Evolução Criativa - Vitalismo e Campos Morfogenéticos

INTRODUÇÃO

Este artigo dá continuidade à série idealizada como roteiro didático, para facilitar o entendimento da teoria “Evolução Criativa”, formulada por Amit Goswami, no livro “Evolução criativa das espécies”. Acredita-se que essa série facilitaria aqueles interessados, que como eu necessitei, necessitariam de várias leituras.

No artigo “Evolução Criativa das Espécies – Livro de Amit Goswami - Visão Geral”, quando foi abordado de como o autor construiu sua teoria estava, entre outros, presente as teorias existentes sobre criação e evolução: criacionismo; darwinismo; lamarckismo já tratados em artigos anteriores e vitalismo, um dos dois objetos deste artigo.

No artigo “Amit Goswami, Evolução Criativa - Conceitos Fundamentais”, também dentro de como foi construída a teoria, indicou-se a utilização de conceitos fundamentais. Dentre os conceitos ainda não tratados, está o de “campos morfogenéticos”, que é o outro objeto deste artigo.

Antes, julga-se importante, praticamente, transcrever: o que Amit Goswami registra sobre o que pensam os biólogos convencionais sobre a vida; e os subtítulos do artigo “Evolução Criativa – Criatividade”, “Mundos de Possibilidades” e “Criatividade Vital”

VISÃO REDUCIONISTA SOBRE VIDA

Muitos biólogos declararam abertamente que, em última análise, as teorias biológicas devem poder ser reduzidas à física. Francis Crick expressou o sentimento de muitos biólogos, quando disse que “a meta última do moderno movimento na biologia é, de fato, explicar toda a biologia em termos da física e química”.

Para esses biólogos convencionais, a vida é uma propriedade emergente das moléculas complexas da célula, que interagem de formas, também, complexas. Assim como o fígado segrega a bile, a célula segrega a vida.

MUNDOS DE POSSIBILIDADES

Amit Goswami, para apresentar esses mundos, fez uma correspondência com as quatro funções de Jung (1971) desenvolvidas, na ocasião em que realizou seu estudo empírico, sobre a personalidade humana. Essas quatro funções: sensação; sentimento; pensamento; e intuição descrevem o modo predominante como uma pessoa experimenta a vida.

Cada uma dessas experiências vem de um mundo correspondente de possibilidades, ou cada uma dessas funções atua em determinado ambiente diferenciado pela grandeza do intervalo de vibrações que o caracteriza. Mundos com intervalos de frequências menores, ou mundos mais densos, mundos com intervalos de frequências bem maiores, ou mais sutis.

A função sensação de Jung corresponde ao mundo físico de possibilidades, proposto por Amit Goswami; à função sentimento, o mundo vital de possibilidades; à função pensamento, o mundo mental; e à função intuição, o mundo supramental de possibilidades.

As possibilidades sofrem colapso e se tornam eventos reais da experiência consciente, por meio de escolhas conscientes. Não há interação local direta entre esses mundos de possibilidades. A consciência medeia a interação não local, por meio de colapso simultâneo, entre quaisquer dois ou mais corpos (mundos de possibilidades).

CRIATIVIDADE VITAL

Tem-se dificuldades para aceitar a descontinuidade dessa criatividade habitual. Mas a criatividade no plano Vital envolve um grau mais profundo de descontinuidade.

A Criatividade Vital consiste em a consciência descobrir descontinuamente (no domínio vital) o projeto vital, e, ao mesmo tempo, faz no plano físico (denso) uma representação física do mesmo. Essa representação física também atua como aparato de mensuração quântica para facilitar o colapso.

A representação física precisa envolver uma hierarquia entrelaçada e, portanto, sua criação, também, envolve uma descontinuidade.

A criatividade vital está relacionada à representação física da vida, as formas.

O QUE É VITALISMO

Sua origem remonta nas doutrinas filosóficas gregas. Em oposição ao pensamento materialista e mecanicista, é concepção metafísica da vida, que se caracteriza por definir a especificidade do fenômeno biológico. Afirma a existência de uma força vital.

Doutrina formulada por cientistas europeus, entre meados dos séculos XVIII e XIX, que defendia a ideia de que os fenômenos relativos aos seres vivos (evolução, reprodução e desenvolvimento) seriam controlados por um impulso vital de natureza imaterial, diferente das forças físicas ou interações fisioquímicas conhecidas.

