Amit Goswami, Evolução Criativa - Conceitos Fundamentais

INTRODUÇÃO

Este artigo dá continuidade à série idealizada como roteiro didático, para facilitar o entendimento da teoria “Evolução Criativa”, formulada por Amit Goswami, no livro “Evolução criativa das espécies”. Acredita-se que essa série facilitaria aqueles interessados que, como eu, necessitariam de várias leituras.

Entendeu-se que Amit Goswami para criar sua teoria, além de utilizar muitas das teorias voltadas à evolução e ou criação e da física quântica, teve que postular ou incorporar conceitos fundamentais, nos quais alicerçou sua teoria.

Destacam-se: consciência quântica; causação descendente; autorreferência; hierarquia entrelaçada; não-localidade; descontinuidade; criatividade situacional; criatividade fundamental; macro evolução; corpo vital; e campos morfogenéticos.

Trataremos a seguir alguns desses conceitos. entretanto, antes vamos apresentar, de forma resumida. o experimento da escolha retardada e consideração sobre manifestação.

EXPERIMENTO DA ESCOLHA RETARDADA E A MANIFESTAÇÃO DE FORMA RETROATIVA

O físico John Wheeler (1977) sugeriu esse experimento para demonstrar que a escolha consciente, até a escolha retardada, é crucial para moldar a realidade manifestada. Experimento comprovado em laboratório em 1986 por Helmuth, Zanjonc & Walther.

O experimento encontra-se no livro, com apoio de esquema gráfico, devidamente explicado. Como não tenho esse recurso na minha modalidade gratuita no Recanto das Letras, para o desenvolvimento de textos, seria interessante que, os que tiverem utilizando esse roteiro didático, antecipassem a leitura desse experimento, encontrado nas páginas 111 – 113.

O experimento consiste em dividir um feixe de luz em outros dois usando-se um espelho semirrevestido; reuni-los novamente num outro ponto com a utilização de outros dois espelhos (totalmente revestidos) que refletirão cada um desses dois feixes, resultantes da divisão do primeiro, para convergirem num segundo ponto.

São colocados dois detectores de luz (fótons) além do ponto de convergência. Cada um desses dois detectores irá captar um fóton 50% do tempo. Cada detecção define um caminho e o fóton mostra seu aspecto partícula, pois seu caminho foi detectado pela disposição da experiência.

Se for colocado, após a luz já ter se dividido no primeiro espelho, um outro espelho semirrevestido numa posição tal que cada um dos dois feixes convergentes se divida em outros dois (um refletido e outro transmitido) de igual intensidade. E, de mesma forma colocado detector de luz (fótons) para medir o resultado da parte refletida do feixe original e a parte refletida do outro feixe. Esses dois feixes operam juntos e, recombinam-se, interferindo um com o outro, como ondas,

Cabe aqui recordar que quando dois feixes se recombinam e interferem um com o outro, essa interferência pode ser: construtiva, em que um feixe reforça o outro, como ondas, comprovando-se a natureza ondulatória dos fótons; ou destrutiva, em que um feixe anula o outro, as ondas se destroem.

É possível dispor os detectores de fótons de maneira que as duas ondas interfiram construtivamente de um dos dois lados do espelho (sem revestimento por exemplo) e destrutivamente do outro.

O experimento demonstra que a luz e, com efeito, todos os objetos quânticos são tanto onda como partícula.

Wheeler sugeriu outra variante no experimento. Suponha-se que se insira um segundo espelho dentro do lapso de tempo que a luz leva do primeiro espelho para ser refletida no segundo e chegar ao ponto de convergência dos dois feixes (originalmente um transmitido e outro refletido, - o primeiro espelho é semirrevestido).

Os fótons respondem até mesmo à escolha “retardada” de inserir-se um segundo espelho e se comportam como ondas, viajando pelos dois caminhos. Isso significa afirmar que a luz é uma onda de possibilidade. Todo o caminho do objeto se mantém como uma possibilidade até uma observação torná-lo manifestado de forma retroativa, recuado no tempo.

