“Privilégio branco”: Termo desestimula apoio a políticas favoráveis a negros e dificulta discussões construtivas sobre igualdade racial

Se alguém pretende construir uma discussão online com o objetivo de persuadir outras pessoas a, por exemplo, apoiarem ações afirmativas favoráveis a pessoas negras, utilizar da expressão “privilégio branco” não é uma boa ideia. O termo pode desestimular o alvo do convencimento a participar das discussões e pode até mesmo incentivar a diminuição do apoio a políticas racialmente justas.

A conclusão é do estudo revisado por pares intitulado “How the term “white privilege” affects participation, polarization, and content in online communication” [Como o termo “privilégio branco” afeta participação, polarização e conteúdo na comunicação online”, em tradução livre], publicado em 4 de maio de 2022, no periódico PLOS ONE. Trata-se de um estudo produzido dentro do contexto americano, mas que pode ser útil para movimentos sociais brasileiros.

“No geral, a menção ao privilégio branco parece criar discussões na internet menos construtivas, mais polarizadas e menos favoráveis ​​a políticas racialmente progressistas”, diz a pesquisa elaborada por Christopher L. Quarles e Lia Bozarth, dois doutorandos da School of Information, da Universidade de Michigan.

A pesquisa constatou que utilizar de “desigualdade racial” em vez de “privilégio branco” é melhor para se construir conversas com maior participação e maior apoio às políticas favoráveis a negros.

“A desigualdade racial foi escolhida como contraponto ao privilégio branco porque parecia menos provável de aumentar a relevância da identidade racial. A igualdade é um ideal americano que pensamos que a maioria dos entrevistados apoiaria”, diz o estudo. Foram feitos dois experimentos com 924 residentes dos Estados Unidos – 74% deles eram brancos.

Em um dos experimentos, entrevistados responderam a respeito de renomeações de edifícios universitários. Os termos “privilégio branco” e “desigualdade racial” aparecem como intercambiáveis entre si. Uma das perguntas: “As faculdades deveriam renomear prédios que receberam o nome de pessoas que apoiaram ativamente a/o desigualdade racial/privilégio branco?”.

A média dos brancos que responderam “sim” à pergunta com o termo “desigualdade racial” foi superior à média dos que responderam positivamente à questão com a expressão “privilégio branco”.

No outro experimento, entrevistados receberam aleatoriamente uma ou outra de duas perguntas quase idênticas. Mais uma vez, a única e fundamental diferença: ou a questão tinha o termo “privilégio branco” ou tinha “desigualdade racial”. Foram questionados se responderiam a pergunta, caso a vissem em algum fórum online ou se fariam alguma postagem online relacionada a ela.

“Os brancos eram menos propensos a responder à questão do privilégio branco do que à questão da desigualdade racial”, diz o estudo. Ademais, o termo “privilégio branco” deixava brancos mais inibidos a criarem postagens online sobre o assunto.

O estudo não discute se o termo “privilégio branco” é válido ou não. O objetivo foi descobrir qual o impacto desse termo na comunicação online, em especial nas discussões sobre temas relacionados a discriminação racial.