ECOLOGIA DA INFORMAÇÃO: Combate ao lixo informacional virtual.
RESUMO
A Ecologia da Informação, especificamente no que diz respeito ao uso da informação no mundo virtual que antes da evolução tecnológica se limitava a livros, revistas e jornais impressos onde a preocupação ecológica era voltada mais para o ambiente. Atualmente, faz necessário preocupar-se com o uso da informação e o rumo que se tem tomado, bem como o seu destino na interação homem-informação-virtual. Fez-se uma análise de tipos de informação inserida no meio virtual e a influência que ela exerce aos usuários desse meio, principalmente quando é compartilhado na rede. Busca-se conhecer a faculdade legal do uso da informação para a reflexão e uma possível construção de métodos que pretenda combater informações desnecessárias, identificadas como lixo informacional.
Palavras-chave: Ecologia da Informação; Internet; Lixo informacional; Informação.
1 – INTRODUÇÃO
A informação sempre foi motor da comunicação e do desenvolvimento entre os indivíduos da sociedade, desde muito antes de o homem conhecer os números e a escritura, a informação já existia. E por muito tempo a informação vem sendo um instrumento de domínio (poder) para quem a detém.
Por quase um século a informação foi propagada sob o domínio das rádios e das TV, com exceção é claro dos livros, revistas e jornais impressos que já existiam antes. Estas exceções tem uma abordagem não menos importante, mas mais por analogia, pois se tem a preocupação ambiental por consequência ao uso contínuo e excessivo do papel e a influência da (des)informação divergir da forma como é considerada hoje.
O surgimento de um novo meio de comunicação e informação em 1969, a Arpanet, então conhecida como internet, possibilitou que a informação fosse tratada e disseminada de forma instantânea e abrangente. É por causa de muitos aspectos e comportamento do uso desse veículo que paramos pra observar, analisar e discutir sobre como a informação está sendo utilizada e qual a finalidade do seu uso nesse meio.
Quando o uso da informação na internet for utilizado na forma de conteúdo inadequado, desnecessária ou não checada, como uma “pós-verdade”, notícia falsa (Fake news), boatos, opinião desinformada, estudo falso entre outros, chamaremos de lixo informacional. É o tocante que nos leva a identificar e investigar possíveis meios para solver questões que surgirão.
Investigam-se formas de como as empresas agem para combater a disseminação do lixo informacional no mundo virtual e como elas estão se comportando diante da problemática bem como o usuário comum procede ou deve proceder, ou seja, quais as competências desses atores.
2 – ECOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Informação não é um substantivo inédito para causar surpresa, mas é uma constante sine qua non que emerge como um novo ambiente, uma nova ecologia, uma nova poluição. Há décadas (e até mesmo séculos) que a informação vem sendo difundida pelos seguintes meios de comunicação: revistas, livros, TV’s, rádios e jornais impressos, por mais que estes dois últimos tenham sofrido certa descontinuidade nos últimos anos. A ligação desses meios de comunicação com a ecologia da informação acontece quando se emprega a palavra ecologia em sua essência, ou seja, a informação e sua influência no meio ambiente. Os livros, revistas e jornais impressos que em sua elaboração é utilizado o papel, e que para produzir papel é necessário que se derrube árvores, causando assim, impactos ambientais. Nesse sentido, há/havia preocupação ecológica, porém há a legislação ambiental e diversas políticas ambientais e de desenvolvimento sustentável providencial para a resolução desse problema.
Há controvérsias quanto à afirmação de que a informação é a causadora ou influenciadora para um prejuízo ambiental, no entanto, reafirma-se que a utilização do papel pelos meios de comunicação supracitados é para tal finalidade, a informação. Mas em momento algum se culpa a informação por qualquer dano.
Um novo cenário é evidenciado com a evolução da tecnologia e das mídias digitais, principalmente a internet, a preocupação com a informação vai deixando de ser ambiental, mas ecologicamente informacional análogo da palavra ecologia.