O vitalismo é uma doutrina que considera haver em cada indivíduo um princípio vital, que gera a vida por energia própria. Essa força vital é peculiar aos organismos vivos e difere de todas as outras forças encontradas fora das coisas vivas. Controla o desenvolvimento, a forma do organismo e a direção de suas atividades.

Essa doutrina, contrária ao mecanicismo e ao organicismo, afirma que os processos biológicos ou orgânicos são irredutíveis aos simples fenômenos bioquímicos que neles ocorrem. Portanto, rejeita a possibilidade de reduzir o orgânico ao inorgânico.

QUESTIONAMENTOS SOBRE O VITALISMO

Na metodologia adotada para expor sua teoria “Evolução Criativa”, Amit Goswami, ao expor sobre alguma teoria, da qual alguns conceitos e princípios seriam aproveitados, sempre, sobre essa mesma teoria, apresenta os questionamentos, em especial dos darwinistas.

A cruzada contra o vitalismo é ainda mais importante para os materialistas do que outras, como a contra o lamarckismo, pois o vitalismo é ameaça contra o pilar mais sólido da filosofia materialista – o primado da matéria. Essa supremacia da matéria não se justificaria se a vida exigisse uma substância vital para sua operação.

A oposição ao vitalismo baseou-se em abordagem anterior à biologia molecular, que via o vitalismo como dualismo, com a questão duma substância vital não material poder interagir com substância material.

Sobre qualquer coisa vital que se possa sentir, esses opositores as têm como parte da experiência subjetiva interior. Essas experiências internas seriam produtos acidentais, acessórios, de um processo, de um fenômeno essencial, sobre o qual não tem efeitos próprios (epifenômenos) da matéria, do corpo físico.

ARGUMENTAÇÃO EM DEFESA DO VITALISMO

Os sistemas médicos orientais da acupuntura e da ayurveda, bem como o sistema ocidental, denominado homeopatia, dependem essencialmente do conceito de energia vital.

A expressão, cunhada pelo filósofo Henri Bérgson, “elã vital” foi um conceito popular na biologia no início do século XX e permaneceu durante algum tempo.

Experimentos de não localidade quântica como: procedimento experimental de Backster; experimentos pioneiros de Bernard Grad; e demonstração conclusiva de Scheldrake sobre comunicação não local dos cães com seus donos – que envolvem o compartilhamento da energia vital (sentimento) entre humanos, animais e plantas, constituem as mais convincentes evidências da energia vital.

A “veste vital” (corpo vital), contra parte do “corpo físico denso”, ambos conceituados pela “ciência Iniciática das Idades”, teve sua comprovação no início do século XX, quando o casal de cientistas russos Kirlian registrou essa veste vital, em seu invento conhecido como “máquina kirlian” (fotos kirlian).

Essas fotos kirlian são uma primeira indicação de que a energia vital poderá ser medida, apesar de a impossibilidade, pelo fato os instrumentos físicos pertencerem a mundo diferente da energia vital. Para tal, usar-se-ia estratégia semelhante à usada para medir o pensamento, com aparelhos de imagem por ressonância magnética.

A ciência ocidental abraçava o vitalismo, a ideia de que um “corpo vital” incutiria vida na matéria. Com o surgimento da biologia molecular, o funcionamento da célula passou a ser elucidado em detalhes imprevistos e o vitalismo foi rejeitado.

Pelo fato de a morfogênese, processo de criação de formas, ser uma das fraquezas da literatura materialista, o vitalismo experimentou espécie de retorno na década de 1980 com a introdução de Rupert Sheldrake (1981), da ideia de campos morfogenéticos não locais e não físicos.

DENOMINÇÃO MAIS AMISTOSA AOS OPOSITORES

Quando Sheldrake introduziu o conceito de campos morfogenéticos não materiais e não locais, negou deliberadamente que estivesse reativando o vitalismo, provavelmente negou por medo à rejeição, visto ser o vitalismo ameaça contra o pilar mais sólido da filosofia materialista – o primado da matéria.

Por isso, Amit Goswami propõe: substituir a denominação de campos morfogenéticos de Sheldrake por uma denominação menos sujeita à rejeição, mais amistosa e familiar – “corpo vital”; e chamar de “energias vitais” as “energias” dos movimentos dos campos morfogenéticos. Essas energias vitais correspondem: no oriente à tradicional prana em sânscrito, chi em chinês e ki em japonês; e no ocidente à recente expressão energias sutis.

