O “ESPÍRITO” (DO TEMPO) E A TECNOLOGIA DA CRIAÇÃO —XXXV—
O “ESPÍRITO” (DO TEMPO) E A TECNOLOGIA DA CRIAÇÃO —XXXV—
Os espíritos foram criados para se hostilizarem entre si, mesmo quando, aparentemente, estão em suposta harmonia. Espíritos são o encontro no desencontro. A complementação dos sentidos do corpo, dito humano. Um ser, dito humano, tende a ver em seu semelhante, a inadequação, a tribulação, o desconforto que não ousa ver em si mesmo. As coisas características transpõem para o outro de si mesmo, que é o análogo próximo: manhas, melindres, cacoetes, vezos. Leiamos outra vez o penúltimo parágrafo do artigo anterior:
— Você traz a sobremesa eu como, você traz a Coca-Cola eu tomo... Eu como, eu como, eu como, eu como: você. Todas as realidades do mundo globalizado pelos supremacistas brancos estavam a se devorar mutuamente, sem nenhuma conceituação acadêmica que pudesse ter tempo de prever, pressagiar, predizer ou profetizar os acontecimentos regressivos que daí adviriam. Não havia tempo hábil para preservação sequer do próprio sexo. A comilança de todos copulando com todos, possuindo-se mutuamente.
Lembra uma cidade de antigamente, citada na Bíblia, dita sagrada, em que seus habitantes não livravam a cara nem as criaturas divinas, mensageiras e arautas do Deus Et do Antigo Testamento??? Seus habitantes queriam copular até mesmo com os Anjos do Senhor Et: enrabar e penetrá-los intimamente pelo ânus. Você, caro leitor, sabe a destinação de Sodoma??? A verdade é que a estética musical do tropicalismo nacional cantada por aquelas crianças do palco da MPB na década de 60, estava a vomitar a própria revolta contra aqueles adultos que as mutilaram psicologicamente. Que as destinaram a conviver com mazelas íntimas, particulares, próprias do abuso sexual que haviam de levar na mala para onde quer que fossem.
Caetano: “no dia que me vim embora/minha mãe chorava em ai/minha irmã chorava em ui/eu nem olhava pra trás/no dia que vi-me embora/não teve nada demais/mala de couro forrada/com pano forte, brim cáqui/minha vó já quase morta/minha mãe até a porta/minha irmã até a rua/até o porto meu pai/(...)/e quando me vi sozinho/vi que não entendia nada/nem de pronde estava indo/nem dos sonhos que sonhava/senti apenas que a mala/de couro que eu carregava/embora estando forrada/fedia, cheirava mal”.
A canção mexia com sentimentos e emoções de toda uma juventude desesperada para sair de casa sem saber ao certo para onde ir. Atravessando o caminho, nem chorando nem sorrindo, sozinho pra capital. Essa a cultura da época, o espírito do tempo que jovens haviam de encarar, mesmo contra a vontade. A civilização caucasiana dos supremacistas brancos europeus e americanos os havia desenraizado na marra. Mas, bem ou não queiramos admitir, as raízes das quais se desenraizavam, estavam mesmo apodrecidas.
Era como se a atmosfera não tivesse oxigênio, sendo rica apenas em hidrogênio, amônia, gás metano e água. Tal qual a sopa primordial figurativa da realidade produzida no quadro de Andy Warhol em 1962, em que reproduzia 32 latas de sopa Campbell. A juventude no Brasil, nas Américas, no mundo, estava a encarar a síntese pré-biótica de uma realidade orgânica desesperava por encontrar e combinar materiais que dessem origem a uma nova forma de sobrevivência: síntese celular onde as moléculas orgânicas produzissem aminoácidos que dariam origem às novas formas de vida no século XXI.
Toda a população planetária estava sendo intimada a se lançar no abissal mundo civilizatório da sociedade de consumo: consumir e consumir-se nela, realidade cultural de uma civilização criada para a gloriosa desgraça de uma vida ditada pelas forças propulsoras do movimento histórico liderado por supremacistas caucasianos e caucasiânus. A vida PSI e física se formando enquanto resultado da combinação de compostos inorgânicos que se combinavam para formar moléculas orgânicas de aminoácidos lisérgicos, com bases nitrogenadas de ácidos lisérgicos graxos.
Toda uma geração de milhões de seres que tinham de, obrigatoriamente, aceitar essa realidade urbana neooriginal e ficar Odara. Tal qual afirma o candomblé: ficar tudo e todo mundo joia rara, qualquer coisa que se sonhara: canto e danço que dará. O canto e a dança destrutiva de mundos, cantada e dançada pela divindade Shiva. Shiva, Odara, Exu presentes em toda essa falange legionária de anjos tortos habitando cidades, ou aglomerados de gentes que deveriam promover-se e à na nova Sopa original ou “caldo primordial”, termo criado pelo biólogo soviético Aleksandr Oparin.
Uma realidade horrivelmente afirmada, a partir do corte do cordão umbilical de gerações e gerações precedentes daquela juventude forjada a fórceps na década de sessenta. A década que não acabou. Um mundo de pessoas vivendo sem saber para onde ir. Coagidas pela história supremacista e globalizada da coisificação em massa. Uma história de pessoas oprimidas, reduzidas à coisificação de se tornarem, enquanto dormem ou supostamente despertam, criaturas terminais: cyber sapiens.