Nesse novo cenário considera-se que se a produção, a difusão, a pesquisa, o tratamento da informação se encontram no cerne de inúmeros desafios, se a informação constitui um ambiente, a informação é igualmente objeto de perigos, ‘de acidentes’ e de poluição (SERRES, 2010). Entende-se que há algo “concreto” com alguma gravidade na informação que deve ser utilizado com cautela. Esse algo é explicado e exemplificado por Serres como poluição, classificada em quatro tipos: 1) A superabundância; 2) A desintoxicação (a mediocridade da informação); 3) A contaminação da informação; 4) o abuso e efeitos perversos da publicidade, do marketing e das compras dissimuladas.
Os quatro tipos de poluição da informação é claramente notado nos dias atuais intitulados como: “pós-verdade”; notícia falsa (Fake news); boatos, opinião desinformada, estudo falso entre outros que produzem consequências relativas.
Os três primeiros não são de hoje, não se descarta que toda a poluição informacional que é vista hoje, ocorreu no passado pelos meios de comunicação já referidos. Para historiadores, o que é visto como surpresa no mundo contemporâneo costuma ter o ar de déjàvu. Mas os precursores do sensacionalismo e das mentiras hoje disseminados por redes sociais vêm de muito antes (DARNTON, 2012).
Tem-se que em outro contexto da nossa história, já circulava a informação, em forma de notícia contaminada, manipulada e até mesmo a censura:
[...] as notícias falsas sempre existiram. Procópio foi um historiador bizantino do século 6 famoso por escrever a história do império de Justiniano. Mas ele também escreveu um texto secreto, chamado "Anekdota", e ali ele espalhou "fake news", arruinando completamente a reputação do imperador Justiniano e de outros. Era bem similar ao que aconteceu na campanha eleitoral americana. (DARNTON, ROBERT. Folha de S. Paulo, 2012).
Desvendar as formas como era encarada ou combatida a informação antes da revolução tecnológica não teria tanto significado para a comunidade tecnológica dessa época. Porém, focar na atualidade sem examinar a história é desenvolver um raciocínio sem nexo, pois o atual é resultado de precedentes.
Se uma informação não é verdadeira, no mundo virtual tem que ser descartada e tomada como desnecessária, um lixo informacional. No entanto, não se trata de investigar a verdade, pois nos privaríamos na filosofia.
O Lixo Informacional não deve ser identificado apenas quando houver pseudo-informação, pois ele compreende uma série de atividades no mundo virtual, especialmente no contexto web que vão desde sites a contas online inativas com informações pessoais e bancárias. Nesse contexto, qualquer informação online teria prazo de validade e depois que o prazo expirasse, o dado seria excluído automaticamente. Assim como num sistema ecológico há um ciclo de vida, na ecologia de informação os dados armazenados também não durariam para sempre. Parece simples, mas o interesse por parte de certos agentes da sociedade nos dados da informação coletados no ambiente web sustenta resistências. As empresas e o governo querem informação. Mas isso já é uma questão de segurança e privacidade.
O ideal da ecologia da informação está baseado no direito ao esquecimento. Que por sua vez prega que informações desatualizadas ou irrelevantes podem ser apagadas.
Porém, ecologia da informação vai além, pois prega que toda informação deveria ter prazo de validade. Como exemplo de caso de direito ao esquecimento, a seguinte situação: uma pessoa é acusada de ter cometido assassinato. Normalmente são publicadas notícias a respeito do ocorrido. Caso esta pessoa seja inocentada, de acordo com o direito ao esquecimento, as notícias publicadas anteriormente devem ser apagadas. Caso contrário, iriam existir informações inválidas, o que fere o direito ao esquecimento e consequentemente tornando-se um lixo informacional.
