A Certidão de Nascimento do Universo.
Que o universo um dia nasceu, nasceu. Ou existe desde sempre?! E eu sei?! Se a respeito do nascimento ou do não-nascimento do universo os cientistas batem cabeça e não chegam a um acordo - e é provável que jamais cheguem a um -, eu, um leigo em questões científicas, é que vou dar pitacos na discussão, envolver-me numa controvérsia que põe dos cientistas os cabelos em pé e vira-e-mexe faz com que um e outro dentre eles se estapeiem, se arranquem os cabelos, em público, ao vivo e em cores?! Eu não, violão! Fico na minha, a preservar a minha beleza.
Certa vez, li: um ovo cósmico, numa singularidade entrópica, eclodiu: Bum. E assim nasceu o universo. Ou não há em tal evento entropia envolvida, sei lá! Sei que dizia a reportagem que o universo tem um início, o do seu nascimento, que se deu há quatro bilhões de anos, e está registrado, num certificado, em cartório, na presença de um juiz-de-paz, de um escrivão e de duas testemunhas - e do certificado, que oficialmente certifica tal evento, inédito na história do universo, se imprimiu duas cópias autenticadas, com o reconhecimento de firma de todas as nele inscritas assinaturas, belamente, umas, feiamente, outras, desenhadas, aquelas, rabiscadas, estas. Alegrou-me a notícia. E durou pouco a minha alegria. Li, depois, que tem o universo o dobro da idade que está registrado em sua certidão de nascimento. E conclui: falsificaram a certidão, as assinaturas, tudo. Encasquetado, a cabeça a ferver, de raiva, de desgosto, de desânimo, de desilusão, vivi, mal-e-mal, os dias que se seguiram, até que, em um certo dia, chegou-me ao conhecimento: o ovo que eclodiu não foi o do universo, o universo universal: foi o de um universo que está dentro de um universo, que está dentro de um universo, que está dentro de um universo, e que tem o universo que brotou de tal ovo trilhões de irmãos, milhões deles seus gêmeos, suspeita-se. Quem é o pai putativo de tal enormidade?!
Então, pensei: Antes de existir, o universo já existia. Tal pensamento me veio à cabeça depois que ao meu conhecimento veio o pensamento que aflorara à cabeça do cientista que entendia que o universo é eterno, assim corroborando a idéia antiga, de matriz religiosa, que ensina que o universo não tem início, e fim tampouco.
Nesta etapa da brincadeira, eu já estava bem confuso; e a confusão que me incomodava adquiriria ares inimagináveis assim que li - e que ninguém me pergunte quando foi que isso se deu, e não me lembro que texto, e tampouco de seu autor me recordo - que é o Sol mais velho do que o universo. Vixe Maria! Agora torceu da porca o rabo! Pode o Sol, que está dentro do universo, nascer antes do universo vir à luz?! Não pode. Pode, talvez. Quem sabe?! E seguia-se a explicação: não havendo uma constante cosmológico, como pensava o mais famoso dos Albert, o universo expandia-se em ritmo acelerado a ponto de engolir o que existia antes de sua existência, e com o desvio para o vermelho da luz refratada, e... neca de pitibiriba entendi do que pensei haver entendido. Sei, apenas, que o Einstein está envolvido em tal furdunço.
Se não era fácil, nem um pouco fácil, entender o que eu não entendia, eu, ao contrário do que as pessoas sensatas pensam, insisti em minha errática jornada intelectual: li outros textos de divulgação científica, em um dos quais um tal cientista, o Cicrano, declara que o universo cresce numa expansão acelerada, e o cientista Fulano diz que é a expansão constante, e o doutor Beltrano declara que é ela desacelerada e que é a desaceleração tão rápida que logo cessará, e, cessando-se, o universo se contrairá, e se dobrará sobre si mesmo até que, um dia, tomará chá de sumiço. Não temos com o que nos preocupar, no entanto, com a morte do universo, singularidade que ocorrerá daqui sabe-se lá quantos bilhões de anos.
Passaram-se os dias. À novela os cientistas adicionaram capítulos e mais capítulos. E lhe irão adicionar outros, muitos outros, infinitos outros.
