Evolução Criativa - Lamarckismo

INTRODUÇÃO

Essa série de artigos constitui um roteiro didático, idealizado para facilitar o entendimento da teoria “Evolução Criativa”, formulada, por Amit Goswami, no livro “Evolução criativa das espécies”. Seria facilitador para aqueles interessados que, como eu necessitei, necessitariam de várias leituras.

Em continuidade a esse roteiro didático, recordando que a teoria foi construída com base, entre outros, em correntes de pensamento sobre a criação e evolução das espécies, tratar-se-á de mais uma teoria evolucionista, o lamarckismo.

Cabe repetir a observação, que os artigos são limitados ao objetivo facilitador da leitura e seu entendimento. Praticamente, seus conteúdos resultam da organização de informações do livro, o que justifica o mesmo como, quase sempre, a única fonte utilizada.

CONCEITO

Lamarckismo é teoria evolucionista, proposta pelo naturalista francês Jean Baptiste Lamarck, em seu livro “Filosofia Zoológica” (1809), anterior à teoria “Origem das espécies pela seleção natural” de Darwin (1859).

Lamarck achava que um organismo contém em si mesmo um modo de responder ativamente ao ambiente, efetivando sua própria evolução. De acordo com a hipótese de Lamarck, os organismos transformavam-se em indivíduos cada vez mais complexos, em decorrência da pressão do meio, que os forçava a mudar. Essas mudanças eram, portanto, decorrentes das necessidades dos indivíduos.

A forma como essas mudanças ocorreriam baseava-se em dois princípios básicos:

- Lei do uso e desuso - Esse princípio afirma que partes do corpo, que são usadas com frequência, tornam-se mais fortes e desenvolvidas, enquanto aquelas que são pouco utilizadas vão atrofiando-se; e

- Lei da herança de características adquiridas - Segundo esse princípio, as características adquiridas durante a vida do indivíduo poderiam ser passadas à sua prole.

Com a biologia molecular, o desenvolvimento da genética, os darwinistas entenderam que, no lamarckismo, a direção do fluxo de informação se moveria das proteínas ao gene. E, a esse entendimento, fizeram as maiores objeções.

MUTAÇÃO DIRIGIDA E LAMARCKISMO

Do ponto de vista da Consciência Quântica em sua totalidade, ou Deus, a motivação é a necessidade de orientar a mudança em determinada direção, para promover a evolução com propósito. No caso de uma catástrofe ambiental, essa motivação evolucionária ressoa rapidamente nos organismos individuais, porque coincide com a necessidade de sobrevivência.

Lamarck ficou famoso por ideias como “sensibilidade ambiental” e “intenção do organismo”. Mas, agora há evidências experimentais a favor de um tipo de lamarkismo, em face de catástrofes ambientais.

Novas evidências experimentais sugerem que certas bactérias, quando ameaçadas de privação em massa, aceleram sua própria velocidade de mutação, para se tornarem uma nova espécie, que pode sobreviver com os alimentos disponíveis (Cairns, Overbaugh& Miller, 1988). É a este comportamento, que se denominou “mutação dirigida”.

Portanto, mesmo na microevolução o lamarckismo pode persistir. Afirma-se que a macro evolução, sobre a influência da criatividade biológica, está mais próxima do lamarckismo que do darwinismo.

ILUSTRAÇÕES DO LAMARCKISMO

Segundo Lamarck, as novas espécies evoluem das ancestrais herdando características adquiridas. Acreditava que características eram alteradas, com o uso e a falta de uso de um órgão, pela influência do ambiente,.

Os Olhos da Toupeira

Os olhos diminutos da toupeira, que mal são visíveis, foram resultantes de seus hábitos que exigem uso muito limitado da visão.

Pele Grossa na Sola dos Pés

O lamarckismo explicaria isso de forma objetiva: ambientes hostis forçaram uma geração de caminhantes de pés descalços a adquirir solas grossas, e gerações posteriores adquiriram isso pela hereditariedade, mesmo após o ambiente ter voltado ao normal.