2.1 LIXO INFORMACIONAL
De um modo comum, lixo informacional é tudo aquilo que contêm informações imprecisas, estáticas, que não são submetidas a uma frequente atualização, ou seja, é tudo aquilo que não tem utilidade, informações superficiais que nem sempre representam um pensamento concreto. De uma forma geral o “lixo informacional” é uma peça que deve ser reestruturada pela sociedade.
Na web, essa “poluição” também vem em forma de “entretenimento” e é comum a presença de conteúdos contendo informações apelativas que abordam curiosidade, sentimentos, sorte e até mesmo insultos à inteligência com o propósito único de induzir o usuário/internauta a cometer uma falha. Esse tipo de conteúdo também é classificado como lixo informacional.
Há ainda aqueles que caem no esquecimento, mas que possuem dados e informações pessoais dos usuários, as contas e domínios virtuais, como perfis nas redes sociais, blogs, e-mails, web sites, backup in cloud, restos de atividades online, entre outros.
Sucintamente, conteúdos com teor de manipulação de opinião, influência na tomada de decisões ou que surtem alguma ameaça pra sociedade tecnológica, seja na condutada ética, moral ou psicológica, deve ser visto como um lixo informacional ou crime quando for o caso e deve ser de alguma forma, extinto.
2.2 COMBATE AO LIXO INFORMACIONAL
Os tempos atuais têm sido palco de uma série de fenômenos: horizontes largos são frequentemente inaugurados pela ciência, movimentos sociais reinventam identidades coletivas de minuto em minuto e novas formas de trabalho e de arte fazem também parte de toda esta complexa conjuntura.
A todo o momento a web é bombardeada de informação para todo tipo de público de perfis diversificados com necessidades diferentes em decorrência de suas experiências, formação e idades. Esse público que por sua vez quando utiliza um sistema tecnológico é chamado de usuário que difere de outro usuário, o profissional da informação.
E falar de informação é inevitável manter-se atualizado. Porém, em decorrência a grande “poluição” que há na web, uma atitude imediata para combatê-la, seria a censura. Porém, isso acarretaria uma série de outros problemas, além de ferir o direito à liberdade. E refletir de modo consciente sobre liberdade não é tarefa fácil. Falar sobre liberdade na internet é algo ainda mais provocador.
O ser humano tem o hábito e é quase um instinto “irracional” de ter a atenção focada para o que é fútil. E existe usuário para todo tipo de informação que é inserida na web, são os mantenedores de (des)serviços de informação. No entanto, se um conteúdo é contraditório a certo tipo de público, tal conteúdo não deve ser classificado como lixo informacional.
Diante de toda gama de lixo informacional é necessário que atitudes sejam tomadas. Pensa-se na promulgação de leis, porém a informação tem sua liberdade e o usuário também, em um governo democrático essa atitude é inviável. Sendo assim, apenas dois agentes da comunidade tecnológica ficam responsabilizados de combater a “poluição” na web, as empresas provedoras de ferramentas na internet e os usuários, atribuindo-lhes dois métodos: prático e o automático.
2.2.1 Método Prático
Como alternativa que poderia surtir efeito quase que imediato, seria a censura. Imposta por autoridades, ela é motivada por causas das mais diversas naturezas. Pode-se usar como justificativa ao acesso regulado à internet a defesa de um ideal, como faz a Coreia do Norte. Instaurar a “ditadura do medo”, alimento suficiente a autoridades que têm por objetivo “proteger a integridade de um país contra ataques terroristas”. Ao livre pensar e falar, a censura não é uma prática recente que ganhou forma somente a partir da popularização da internet. Uma vez que poder, interesses e instituições compõem o cerne de uma sociedade.
Não equivalente à censura, legislar sobre o uso da internet, como visto no Brasil, o Marco Civil da Internet, que dispõe de disciplina e princípios, contudo não censura o acesso nem o uso da informação. É uma alternativa. Mas tentar “frear” a internet é como querer soprar contra tornados e ferir o princípio da liberdade de expressão. É declarar guerra contra um tipo de “superconsciência” criada e reinventada a cada instante por todo usuário capaz de conquistar um "like" no Facebook ou Twitter, de replicar opiniões em artigos publicados na web, de angariar seguidores e curtidas no Instagram.