QUE SÃO CAMPOS MORFOGENÉTICOS

Em 1981, Rupert Sheldrake publicou um pensamento inimaginável: “os campos morfogenéticos, a fonte de programas aos quais as formas biológicas obedecem, são extrafísicos, não materiais”. Os campos morfogenéticos encontram-se fora do mundo material”.

Campos morfogenéticos são os projetos da criação de formas biológicas. São os campos que ajudam a programar a forma biológica e encontram-se fora do mundo material. Reserva-se o conceito de campos morfogenéticos para a situação na qual a não localidade entra na criação das formas.

Os Campos Morfogenéticos ajudam a prover as células com os programas de diferenciação de células, cruciais para o desenvolvimento de todos os tecidos necessários à vida.

As diferenças de funcionamento entre células, por exemplo de cérebro e do fígado, são feitas por programas que permitem que diferentes conjuntos de genes criem diferentes conjuntos de proteínas funcionais nos diferentes órgãos.

INTERAÇÃO DOS CAMPOS MORFOGENÉTICOS COM A MATÉRIA FÍSICA

No mundo a interação se faz pela troca de energia, mediante sinais que vão de um corpo a outro, através do espaço durante um tempo finito. Mas a energia, no total, do universo físico permanece sempre a mesma.

Mas, se o mundo físico interagisse com os campos não materiais, morfogemnéticos, não haveria alguma perda do universo físico, com algum escape para o mundo não físico dos campos morfogenéticos? Experiências demonstram conclusivamente que a energia do universo físico é sempre constante.

Então, a interação dos campos morfogenéticos com a matéria física é uma espécie de ressonância. Essa interação é não local, instantânea e não exige uma troca de sinais através do espaço.

A física quântica com a não localidade, demonstrada, em 1982, pela experiência do físico Alain Aspect e seus colaboradores Dalibard e Roger, deram apoio a ideia de Sheldrake.

A grande exigência filosófica para com a teoria de Sheldrake é um mediador não local, pois, somente com ele essa interação poderia ser realizada. Amit Goswami afirma que com a interpretação da física quântica sob o primado da consciência fica resolvido o problema com mediador não local.

EVIDÊNCIA À EXISTÊNCIA DE CAMPOS MORFOGENÉTICOS

A primeira fonte de evidências é que se pode medir a energia vital que se sente, medindo seus correlatos materiais.

Outras evidências do corpo vital surgem com sua importância nos sistemas de medicina desenvolvidos não apenas no Oriente, na forma da medicina tradicional chinesa e indiana (esta denominada ayurveda), como também no Ocidente, na forma da homeopatia

DESENVOLVIMENTO DAS FORMAS ANIMADAS

Tratar-se-á de desenvolvimento das formas animadas, vivas, que são as representações físicas da vida.

Necessidade de os campos morfogenéticos

A dinâmica local produz possibilidades macroscópicas de forma, dentre as quais a consciência pode fazer sua escolha. Esta escolha e o colapso resultante de possibilidades de forma são não locais e, para esta escolha, a consciência precisa dos campos morfogenéticos.

Analogia com a Construção de uma Casa

A consciência corresponderia ao arquiteto na construção de uma casa. A consciência usa os campos morfogenéticos para construir formas biológicas, assim como um arquiteto usa o projeto para construir uma casa. O projeto do arquiteto é modular, assim como as formas físicas que são reunidas para representar os projetos.

O arquiteto começa com os materiais básicos da construção e conduz habilmente a dinâmica interna do material para criar formas segundo o projeto da casa. O mesmo se aplica a formas vivas, exceto que, agora, tudo, tanto o projeto como o material de construção são ondas de possibilidades. As formas disponíveis são, em grande parte determinadas pelos genes, eles próprios possibilidades de forma.

Quando a consciência quântica encontra um ajuste (por exemplo uma ressonância) de movimentos entre um projeto morfogenético e uma “gestalt” (reunião de partes para tornar-se um todo unificado) de diversos padrões de forma possíveis para um órgão, causa o colapso da realidade.

Ao construir uma complexa forma biológica om funções complexas, são usados campos morfogenéticos para montar formas modulares. Esses módulos biológicos individuais constituem o resultado da dinâmica caótica das macromoléculas.

