O BRASIL NA CORRIDA ESPACIAL!!!
Brasil está na “corrida espacial”, compondo um seleto grupo de apenas oito países
O lançamento do foguete Hanbit-TLV representa um passo gigante em sua entrada no restrito clube de países capazes de lançar satélites ao espaço, sendo um o vizinho da base aeroespacial brasileira, a França, com sua base de Kourou, na Guiana Francesa
É possível que muitos brasileiros não tenham se dado conta da conquista que o Brasil fez ao conseguir lançar seu primeiro foguete levando a bordo uma carga útil desenvolvida 100% no Brasil pelos profissionais do INSTITUTO DE AERONÁUTICA E ESPAÇO (IAE). A Revosta Sociedade Militar foi um dos poucos veículos que noticiaram o fato.
Apenas oito países em todo o planeta são detentores da tecnologia e capazes de lançar foguetes espaciais: EUA, Rússia, China, Japão, França, Índia, Coreia do Sul e agora o BRASIL. Podemos chamar isso literalmente de uma conquista espacial.
Na prática, o que isso significa?
Para o Programa Espacial Brasileiro, o lançamento confirma a Base de Alcântara como polo lançador de foguetes de baixo custo, em um mercado global que cresce rapidamente. O voo do Hanbit-TLV durou 4m33 e marcou, efetivamente, a entrada do Brasil no mercado de transporte espacial.
“O sucesso deste lançamento binacional, envolvendo o Brasil e a Coreia do Sul, ratifica que o centro está totalmente apto, tanto do ponto de vista técnico-operacional, quanto do administrativo, para realizar lançamentos de foguetes nacionais e estrangeiros em praticamente qualquer época do ano, com precisão e segurança”, disse o brigadeiro engenheiro Luciano Valentim Rechiuti, do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), unidade ligada à Força Aérea Brasileira (FAB), conforme publicado hoje, 21, no Diário de Pernambuco.
“Este lançamento quebrou um paradigma, pois poderemos ter diversas operações comerciais, a partir do Centro Espacial de Alcântara (CEA), nos colocando entre os centros espaciais reconhecidos mundialmente e inseridos nesse mercado tão grande e que se desenvolve a cada dia mais, que é o mercado espacial”, explicou o diretor-geral do DCTA, Tenente-Brigadeiro do Ar Maurício Augusto Silveira de Medeiros.
Segundo ele, o lançamento do foguete, bem como as parcerias resultarão em uma “série de benefícios, pois são receitas que vêm para o município de Alcântara, para o estado do Maranhão e para o Brasil”.
Já o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Augusto Teixeira de Moura, disse que o CLA já foi concebido com a ideia de abrigar não só o nosso Programa Espacial, mas também outros operadores.
“Concretizamos o ideal lá dos anos 80, pois temos agora um operador privado internacional trabalhando aqui, o que abre a oportunidade de o Brasil efetivamente se inserir no mercado internacional de transporte espacial”, argumentou.
O sucesso do lançamento foi comemorado pela Aeronáutica e pela Agência Espacial Brasileira (AEB), depois de três adiamentos por questões técnicas. A parceria com a Innospace — uma startup da Coreia do Sul — foi possível depois que o Brasil firmou, em 2019, acordo de salvaguardas tecnológicas, que protege os interessados em usar a base brasileira como polo de lançamento. Todos os custos da operação de domingo foram bancados pela empresa.
Tragédia
O lançamento também representa a virada da página mais trágica do Programa Espacial Brasileiro. Em agosto, completará 20 anos do acidente que provocou a morte de 21 pessoas, em Alcântara. Em 22 de agosto de 2003, o VLS brasileiro levaria ao espaço o primeiro satélite de tecnologia nacional, mas o foguete, de 21 metros de altura, explodiu na partida.
Uma nova torre de lançamento só seria inaugurada em 2012, permitindo a volta da operação da base maranhense. Com o Hanbit-TLV, o CLA soma 500 lançamentos desde a inauguração, mas a pretensão de desenvolver um foguete de tecnologia nacional ficou em segundo plano. A prioridade passou a ser a atração de parceiros para financiar as atividades de Alcântara.Em maio do ano passado, o ex-presidente Jair Bolsonaro ofereceu a base para o bilionário Elon Musk, dono da SpaceX, que desenvolve projetos privados de foguetes de baixo custo — que não se interessou. Além da startup sul-coreana, o Brasil tem acordos com mais três empresas que pretendem utilizar a infraestrutura de Alcântara — uma delas a Virgin Galactic, do bilionário Richard Branson, que investe no desenvolvimento de foguetes civis tripulados.
A internacionalização das operações em Alcântara é um objetivo antigo do governo brasileiro, que vê na localização o maior diferencial em relação à maioria dos concorrentes estrangeiros. Por ser a base próxima da Linha do Equador, os foguetes percorrem uma distância menor até a órbita desejada, reduzindo os custos com combustível em até 30%.
Por que cada vez mais países criam e mantêm programas espaciais próprios? Lançar foguetes, fabricar e operar satélites em órbita faz sentido?
Por que os foguetes ainda são lançados?
“Há uma série de respostas e justificativas, mas a síntese é: para desenvolver tecnologia e talentos nacionais capazes de atender demandas do dia a dia e – não sejam ingênuos – para marcar posição em disputa por influência e hegemonia globais. Um olhar para a história do Brasil traz evidências que corroboram essa resposta.
Países continuam investindo em programas espaciais como forma de desenvolvimento tecnológico e para fortalecer sua influência.”, diz Arie Halpern na página do site Bem Paraná, publicado em 27/07/2022.
No fim da década de 1960, nos cafezais do estado da Bahia, foi encontrado o primeiro foco da praga chamada de “ferrugem”, que se espalhou e derrubou a produtividade dessa lavoura em cerca de 30%. Em 1970, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) deu início à Missão Ferrugem, a primeira experiência em sensoriamento remoto cujo objetivo era detectar a praga nos cafezais na região de Caratinga (MG). Porém, para isso e diversas outras necessidades, como mapear o desmatamento da Amazônia, havia dependência das informações dos satélites LANDSAT, dos Estados Unidos.
Nos dias de hoje, o Brasil tem três satélites próprios em órbita para realizar tarefas de sensoriamento remoto: o CBERS-4 e o CBERS-04A, desenvolvidos em parceria com a China, e o Amazônia-1, projetado e construído por uma equipe brasileira. Esse movimento de nacionalização, por meio do INPE e da Agência Espacial Brasileira (AEB), gerou encomendas de produtos tecnológicos oriundos da indústria nacional.
Esse tipo de estruturação de programas espaciais, ao longo do tempo, impulsionou economias e proporcionou a criação de produtos que estão amplamente disseminados mundo afora. Ou seja, parte da riqueza gerada em alguns países tem origem em programas espaciais.
Há inúmeros exemplos. A criação das câmeras digitais em smartphone remonta a desenvolvimentos da NASA para diminuir o peso e ocupar menos espaço nos foguetes. Ainda no campo audiovisual, também partiu da Agência Espacial norte-americana a iniciativa mais bem sucedida para comprimir arquivos de vídeo, para facilitar a transmissão de dados pelo espaço, dando origem ao MJPEG e outros formatos.
Cada vez mais países se interessam pelo desenvolvimento de programas espaciais, em alguns casos em bloco, como a Agência Espacial Europeia. E cada vez mais tecnologias disruptivas originadas por meio desses esforços chegarão ao dia a dia, conclui Halpern.