Um mistério da Psicologia: o fenômeno da paramnésia

 

Um mistério da Psicologia:

 

O FENÔMENO DA PARAMNÉSIA

 

 

Por “paramnésia” entende-se o curioso fenômeno — mais comum do que se possa julgar à primeira vista — que ocorre quando, diante de alguma situação, temos a impressão nítida de que aquilo já nos aconteceu. Também conhecemos o fenômeno pelo estrangeirismo francês “déjà vu”.

Em diversas ocasiões eu próprio vivenciei a paramnésia. Ela é frequentemente apresentada pelos espíritas reencarnacionistas, isto é, da linha kardecista (sabiam que existe toda uma ala do Espiritismo que não aceita o dogma da reencarnação?), como uma prova das vidas passadas. Segundo eles, você se lembra porque aquilo realmente lhe aconteceu em outra vida.

Peço vênia para discordar dos irmãos espíritas. Em último caso, esse evento nada prova em favor da reencarnação. Veja-se, por exemplo, que habitualmente o que ocorre é um diálogo, e a gente tem a impressão de se lembrar do mesmo. Mas, como poderia o mesmo ter ocorrido em outra encarnação? As circunstâncias são especialíssimas e se vinculam ao ambiente civilizacional, que não se repete. Além do mais, o mundo muda de aspecto e as supostas reencarnações presumem diferenças de séculos e milênios, no mínimo muitas décadas.

Vamos supor um exemplo hipotético, mas que na prática já deve ter ocorrido inúmeras vezes. Você fala com alguém pelo celular, e de repente tem a impressão de se lembrar da conversa. Mas como poderia ter vivido aquilo em outra encarnação (sem falar, é claro, da inverossimilhança da repetição de diálogos) se antes não existiam celulares?

Mesmo o exemplo das casas é inconvincente. Você caminha por uma rua onde nunca andou antes. Passa em frente a uma casa e tem a impressão de ter morado nela. “Você de fato morou, em outra vida, é por isso que se lembra”, dirá algum reencarnacionista. Quem faz tal afirmação, porém, olvida que as casas têm vida às vezes mais curta que o ser humano. Se você tem 50 anos, antes de achar que morou numa residência que lhe é familiar, lembre-se que ela pode ter menos que a sua idade. E mesmo que tenha mais, as casas passam por reformas, envelhecem, ficam irreconhecíveis. A explicação das vidas passadas só não esbarra com tais obstáculos no caso de cenários mais antigos, de preferência naturais (montanhas, lagos), que podem durar séculos ou mais.

É preciso entender que a ideia da reencarnação é, se tanto, uma teoria problemática, e não um fato comprovado.

Qual seria então a explicação para a paramnésia ou “déjà vu”? Ouvi falar da seguinte: uma falha da memória. Ou seja, teríamos, por uma falha mental, a impressão de nos lembrarmos de tal ou tal coisa.

Não me impressiona tal solução, eu tenho a minha própria teoria: a do sonho premonitório. Esse fenômeno existe, sabemos. Abraham Lincoln sonhou certa vez que caminhava pelos corredores da Casa Branca, estranhamente desertos, e teve a atenção despertada por vozes e choros vindos de uma sala. Foi até lá e encontrou diversas pessoas pesarosas, em redor de uma mesa onde um corpo achava-se coberto por lençol. O estadista então perguntou: “Quem morreu?” E teve a seguinte resposta: “O Presidente Lincoln. Ele foi assassinado”.

A meu ver, nós sonhamos às vezes com acontecimentos futuros. E, claro, esquecemos tudo, como em geral esquecemos todos os sonhos. Poucos ficam em nossa lembrança, e a maioria dos que ficam por algum tempo são aqueles pesadelos demorados. Mas tais sonhos de premonição ficam no subconsciente, e algo deles vêm à tona quando o incidente realmente ocorre. Esta é a minha teoria para explicar o mistério da paramnésia.

 

 

Texto publicado originalmente no Portal Entretextos, em 14 de junho de 2011.

 

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