Estou para encerrar este artigo; antes, porém, digo - e eu ia-me esquecendo: alguns cientistas, a manusearem habilmente fórmulas matemáticas cujo funcionamento só eles conhecem, certa feita, e não há muito tempo, disseram que das fórmulas obtiveram um resultado que nos faz pensar: o tempo e o espaço existem antes do surgimento do tempo e do espaço, e o universo nasceu antes da existência do tempo e do espaço, que, por sua vez, a deles, existem antes do nascimento do universo. Se entendi o que li, é isso. Confuso. Confusamente confuso. Se nasceu antes de virem a existir o tempo e o espaço, em que tempo e em que espaço o universo nasceu?! Onde o local de nascimento do universo?! E em que dia ele nasceu?! E o tempo existia antes do tempo, e o espaço antes de o espaço existir?! Se todo evento ocorre, em um determinado lugar, num determinado momento, pode o universo nascer antes de o tempo e o espaço virem a existir?! E pode o tempo e o espaço virem a existir, num certo tempo e num determinado espaço, se o tempo e o espaço não existem?! Coça-me a cabeça. E coça-me de tal maneira violenta, que encerro por aqui este parágrafo, e vou para o penúltimo, que antece o que dá fim a este artigo, que não chove nem molhe.
Depois de me embrulhar a pensar pensamentos que não sei para que direção apontam, li, de um artigo, o título, publicado, no Canal Tech, dia 12 de Julho deste 2.023, e cujas autoras são Daniele Cavalcante e Patrícia Gnipper: "Idade do universo seria o dobro da estimativa mais aceita, diz estudo." Eu poderia fechar a página, encerrar a minha viagem pelos mares revoltos da internet, e ir beber uma loira gelada, mas, não! a atiçar-me o espírito imprevidente a curiosidade, abri a página que traz o artigo, e li, palavra por palavra, todas as que o compõem, e vim a saber que os cientistas fizeram-nos o favor de alterar o modelo cosmológico com o qual se divertiam e vieram a saber que tem o universo o dobro da idade que supunham que ele tinha - e é tal saber uma suposição, e nada mais -, e teceram comentários acerca da evolução das galáxias primitivas, dos buracos negros supermassivos, da constante cosmológica, da hipótese da luz cansada, da energia escura, que, supõe-se, é o alimento que dá ao universo a energia de que este precisa para se expandir, e expandir-se, e expandir-se indefinidamente, para todo o sempre, e além, e da constante de acoplamento, e sobre o desvio para o vermelho da luz que as galáxias mais afastadas emitem, e mais algumas coisinhas insignificantes. Estou a ponto de concluir que a imaginação dos cientistas é mais fértil do que a de Isaac Asimov, Karel Kapek, Arthur Charles Clark e Ray Bradbury, somadas, juntadas e misturadas, e multiplicadas, fundidas e amalgamadas.
Enfim, o parágrafo que dá fim a este artigo: antes, os cientistas, mais bem comportados do que os de hoje, sabiam que o tempo e o espaço são absolutos, e que a gravidade é uma das quatro forças fundamentais da natureza; um dia, entrou na brincadeira, sem que o convidassem, um tal de Einstein, criatura amalucada, que nunca devia ter deixado o escritório de patentes, homem que não se vexava de exibir, e orgulhosamente, a sua cabeleira despenteada - e estou a imaginar o apuro do seu cabeleireiro sempre que tinha ele de tosá-lo -, que bagunçou o coreto, pintou o sete, espalhou a brasa, pôs a casa de pernas para o ar, e ensinou que não são absolutos o tempo e o espaço, e que a gravidade não é uma das quatro forças elementares do universo, mas o resultado da pressão dos objetos cósmicos no tecido do cosmos neste produzindo uma concavidade para dentro do qual caem os astros desavisados que dela se aproximam perigosamente, e a percepção que os humanos temos do universo nunca mais foi, e jamais será, a mesma, alterou-se significativamente, e para todo o sempre. E os amigos do Einstein, todos eles, tais quais ele, meninos sapecas levados da breca, anjinhos de rabo e chifres, o tal Böhr, o Planck, o tal Dirac, o tal Heisenberg, o tal Penrose, o tal Chandrasekhar, o tal Schrödinger, que amava os gatos, o tal Gödel, e tantos outros, bagunçaram ainda mais o que o Albert havia bagunçado
E não encerrei, no parágrafo anterior, este artigo: é o meu mal, talvez o meu bem, o de escrever o que me dá na telha quando na telha me dá o que nela me dá. Agora, sim, as derradeiras palavras deste artigo: O universo de hoje é o universo de ontem; os humanos, todavia, o desconhecem, conquanto tenham o desplante de dizer que o conhecem como conhecem a palma da mão. Resta-nos esperar pelo Big Crush. Se a teoria tem pé na realidade...