Alongamento do Pescoço das Girafas

De acordo com as ideias do biólogo, as girafas esticavam seus pescoços a fim de conseguirem alimento, fazendo com que essa parte do corpo ficasse cada vez mais forte e maior (lei do uso e desuso). Essas mudanças, segundo o lamarckismo, eram passadas aos descendentes (lei da herança de características adquiridas). Isso fazia com que os descendentes apresentassem, ao longo do tempo, pescoços cada vez maiores, uma vez que continuavam a se esforçar, e essas mudanças continuavam a ser transmitidas.

ARGUMENTAÇÕES CONTRÁRIAS PELO DARWINISMO

Amit Goswami apresenta essas argumentações como verdadeira cruzada contra o Lamarckismo e realizada em três estágios principais:

- Estágio inicial

Na década de 1880, o biólogo August Weissmann foi o primeiro a sugerir de maneira concreta: a informação somente poderia fluir em um sentido do material hereditário (micro), que ele chamou “linha do germe”, ao soma (físico, macro), mas não no sentido contrário (do macro ao micro);

Segundo estágio

Quando o neodarwinismo (uma nova síntese integrando genética e biologia populacional) foi formulado, a doutrina de Weismann foi reafirmada, usando-se o conceito de gene.

Terceiro estágio

Na década de 1950, quando se descobriu a estrutura do DNA, Francis Crick, elevou a ideia de Weismann a “dogma central da biologia molecular”, e agora baseou-se na linguagem das moléculas: a informação pode fluir do DNA para a proteína (do micro ao macro), e não o contrário (do macro ao micro).

A afirmativa dessa ideia é da maior importância ao materialismo, pois o reducionismo é um de seus aspectos fundamentais: “micro forma o macro; o fluxo causal da informação é ascendente”

O genótipo (micro) afeta o fenótipo (macro). Arranjo equivalente ao reducionismo e à causação ascendente.

Essas ideias, decorrentes da criação da biologia molecular: a informação só flui em um a direção, dos genes para as proteínas e nunca das proteínas para os genes; e o ambiente só pode exercer efeito diretos sobre as proteínas das células somáticas (relativas ao físico), bem como esta informação não pode ser transmitida aos genes das células envolvidas com a reprodução, colocaram a pá de cal sobre o lamarckismo.

ARGUMENTOS E QUESTIONAMENTOS FAVORÁVEIS AO LAMARCKISMO

A maior objeção dos darwinistas sobre a direção errada do fluxo da informação no lamarckismo, das proteínas ao gene, um argumento híbrido lamarckista-darwinista, procura evitar esse problema descrevendo o, mecanismo de heranças adquiridas, sem envolver inicialmente os genes (Hitching 1882) fazendo menção a um processo de três estágios, proposto pelo biólogo John Maynard Smith, no seguinte resumo:

- Primeiro estágio – Adaptação

Adaptação a estímulos ambientais durante o desenvolvimento. Calos nos joelhos dos avestruzes, provocados pelo ajoelharem-se, durante seu estágio juvenil na dureza do solo provocada pela seca;

- Segundo Estágio – Canalização

Se a seca continuar por várias gerações, a resposta ambiental dos joelhos dos avestruzes calejado se aprofunda e se estabelece no grosso da população; e

- Terceiro Estágio – Assimilação Genética

Após algumas gerações, a pressão evolucionária do próprio ambiente vai provocar a seleção de mutações genéticas que (talvez de forma gradual) levará desenvolvimento canalizado. Nesse estágio, a resposta acontece sem o estresse ambiental.

O que os materialistas deixaram de perceber, naturalmente, é a ideia de que os genes não precisam ser a única maneira para que a informação passe de geração em geração. herda-se mais do que genes da geração anterior: num extremo, o citoplasma (região interna da célula) do óvulo e no outro extremo: cultura.

Lamark ficou famoso por sua ideia de herança de características adquiridas. Indivíduos de uma espécie passam, às vezes, por mudanças corporais ou somáticas bem universais, em virtudes de fatores ambientais. Se tais mudanças somáticas pudessem ser passadas para gerações futuras, haveria uma alternativa à evolução darwiniana e ao lamarckismo.

Novas evidências experimentais sugerem que certas bactérias, quando ameaçadas de privação em massa, aceleram sua própria velocidade de mutação para se tornar uma nova espécie, que pode sobreviver com os alimentos disponíveis.

