. Com mais de 40 indicações da Academia, ele, sem dúvida, virou lenda viva na história cinematográfica. Tem ainda no currículo músicas de “Indiana Jones e o Tempo da Perdição” (1984), “Parque dos Dinossauros” (1993), entre outros.

Alfred Newman porventura está equiparado a John Williams. Conseguiu nada mais, nada menos, que 45 chances de ser presenteado com o prêmio máximo do cinema. Abocanhou nove. Entre seus feitos está “O Diário de Anne Frank” (1959). Sem Oscar, mas com prestígio, ficou o compositor italiano Ennio Morricone. Em 1988, pôs seu toque musical no flébil e emocionante “Cinema Paradiso”. Em “O Exorcista II – O Herege” (1977), salteou a platéia com uma trilha toda moldada. Desde 1961, Ennio cedeu sua competência para mais de 350 filmes, um recorde. Com Dmitri Tiomkin, ocorreu o contrário. Concorreu 22 vezes e lucrou quatro troféus da Academia. Filme mais conhecido: “Assim Caminha a Humanidade”, de 1956.

O mesmo reconhecimento não veio para Bernard Herrmann. Dono da talvez melhor trilha de todos os tempos, em “Psicose” (1960, de Alfred Hitchcock), na célebre cena do chuveiro, Herrmann teve ao todo míseros cinco apontamentos ao Oscar. Venceu uma. Entre 1955 e 1964, era o titular de Hitchcock. Musicou “Um Corpo que Cai” (1958) e “Intriga Internacional” (1959). Para “Psicose”, desenvolveu o violino como eficaz ferramenta. Esteve também em “Táxi Driver” (1975, ano do seu falecimento – recebeu por esta obra sua última indicação, postumamente, em 1976) e no cult “Cidadão Kane” (1941). Este óbice da falta de estatuetas não deixou Bernard em má situação. O talento dele pôde cobrir esta mancha pífia e desgastante.

Com duas premiações, em 1950 por “Crepúsculo dos Deuses” e 1951 por “Um Lugar ao Sol”, Franz Waxman prosseguiu seu trabalho vitorioso e reconhecido. Anos antes, aceitou um grande desafio e criou trilhas sonoras para “Rebecca, a Mulher Inesquecível” (1940) e “Suspeita” (1941), ambos de Hitchcock. Em 1954, repetiu a boa experiência com o diretor inglês em “Janela Indiscreta”. Já o austríaco Max Steiner é tricampeão em se tratando de Oscar, ao qual foi indicado 26 vezes. Entre as películas não premiadas, mas famosas, estão “King Kong” (1933), “...E o Vento Levou” (1939), “Casablanca” (1942) e “O Tesouro de Sierra Madre” (1948). Somou 42 anos de carreira e trabalhou em mais de duas centenas de filmes.

Para Alex North sobrou um raso Oscar honorário em 1986. Autor das músicas de “Quem tem Medo de Virgínia Woolf?” (1966), “Spartacus” (1960), “Cleópatra” (1963), “A Honra do Todo Poderoso Prizzi” (1985), entre muitos outros, Alex esteve entre os cinco mais votados 15 vezes. Já no fim da vida, subiu pela primeira vez ao palco da maior festa do cinema para pegar sua mini-estátua em contribuição à sétima arte. Morreu cinco anos depois, em 1991. Henry Mancini (autor do notável tema do desenho “A Pantera Cor-de-Rosa”) não teve o mesmo azar. Ganhou 20 Grammys (o Oscar da música) em inigualáveis 72 indicações e concorreu 18 vezes ao Oscar, abatendo quatro. Uns com vários, outros com nada. Deslealdade periclitante.

Sucessos em produções mais recentes não faltam. O título “Unchained Melody” (pode-se traduzir aproximadamente como “Melodia Inacabada” ou Encadeada) te diz alguma coisa? Tenho certeza que não. Mas se eu dissesse, a música do “Ghost – Do Outro Lado da Vida” (1990), você saberia imediatamente. O grupo The Righteous Brothers a compôs a tornou mundialmente perfeita para embalar corações apaixonados. Não pára por aí. “Eye of The Tiger” (O olho do Tigre) fixou-se nos cinco “Rocky, o Lutador” (1976 – 1990). E segue...

Ouçam as músicas a partir de agora. Não se deixem ficar despretensiosamente moucos. As músicas dos filmes têm de ser logradas ao extremo. Inebriem-se com elas.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 06/05/2009
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