Os anéis, os samurais e os mares (publicado originalmente em 4/2/2004)

Três filmes lançados recentemente têm em comum uma característica: efemeridade. O sucesso de “O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei”, “O Último Samurai” e “Mestre dos Mares” não se pode discutir, mas será breve. Daqui há 15, 20 anos, serão poucas as pessoas que recordarão de pelo menos um deles com exatidão ou paixão aguda. Em 2003, relativamente a produção cinematográfica norte-americana esteve pobre. A festa do Oscar, dia 29 deste mês, será, portanto, vazia de grandes premiações, surpresas ou recordes quebrados.

A saga derradeira do pequeno Frodo foi, digamos, previsível. Quem não viu nenhuma das duas histórias anteriores, pode, se quiser, apreciar “O Senhor dos Anéis 3” somente pelos esplêndidos efeitos especiais. São cenas de deixar qualquer pessoa com o queixo caído no mais raso chão. Mamutes gigantescos, seres horrendos (aí a maquiagem impressiona também), como Smeagol (esse feito através da união entre computação e interpretação), e os alados monstros são extraordinários. Os sortilégios estão à solta. Coisa de feiticeiro da sétima arte.

Nisso, o diretor Peter Jackson é mestre. Não à toa, tanto o filme quanto ele são favoritos para ganhar a estatueta nas respectivas categorias. Mas não passa disso. A história chega a ser cansativa em alguns momentos. Juntos, o trio baseado no livro de J.R.R. Tolkien tem a duração de quase dez horas. Dez exauridas horas. Despejadas até a última gota. Os espectadores, cansados, chegaram a duvidar e especularam sobre a sexualidade de Frodo. Coitado do pobre hobbit. O relacionamento com Sam era regido pela mais pura amizade. Se fosse ele, não destruiria anel nenhum, só de vingança.

Já em “O Último Samurai”, encontramos um Tom Cruise quarentão. Durante muitos meses, o ator treinou os movimentos peculiares desta arte oriental, onde quem fracassa, tem no suicídio o único destino. Cruise, porém, não necessita disso. Como um membro do exército americano pago para ensinar soldados japoneses inimigos dos samurais a guerrearem, ele não compromete. Também não dá show, como muito se comentou por aí. Cotado para estar entre os cinco indicados para o prêmio de melhor ator, viu seu sonho fenecer quando a lista foi divulgada. Estava fora.

A película, porém, não foi esquecida completamente pelos julgadores da Academia. Ken Watanabe está entre os classificados para melhor ator-coadjuvante. Tem chances razoáveis. Corre o risco de perder para Benicio Del Toro, destaque em “21 Gramas”. Além disso, concorre, sem muitas pretensões, nas categorias direção de arte, figurino e efeitos sonoros. A amarração final de “O Último Samurai” também fica aquém do esperado. Aguardava-se uma determinada situação, a qual não acontece nesta fita de aproximadamente duas horas e meia.

Em “Mestre dos Mares”, sobram nervosismos e perseguições rumo a vitórias desbravadoras. Não há exagero nas cenas muito fortes, como por exemplo, de um menino com dores lancinantes tendo o braço direito amputado. Isso no século XIX. Mais precisamente, 1805. Imaginem as precariedades do médico. Tudo ocorreu, claro, sem anestesia. Russel Crowe, por sua vez, não causa dor ao público. O capitão do barco prova novamente sua seriedade ao interpretar. Mas é mais um fora da disputa pelo Oscar deste ano.

Todo o filme se passa no navio. Falas em português existem, pois durante aquela guerra travada entre França e Inglaterra, os ingleses tiveram de passar por aqui. A noção de Brasil, do lado de lá, é sempre a mesma. Naquela época, de fato, não podia ser outra. “Mestre dos Mares” foi selecionado para, entre outras categorias, concorrer a melhor filme, direção, edição, efeitos sonoros e fotografia. São dez no total. Apenas “O Senhor dos Anéis 3” o ultrapassou, com 11. Tem chances boas, mas raros surtos de zebras acontecem. Sobretudo na Academia.

Como escrevi no começo, esse trio não será lembrado no futuro. Não marcarão gerações. Servirão apenas para a festa do Oscar. E só. Logo serão jogados no baú. Ao contrário de 2002, quando aventuras como as de “Chicago” e “As Horas” balançaram as pessoas, 2003 não passou de filmes fracos. Incautos são aqueles descrentes disso.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 03/05/2009
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