Um arquiteto conecta os módulos físicos por meio de visualização e pensamento. De modo análogo, ao conectar os módulos das formas biológicas, a consciência é guiada pelos sentimentos dos correspondentes campos morfoigenéticos correlacionados no caminho da construção de formas do micro até o macro.

As formas não podem ser combinadas pouco a pouco, por mais que sejam modulares. Há sempre uma hierarquia entrelaçada. É necessário um evento descontínuo de colapso para sua formação criativa. Toda “gestalt” de possibilidades deve sofrer colapso de uma só vez, mediante a causação descendente. Como a forma final é hierarquicamente entrelaçada, ela não pode ser sintetizada de maneira simples passo a passo como a evolução darwiniana gradual.

Sem perceber (ou seja, no modo inconsciente), a consciência processa os diversos módulos possíveis de forma até encontrar um ajuste entre certa “gestalt” desses módulos possíveis e o projeto para o órgão ou característica que está tentando desenvolver. A identificação da “gestalt” leva à escolha e ao colapso descontínuo, o salto quântico. A forma final é hierarquicamente entrelaçada e não pode ser reduzida às suas partes ou sintetizadas das partes por qualquer meio contínuo.

RESULTANTES DO DESENVOLVIMENTO DAS FORMAS ANIMADAS

A realidade física resultante é a forma, o formato e a função do órgão (aceito pelo biólogo), mas há um outro componente: o campo morfogenético manifestado, presente na percepção da psique do ser vivo, é experimentado como sentimento. Este sentimento interno é a sensação de se estar vivo, que Bergson chamou de “elã vital”.

A forma e os órgãos são feitos inicialmente na consciência – Deus, mas quando cessa o processo de criação de formas e elas começam a ser utilizadas, a sensação de estar vivo, reflete mais e mais os efeitos do condicionamento.

OBSERVAÇÕES FINAIS

A primazia da matéria é frontalmente posta em cheque com a existência de um princípio vital, uma força vital peculiar dos organismos vivos que: gera a vida por energia própria; e controla o desenvolvimento, a forma, a direção de as atividades. do organismo.

As representações físicas da vida, as formas, se complexas, para serem realizadas dependem de a consciência que necessita dos campos morfogenéticos para fazer suas escolhas por meio de um processo inconsciente, não local e não gradual. A consciência realiza esse ajuste reunindo diversos módulos de possibilidades necessários ao projeto e num salto quântico transforma o projeto em realidade.

Como é sabido Amit Goswami desenvolveu sua teoria “Evolução Criativa” como resposta de novo paradigma à biologia. Para tanto, tomou como referência diversas correntes de pensamento que tratam da criação e ou evolução. Dessas correntes, da física quântica selecionou conceitos e aperfeiçoou outros.

Em artigos anteriores já se tratou das correntes de pensamento: Criacionismo, Designío Inteligente e neste, do Vitalismo; e dos conceitos fundamentais: consciência quântica; não localidade; autorreferência; hierarquia simples; hierarquia entrelaçada; descontinuidade; causação descendente; criatividade situacional; criatividade fundamental; criatividade vital; e neste corpo vital e campos morfogenéticos.

Outros, anteriormente destacados, gradualismo e macro evolução serão tratados oportunamente.

FONTES

Livro “Evolução criativa das espécies” – Amit Goswami – Tradução por Marcello Borges

SITES: estudantedefilosofia.com.br; e pt.wikipedia.org

ENDEREÇOS RELACIONADOS

DICA DE LEITURA – EVOLUÇÃO CRIATIVA DAS ESPÉCIES – AMIT GOSWAMI

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7531949

EVOLUÇÃO CRIATIVA DAS ESPÉCIES – LIVRO DE AMIT GOSWAMI – VISÃO GERAL

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7585036

FUNDAMENTOS DA FÍSICA QUÂNTICA

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7537724

A ESCOLHA NO COLAPSO QUÂNTICO QUEM FAZ?

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7601013

CONSCIÊNCIA QUÂNTICA

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7604652

AMIT GOSWAMI, EVOLUÇÃO CRIATIVA – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7609809

EVOLUÇÃO CRIATIVA - CRIATIVIDADE

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7616377

EVOLUÇÃO CRIATIVA – CRIACIONISMO E DESIGNÍO INTELIGENTE

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7619635

J Coelho
Enviado por J Coelho em 17/10/2022
Código do texto: T7629345
Classificação de conteúdo: seguro