Alguns biólogos materialistas estão aceitando com relutância, novos resultados experimentais que demonstram a existência de herança não genética (Jablonka &Lamb, 2005). Um dos primeiros desses experimentos, tolerância do sistema imunológico de camundongos, foi realizado pelos imunologistas Edward Steele e Reg Gorczynsky (Steele 1980).

A abrangência da teoria da “Evolução Criativa” permite a solução de diversos e antigos pontos duvidosos da biologia. Por exemplo, ideias do lamarckismo, como a de que as características adquiridas durante a existência de um indivíduo podem ser herdadas por sua prole, são reintegradas à biologia, pondo fim a uma longa controvérsia. Esta reconciliação é possível no contexto de uma explicação dos instintos, que há muito se faz necessária.

A teoria da “Evolução Criativa” faz conhecer um mecanismo crível para assimilação genética: a evolução criativa. Quando toda a “gestalt” (conjunto organizado formador de características necessárias) de variações genéticas estiver disponível em possibilidade, de um modo que se sincronize com a criação de formas canalizadas, a consciência escolhe a “gestalt” simultaneamente.

REINTERPRETAÇÃO DO LMARCKISMO À LUZ DA CRATIVIDADE QUÂNTICA.

Transferência de Informação Hereditária por meio de “Campos Morfogenéticos”

Mudanças no ambiente afetam as células e, até conglomerado de células, ou seja, os órgãos. Afetam, também, os “campos morfogenéticos” correlacionados com essas células e esses órgãos, pois os campos morfogenéticos precisam se ajustar a mudanças em suas representações no corpo físico.

Ao fazer tais ajustes, a consciência tem três opções para alterar:

- Pequeno ajuste, se o ajuste for tão pequeno que que o organismo consiga suportar bem sem fazer mudanças, então prevalecerá o condicionamento (inércia);

- Mudança moderada, a solução se encontra no repertório existente de campos morfogenéticos do corpo vital do organismo. A criatividade situacional é suficiente;

- Mudança Importante, então, somente com a entrada em cena da “criatividade fundamental”.

Mecanismo de Transferência

Mudanças ambientais persistentes sobre o soma (físico) de um organismo produzem mudanças, em seus campos morfogenéticos, que se tornam fixas como parte do repertório desses campos.

No início, o repertório é individual, mas a “não localidade” da consciência, no cenário vital, pode assegurar a canalização para toda a espécie, talvez sujeita a um efeito-limite. Depois, quando variações genéticas apropriadas estiverem disponíveis, coincidindo coma pressão ambiental, apropriada, a consciência, mediante a criatividade biológica, pode causar seu colapso e torná-las operacionais, atingindo sincronismo de forma com os campos morfogenéticos, previamente modificados. Nesse ponto dá-se a “assimilação”.

Transferência de Informação Hereditária pela Reencarnação: Alma Grupo

Na reencarnação humana normal, as propensões (inclinações, tendências) mentais e vitais de um indivíduo sobrevivem à morte e são reutilizados por um corpo encarnado, no futuro, graças a uma correlação não local especial. A “Ciência Iniciática explica com a imortalidade: do átomo permanente físico; do átomo permanente astral; e da molécula permanente mental concreta - tríade registradora das experiências das várias personalidades de cada vida vivida pela Individualidade.

Para seres que vivem no nível da mente vital, a estrutura do ego individual ainda não se desenvolveu. Logo, a consciência não local domina a consciência individual fraca. Isso é especialmente válido para os animais. Nas tradições espirituais, que ensinam a crença na reencarnação, essa ideia é expressa pelo conceito de que nos animais têm a alma grupo (as espécies animais não têm individualidade), conceito similar ao de consciência da espécie.

Em termos práticos essa não localidade significa que propensões vitais aprendidas individualmente, segundo a reflexão pela modificação dos campos morfogenéticos, podem se propagar por toda a espécie. Chega-se a um limite, quando se atinge a canalização de toda a espécie.

Esse tipo de evolução plenamente lamarckista pode explicar características como os joelhos couraçados do avestruz e as solas espessas dos pés dos humanos.