Esse experimento da escolha retardada para o ambiente micro (fótons) foi realizado com sucesso para o mundo macro pelo físico e parapsicólogo Helmut Schmidt e seus colaboradores em 1933.

Schmidt combinou experimentos que já havia realizado com geradores de números aleatórios (experiências para demonstrar o poder psíquico – psicocinese) e o experimento da escolha retardada. (pgs 114 e 115).

Graças à variante do experimento, chegou-se à conclusão: “não há nada no universo manifestado até um observador ver algo. Todas as coisas permanecem como possibilidades, até coisas macroscópicas, enquanto a consciência não escolher uma dentre as possibilidades e ocorrer um evento de colapso”.

AUTORREFERÊNCIA

Esse termo auto por si só, a si mesmo referência, significa referência a si próprio, a si mesmo.

Afirma Amit Goswami: “no ser humano, a consciência torna-se autorreferente no ato da observação quântica, no ato de escolher a realidade dentre as possibilidades quânticas”.

A seguir chama atenção: “o observador escolhe dentre as possibilidades quânticas apresentadas pelo objeto. Mas, antes de causar o colapso das possibilidades, o próprio observador consiste de possibilidades e não está manifestado. É preciso um observador para causar o colapso da onda de possibilidades, mas o colapso é necessário para manifestar o observador. De modo mais sucinto: não há colapso sem observador, mas não há observador sem um colapso.

Reforça, acrescentando: a consciência causa o colapso das ondas de possibilidades do observador (ou seja, de seu cérebro) e do objeto simultaneamente, a partir da realidade transcendente da base da existência, que a consciência representa.

O pesquisador de inteligência artificial Douglas Hofstadter (1980) denominou esses tipos de circularidades nas quais os níveis causais são infinitamente entremeados de “hierarquias entrelaçadas”, ou emaranhadas. E ilustrou com o “paradoxo do mentiroso”.

Paradoxo do mentiroso expresso na frase “sou mentiroso”, circularidade, na qual os níveis causais se entremeiam:

Se sou mentiroso, então estou dizendo a verdade, se estou dizendo a verdade, então estou mentindo, ad infinitum. Contudo, esta oscilação infinita tornou essa frase muito especial: a frase fala por si mesma, à parte do resto do discurso.

A Consciência Quântica que escolhe – Deus se preferir – está implícita, e não explícita, transcendente, e não imanente. O colapso de hierarquia entrelaçada, dando a aparência de autorreferência e de cisão sujeito-objeto. O observador-eu, o sujeito aparente do colapso, surge, codependente do objeto, com o objeto, porque a consciência se identifica com o cérebro do observador, mas não com o objeto (Goswami, 1989,1993).

COLAPSO QUÂNTICO (CAUSAÇÃO DESCENDENTE)

Quando se observa, as ondas de facetas possíveis, ocorre o Colapso Quântico e a faceta possível se torna realidade (por exemplo a onda se torna uma partícula após o colapso).

O colapso quântico de possibilidades em uma realidade é descontínuo (descontinuidade).

Não se pode dizer que um Objeto Quântico se manifeste na realidade comum espaço-tempo, até que seja observado como partícula.

Em Física Quântica, os objetos quânticos são ondas de possibilidades, sem uma realidade manifestada no espaço-tempo... Até que se faça uma medida (mensuração quântica) e se passe das possibilidades descritas na função de onda, para a realidade que medimos.

Ao medirmos um Objeto Quântico (mensuração quântica), o limitamos a um espaço e então deixa de ser onda e passa a ser observado como partícula. Ao fazer isso, se está colapsando a função de onda do Objeto Quântico. Este colapso o transforma numa realidade.

Causação Descendente é o agente desse colapso quântico

Essa causação provém de uma consciência-Deus não-comum no interior de cada um, “mais elevada” do que sua consciência egóica individual comum”.

