Uma validação pseudo-paradoxal do determinismo biológico
A epigenética não prova a ideologia da tabula rasa...
Durante alguns meses do rigoroso inverno europeu de 1944-45, invasores nazistas cortaram todo suprimento de comida de 4,5 milhões de pessoas, nas regiões ainda ocupadas do território neerlandês, resultando em uma crise de fome coletiva que matou aproximadamente 20 mil pessoas por desnutrição severa. Então, décadas depois, suas consequências continuaram a ser sentidas na geração dos filhos de mulheres que estavam grávidas naquele período crítico da história dos Países Baixos, porque foi percebido que apresentavam uma maior incidência de doenças metabólicas, como o diabetes e a obesidade, problemas cardiovasculares, esquizofrenia... do que em relação ao restante da população do mesmo país.
Pois parece notório observar que, condições extremas, de acordo com o que é considerado extremo para cada espécie, costumam causar efeitos extremos nos organismos dos seres vivos. No entanto, também é necessário que esses organismos não estejam adaptados a suportar tais condições, tal como no caso dos seres humanos. Portanto, não é apenas o ambiente que os influencia, porque eles respondem e interagem de acordo com as suas próprias naturezas (seus limites e potenciais adaptativos).
Em relação ao famoso exemplo acima, muito usado como demonstração de efeitos epigenéticos transgeracionais, ele não prova que o meio é mais importante que a biologia, mesmo que muitos tenham chegado a essa conclusão. Na verdade, prova que é a biologia que determina as reações comportamentais e/ou orgânicas dos seres vivos às diferentes condições ambientais nas quais se encontram, sempre ela que dá a resposta final. Por isso que, se o organismo humano fosse plenamente adaptado a uma situação de penúria alimentar, não sofreria maiores repercussões se fosse submetido à mesma.
Afinal, o que torna algumas espécies mais adaptadas à condições extremas, como algumas bactérias, e outras não??
Principalmente as suas biologias.