NEOLAMARCKISMO E A EXPLICAÇÃO DOS INSTINTOS

Comportamento na visão neodarwiniana

“Toda estrutura e função corporal, sem exceção, é produto da hereditariedade (genética) realizada em alguma sequência de ambientes. Assim, são todas as formas de comportamento, sem exceção”, afirmou o biólogo Theodore Dobzhansky.

Amit Goswami adverte, para alguns comportamentos sim. Genes afetando o comportamento graças à produção de hormônios. Mas, todos os comportamentos? Um retumbante não.

Basicamente, os genes são instruções para a formação de proteínas. Exceto para uns poucos casos de correspondência unitária, é difícil afirmar que exista uma explicação genética para as funções e o comportamento de uma característica. O comportamento instintivo é um exemplo.

Exemplos de Comportamentos Instintivos

Um pinto, ainda dentro da casca do ovo, tenta escapar dando bicadas. Não só isso, sabe que não deve bicar aleatoriamente, mas só na parte onde há um espaço aberto.

Certo tipo de besouro põe seus ovos dentro de uma árvore. Quando os ovos abrem, as lentas larvas passam três anos inteiros dentro da árvore fazendo túneis. Quando finalmente emergem da árvore, constroem um ninho. A complexa natureza do ninho não deixa dúvidas de que as instruções não poderiam ter saído de genes.

Explicação darwiniana para os instintos

Versão do biólogo Douglas Spalding, contemporâneo de Darwin, e reafirmada pelas biólogas Eva Jablonka e Marion Lamb (2005, p 286-287).

Imagine que um Robinson Crusoé adote, logo após chegada à ilha, um casal de papagaios, e os ensine a dizer “como vai senhor?”; e que os filhotes dessas aves também aprendam com o sr. Crusoé e com os seus pais a dizer “como vai senhor?”; e que o sr. Crusoé, tendo pouco mais a fazer, tente provar a doutrina da associação herdada, mediante experimentos diretos.

Crusoé continua com esse ensino, e todo ano cria ninhadas com indivíduos dos anos anteriores que falam, “como vai senhor? Com mais frequência e melhor sotaque.

Após um número suficiente de gerações, seus jovens papagaios, ouvindo continuamente seus pais e centenas de outras aves dizerem “como vai senhor?”, começam a repetir essas palavras tão cedo, que será necessário decidir se o fazem por instinto ou por imitação; talvez seja parte de ambos.

Com o tempo, porém, estabelece-se o instinto. E, embora o senhor Crusoé, tenha morrido, e não, registre mais seu trabalho, o instinto não desaparecerá, pelo menos durante um bom tempo; e, se as próprias aves tiverem adquirido o gosto por uma frase bem pronunciada, os melhores oradores serão selecionados sexualmente e o instinto, certamente, durará para causar espanto à perplexa humanidade, embora, na verdade, possamos também nos questionar sobre o canto do galo o trinado da cotovia.

Segundo Jablonka & Lamb, quando o aprendizado tiver vantagens seletivas ou para a sobrevivência, animais poderão aprender um novo comportamento. Lentamente, a capacidade de aprendizado aumentará e o comportamento tornar-se-á canalizado. Após muitas gerações, a resposta adquirida tornar-se-á instintiva, para todos os fins práticos. Finalmente, ocorrerá a assimilação genética.

Críticas a essa teoria

- A disponibilidade de estresse ambiental prolongado para produzir canalização para toda a população de uma espécie e pouco provável;

- É questionável a viabilidade de se produzir assimilação genética por meio de um processo darwiniano, passo a passo, num espaço de tempo relativamente curto.

OBSERVAÇÃO FINAL

Amit Goswami na construção de sua teoria utilizando-se, em especial: da causação descendente; do mundo vital de possibilidades; dos campos morfogenéticos; e da criatividade vital, situacional e fundamental propõe outro paradigma reconciliando o lamarckismo e a tradicional biologia:

- Para a maioria das funções e comportamentos de uma característica a transferência evolutiva se faz no sentido do macro ao micro pela criatividade situacional, ou fundamental.

FONTES

Livro - “Evolução criativa das espécies” de Amit Goswami – Tradução de Marcello Borges

Sites: mundoeducacao.uol.com.br; e pt.wikipwedia.org.

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J Coelho
Enviado por J Coelho em 08/11/2022
Reeditado em 10/11/2022
Código do texto: T7645539
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