Cartões perfurados em 5G

Se o seu iPhone está conectado a uma rede Wi-Fi enquanto salva dados em sua nuvem para o armazenamento de informações importantes, você deve agradecer a um operário francês do século XVIII.

Basile Bouchon era operário do setor têxtil na cidade de Lyon. Fazer bordados de seda é uma tarefa que exige precisão, atenção, paciência e alta habilidade manual. Bouchon tinha todas estas habilidades, exceto uma.

O tempo dispendido para se fazer um bordado fazia com que a paciência de Bouchon se perdesse entre teares e seda. Seu pai havia sido operário na construção de órgãos (o instrumento inspirado no piano), e então a arte da música em cordas pavimentou um caminho de ideias para o francês de Lyon.

Os bordados deveriam seguir uma lógica padronizada em sua produção manual. Por que então não tornar essa lógica de cordas similar ao sistema operacional de um órgão, onde cada corda esticada à sua maneira produz uma nota específica e padronizada através de um acionamento mecânico por teclas? Mas os fios de seda deveriam passar pelos olhos de agulhas para se efetuar o processo, então por que não um cartão de papel perfurado seguindo uma sequência de furos não poderia exercer a mesma função como se fossem diversas agulhas simultâneas trabalhando como um piano?

Em 1958 o lançamento do Port a Punch introduziu no mercado um mecanismo automatizado rápido e prático de fazer perfurações em papel manualmente e, com isso, foi possível criar documentos de cartões perfurados em qualquer lugar. A IBM havia acabado de lançar o princípio fundamental dos computadores pessoais, aqueles aparelhos que nos anos 80 ganhariam um monitor, um mouse e as casas de bilhões de pessoas. Armazenamento de dados pessoais em cartão perfurado que podiam ser lidos por circuitos elétricos, os mesmos circuitos que foram desenvolvidos no século XIX por um dos fundadores da IBM. Utilizando o princípio de comando automático de teares, Hermann Hollerith, funcionário do United States Census Bureau, inventou, em 1880, uma máquina para realizar as operações de recenseamento da população. A máquina fazia a leitura de cartões de papel perfurados em código BCD (Binary Coded Decimal) e efetuava contagens da informação referente à perfuração respectiva a qual era lida numa tabuladora que dispunha de uma estação de leitura equipada com uma espécie de pente metálico em que cada dente estava conectado a um circuito eléctrico. Hollerith (sim, você conhece este nome), reduziu de 7 anos para 2 horas o tempo que se levava para fazer o ressenciamento populacional nos Estados Unidos.

Bouchon perfurou manualmente cartões de papel em sequências que antes suas mãos seguiam. As cordas da urdidura foram passadas pelos olhos de agulhas horizontais dispostas para deslizar em uma caixa. Estes foram levantados ou não, dependendo se havia ou não havia uma perfuração no papel nesse ponto. A primeira máquina industrial semi automatizada estava funcionando em 1725. O armazenamento de dados e informações tinha dado sua largada. A revolução da tecnologia da informação impulsionou a revolução industrial.

Este princípio utilizado é semelhante ao rolo de piano desenvolvido no final do século XIX, as chamadas pianolas que tocavam canções de maneira autônoma em que seguia padrões que foram desenhados em papel quadriculado perfurado em sequência de partituras definidas. As mesmas pianolas mecanizadas a base de papel perfurado que, nas mãos de um músico e de uma atriz austríaca de Hollywood desenvolveram a base dos sistemas de comunicação através de celulares e rede Wi-Fi durante a segunda guerra mundial.

Mas esta é uma outra história.