Causação descendente e ascendente não podem ser tratadas como opções do tipo ou uma ou outra. Tanto uma como outra tem validade na abordagem desenvolvida pela teoria de Amit Goswami: “Evolução Criativa das Espécies”.

HIERARQUIA SIMPLES

Imagine-se um contador Geiger, instrumento que, apenas, amplifica o estímulo ou sinal recebido, é uma hierarquia simples: aquilo que é sinal (o micro) e aquilo que é o amplificador, sendo afetado pelo sinal (o macro) estão claramente separados; formam, portanto, uma hierarquia simples de causa que se move em uma direção.

HIERARQUIA ENTRELAÇADA

O observador, o sujeito, escolhe o estado manifestado dos objetos em colapso, mas sem os objetos em colapso, inclusive o observador, a experiência do sujeito também não têm lugar. Essa lógica circular do surgimento (da manifestação) dependente de sujeito e objeto é chamada hierarquia entrelaçada, ou emaranhada.

Em sistemas autorreferentes, como por exemplo o cérebro, os níveis causais envolvidos na transição entre micro e macro formam uma hierarquia entrelaçada.

Sempre que se causa o colapso de uma onda de possibilidade quântica, está presente uma “hierarquia entrelaçada” em sua mensuração. Observa-se que a existência da hierarquia entrelaçada depende vitalmente do aspecto micro-formando-macro da matéria. Assim o colapso quântico e a manifestação só podem ocorrer quando a matéria está em jogo.

Anteriormente, quando da conceituação de autorreferência, vimos que foi O pesquisador de inteligência artificial Douglas Hofstadter (1980) quem denominou esses tipos de circularidades nas quais os níveis causais são infinitamente entremeados de “hierarquias entrelaçadas” e a ilustrou com o “paradoxo do mentiroso”.

OBSERVAÇÕES FINAIS

Dedicou-se um artigo específico, “Consciência Quântica”, para tratar de consciência quântica e não-localidade. Neste abordou-se: autorreferência; hierarquia simples; hierarquia entrelaçada; descontinuidade; e causação descendente. Os outros, anteriormente destacados: criatividade situacional; criatividade fundamental; macro evolução; corpo vital; e campos morfogenéticos, serão tratados oportunamente.

Deste conteúdo algumas conclusões:

- Tudo manifestado, realidade no espaço-tempo, depende: de a existência implícita, transcendente de consciência; de a criação de possibilidades – de objetos e observadores; e de a escolha (retardada, autorreferente) por observador entre essas possibilidades, evento de colapso causador descendente, da realidade; e

- Em sistemas autorreferentes, a transição entre micro e macro tem sempre a matéria em jogo e os níveis causais envolvidos formam uma hierarquia entrelaçada.

Alguns desses conceitos, aqui relacionados, são utilizados, além de, entre outros, para: a proposição de a teoria da evolução criativa; para uma espécie de validação da mesma, quando: ele explica a origem dos universos; a origem da vida; para propor a nova biologia; e para propor o neolamarckismo.

FONTE

Livro “Evolução criativa das espécies” de Amit Goswami – tradução de Marcello Borges

ENDEREÇOS RELACIONADOS

DICA DE LEITURA – EVOLUÇÃO CRIATIVA DAS ESPÉCIES – AMIT GOSWAMI

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7531949

EVOLUÇÃO CRIATIVA DAS ESPÉCIES – LIVRO DE AMIT GOSWAMI – VISÃO GERAL

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7585036

FUNDAMENTOS DA FÍSICA QUÂNTICA

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7537724

A ESCOLHA NO COLAPSO QUÂNTICO QUEM FAZ?

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7601013

CONSCIÊNCIA QUÂNTICA

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7604652

J Coelho
Enviado por J Coelho em 19/09/2022
Reeditado em 20/09/2022
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