Os olhos do cinema (publicado originalmente em 31/1/2004)

O poeta Vinícius de Moraes, ao dizer a frase “as feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”, estava certo? Em algumas ocasiões, sim. Desde os primórdios do cinema até os dias recentes, milhares de atrizes já passaram em frente as câmeras. Apenas algumas delas chegaram ao ápice, ao extremo sucesso e reconhecimento. A esmagadora maioria, por coincidência ou não, era formada por moças de rara beleza.

Sejam por olhos pretos, verdes ou azuis, por cabelos dourados ou negros azulados ou por um lábio bem contornado transmissor de um sorriso desejável, essas mulheres faturaram corações de garotos e rapazes espalhados pelos cantos desse mundo. Fizeram homens suspirar por sentimentos arrepiantes.

Uma das pioneiras foi Gloria Swanson. Nascida em Chicago no ano de 1897, foi arrojada desde sempre. Casou seis vezes e a cada troca de marido virava manchete de jornais. Trabalhou como atriz até 1934, quando se aposentou precocemente. Estrela dos anos 20, não agüentou ficar fora do ambiente reluzente e voltou ao batente em 1941. Mas já não fazia o mesmo sucesso. Somente nove anos depois, em “Crepúsculo dos Deuses” (1950), conseguiu triunfar. Suas roupas eram imitadas por garotas sonhadoras. Pouco antes de morrer, em 1983, rodou “Aeroporto 75” (1974). Seguiu famosa até então.

Brigitte Bardot também deixou embasbacados muitos marmanjos. Batizada na França com o nome de Camille Javal, Brigitte alterou a imagem de sensualidade e inspirou diversas adolescentes. Quando fez “E Deus Criou a Mulher” (1956), encantou platéias. A nudez indiferente, maliciosa e de aparência infantil, além de uma volúpia aparentemente desinibida diante das câmeras, resultaram em sucessivas reportagens sobre sua vida íntima. Ao encerrar a carreira, aos 42 anos, criou uma fundação protetora de animais e leiloou todas as suas jóias para ajudar a entidade.

Mas ao se referir à palavra “beleza”, não se pode esquecer de Grace Kelly, a Princesa de Mônaco. Dona de um par enigmático de olhos azuis, trabalhou em apenas 11 filmes nos 54 anos de vida. Tida como tipo ideal do diretor Alfred Hitchcock (loira serena com ímpetos de paixão), conheceu o Príncipe Rainier durante uma filmagem. Casou-se em 1956 e teve duas filhas, Caroline e Stephanie. Hitchcock nunca de conformou, de uma forma ou de outra, “acabar” com a carreira de Grace, já que ela não aceitava mais interpretar após o matrimônio. Virou dona-de-casa real. Em 1982, sofreu um derrame enquanto dirigia em Montecarlo. Não resistiu.

Já Sônia Braga, típica brasileira, virou símbolo sexual tanto na televisão quanto no cinema. Morena, cabelos cacheados compridos, olhar devastador, a atriz, paranaense, foi descoberta antes de completar 20 anos. Eterna musa dos trópicos, participou de “A Dama do Lotação” (1978), baseado em um conto de Nelson Rodrigues, e “Dona Flor e seus Dois Maridos” (1971), ao lado de José Wilker. Na telinha, eternizou “Gabriela” (1975) com a cena em que está no telhado para apanhar uma pipa. O Brasil inteiro espiou. O talento e a beleza quente e lapidar a levaram ao cinema americano, onde filmou, entre outros, “O Beijo da Mulher Aranha” (1984), em parceria com produtores daqui.

Com Kim Basinger, digamos, a ousadia pesou em comparação às outras. Aos 17 anos, posou nua para a revista Playboy nos Estados Unidos. Chegou a Nova Iorque para seguir carreira de modelo e conseguiu até certo ponto. Pequenos papéis em filmes e televisão a encorajaram a se tornar atriz. Na década de 80, brilhou como uma madrepérola em “9 ½ Semanas de Amor” (1986). A história do casal que se entrega aos prazeres sexuais ficou em cartaz ininterruptamente por quase um ano em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Em 1989, convenceu como a repórter obcecada por morcegos em “Batman”. A longa cabeleira loira e os olhos cor azul-piscina ficaram marcados como os mais provocantes do cinema. Em 1998, teve a carreira agraciada com o Oscar de melhor atriz coadjuvante em “Los Angeles – Cidade Proibida”.

E no fim dos anos 90 e início da década atual, a representante não poderia ser outra senão Liv Tyler, sinônimo do que existe de mais cintilante e delicado quando o assunto é beleza. Até a adolescência, não sabia quem era seu pai. No entanto, durante um show do grupo Aerosmith, em que estava presente, percebeu sua enorme semelhança com Steven Tyler, o vocalista. A mãe, uma ex-modelo, confirmou o caso. Uma das primeiras aparições de Liv na televisão foi no clipe da música “Crazy” (1991), do grupo do pai, contracenando com Alicia Silvestone. Tinha 14 anos.

A boca larga, com o sorriso enternecido e concupiscente, os cabelos opalescentes e lisos, além do rosto claro e bem contornado e dos olhos azuis espreitados, fez o diretor italiano Bernardo Bertolucci escolhê-la para protagonizar “Beleza Roubada” (1996). Com 19 anos, virava uma atriz famosa e reveladora no papel da órfã Lucy Harmon. Inebriou multidões. Mais recentemente filmou a seqüência bem sucedida de “O Senhor dos Anéis” (2001, 2002 e 2003), dando vida a Arwen, uma elfo apaixonante.

A beleza nos faz suspirar. Estamos sempre à procura da perfeição. Atingimos assim o nirvana.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 03/05/2009
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