O terror, por sua magnitude (publicado originalmente em 11/2/2004)

Desde “Nosferatu” (1922), a realização dos filmes de horror sempre amealhou todos os requintes das maquiagens e efeitos categóricos. Há também histórias onde predominam medos ocultos. Alguma seita macabra, vinganças concretizadas com certa demora, um mistério rodeado de coincidências, pessoas de aspectos esquisitos. Em todos esses anos da tela grande, muitos filmes fizeram e fazem até hoje sucesso. Principalmente com adolescentes sedentos em ver gente com cara monstruosa ou com estômagos saindo de corpos mutilados. Braços e pernas voam por aí.

Não será sobre isso, contudo, o transcorrer destas linhas. Os chamados “trash” (lixo) ficam agrupados nas categorias B. É sangue jogado fora. Cito aqui “Brinquedo Assassino”, as intermináveis continuações de “A Hora do Pesadelo” e “Sexta-Feira 13”, os recentes “Pânico”, “Freddy x Jason” e outros da mesma qualidade pífia. Os clássicos iniciam exatamente com “Nosferatu”. O vampiro mais conhecido do planeta teve seu filme rodado na Alemanha. Totalmente mudo, mas com cenas de deixar qualquer um apavorado. O Conde Drácula surgia enfim.

Outro alemão, “M – O Vampiro de Düsseldorf” (1931), dirigido pelo consagrado austríaco Fritz Lang, deixou coléricos muitos espectadores. Quando o pavoroso bandido persegue até agarrar um pobre garoto, todos tremem. O olhar assustado do próprio mau-caráter, minutos depois de ser pego, faz tiritar os que se sentiram conspurcados. Já na pele de “Frankenstein” (1931), o ator inglês Boris Karloff assustou diversas pessoas nas décadas de 1930 e 1940. Despertou tanto pena quanto horror. Tornou-se, assim, um dos ícones do século passado. Tinha um rosto com ar fúnebre.

Jack Nicholson, antes de se transformar em mito de Hollywood, participou de uma dessas películas ao lado de Karloff. Nicholson, então com 26 anos, contracenava com Boris (de 76) na algaravia de “O Terror” (1963). Eram tempos de vacas magras e o diretor Roger Corman era auxiliado pelo então jovial Francis Ford Coppola (dando os primeiros passos na carreira fulminante de diretor). Essa década contribuiu para que a marca terror se sustentasse. Cinco anos após esta saída além-útero de Coppola, um bebê tomou conta dos cinemas. A mãe chamava-se Rosemary.

Em 1968, “O Bebê de Rosemary” fez poltronas de ecrãs tremerem. Protagonizado por John Cassavetes e Mia Farrow, estes dois nos melhores momentos das carreiras, o filme fez a sociedade discutir e refletir sobre qual é o limite entre querer e poder. Cassavetes interpreta um decadente ator que deseja a qualquer preço um bom trabalho. Para atingir a aspiração, se une a um casal de idosos bem relacionado com o mau (leia-se diabo). O preço do sucesso futuro, promete John, é engravidar a esposa (Farrow) e “doar” o rebento ao demo. As conseqüências são trágicas. O filme, não.

Outro qüinqüênio se passou e mais uma película chegava repleta de crueldade. Saía o filho de Rosemary e entrava Regan, uma pré-adolescente de 12 anos. Tinha uma mãe atriz, divorciada. Havia se mudado pouco tempo atrás para uma boa casa, um sobrado. Só não esperava ter de passar por um exorcismo. Max Von Sydow, em 1973 com 44 anos, mas no papel de um experiente padre de 70, ficou encarregado de tirar toda a distimia da jovem. “O Exorcista” juntou recordes. Milhares de pessoas queriam ver de perto o sofrimento de uma pequena família americana.

Cenas fortes, como a descida da menina de uma escada como uma aranha, a virada 360 graus da cabeça dela, o rosto completamente deformado, os dois jatos de vômito verde, além dos flagelados exames por que passa Regan (feita por Linda Blair, que esteve em “O Exorcista II – O Herege” de 1977, e se envolveu com drogas anos mais tarde), são peças-chave no filme, que ganhou muitos prêmios. Em 1998, voltou para a telona com 11 minutos de cenas inéditas (a versão do diretor), remasterizado e computadorizado. Terror em alta tecnologia. Pavor registrado na cama que se movimenta sozinha ou na levitação da garota em takes onde o som faz silenciar.

A década de 1980 trouxe tragédia na vida real e emoções fortes nas seqüências do alarmante “Poltergeist” (1982, 1986 e 1988), dirigido e escrito pelo consagrado Steven Spielberg (diretor do não menos calmo “Tubarão”, de 1975). A atriz Heather O’Rourke, que dava vida à personagem Carol Anne, foi vítima de uma doença fatal. Tinha problemas no coração e pulmões. Morreu com apenas 12 anos, em 1988. O mundo se chocou com o precoce desaparecimento do olhar assustado da loirinha Carol. Era o falecimento no auge da popularidade. Lágrimas ao invés do grito de susto.

Nos anos 1990, destaque para “A Mão que Balança o Berço” (1992), com Rebecca de Mornay, e “O Sexto Sentido” (1999), estrelado por Bruce Willis e Haley Joel Osment. Ambos os filmes têm pouquíssimas características em comum. Assemelham-se pelas boas atuações dos atores, em especial Osment, que supreendeu a Academia e foi indicado para melhor ator no Oscar de 2000 com apenas 11 anos de idade. Mais recentemente, “O Chamado” (2002), inspirado no homônimo japonês, parecia ter qualidades. Decepcionou os fãs com interpretações caricatas.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 04/05/2009
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