Mais desafiador seria conscientizar o usuário educando-o para a web. O desafio começa quando o usuário precisaria aprender técnicas ao passo que não atenta ler os “direitos do usuário final” nem as “políticas de privacidade” das plataformas que utiliza na web. Seria exigir demais do usuário que:
“[...] são pessoas que não são especialistas em informática e não têm obrigação de ser. Pois são impacientes e não estão dispostos a perder tempo em sites ou aplicativos.” (LOPER, 2013).
Entende-se que os usuários buscam gratificação instantânea na internet.
O profissional da informação é um dos principais responsáveis pela filtragem e disseminação da boa informação ao usuário que, na maioria das vezes, não sabe distinguir o que é informação e o que é lixo informacional, até mesmo pelo fato de não dispor de habilidades para isso. (ROCHA, 2008, p. 153)
Rocha garante a responsabilidade os profissionais da informação com a boa informação e observa a carência do usuário. No entanto, não se pode isentar o usuário de responsabilidades e competências quanto às (des)informações inseridas na internet.
Uma terceira possibilidade que também se aplica diretamente ao usuário final das plataformas web é a adaptação dos conteúdos programáticos nas redes de ensino desde o ensino fundamental ao ensino médio. Pois assim, teríamos futuros cidadãos conscientes.
2.2.2 Método Automático
Categoricamente as empresas provedoras de serviços juntamente com os profissionais de informação para desenvolver mecanismos e tecnologias que identifique no ambiente virtual o lixo informacional a fim de tomar providências, a eliminação do conteúdo.
De maneira generalizada, os projetistas de ferramentas tecnológicas (FT) pré-definem os modos de acesso e consulta à informação sem considerar o ponto de vista dos usuários. Porém, os procedimentos definidos pelos projetistas exigem que os usuários desenvolvam habilidades tais como: saber digitar; definir as buscas, decifrar e usar os vários tipos de interfaces, com pouco ou nenhum mecanismo de prevenção de erros; conhecer a sintaxe dos programas e, também, o vocabulário controlado de muitos deles, além de saber utilizar os operadores lógicos (CUNHA; KAFURE, 2006, p. 273).
De qualquer forma, mesmo que as empresas desenvolvam mecanismos de combate à “poluição” a participação do usuário se faz necessário. Por esse motivo é interessante que o usuário também busque adquirir conhecimentos a respeito. É o caso da empresa Facebook que possui mecanismos de combate à Fakenews, no entanto para obter sucesso nessa rede, ela precisa da colaboração de seus usuários.
Automaticamente as empresas poderiam vetar o acesso a sites, todavia isso seria um atentado à liberdade em ambiente online. Não poder fazer comentários sobre o que é divulgado por um site ou outro também não é uma prática bem vista pelos olhos dos sempre atentos internautas
Ademais os projetistas de ferramentas tecnológicas de várias empresas como o Google, por exemplo, disponibilizam recursos e mecanismos em suas plataformas que permite ao usuário gerenciar conteúdos/informações e tomar decisões. Mais uma vez o papel do usuário sendo de extrema importância para a harmonia no mundo virtual.
Estuda-se muito sobre as várias formas de como manter a web “limpa” de forma automática. Não é tão fácil, por exemplo, excluir permanentemente um perfil em uma rede social que está inativa (sem atualização e acesso) por 10 anos. Pois há toda uma política que impossibilita esta ação. E o que dizer de perfis de pessoas que morrem, uma vez que nunca se terá atualização naquele perfil. O fato é que a web vai se tornando um “cemitério virtual”.
3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo exporto cabe a refletir muito sobre a conduta do ser humano no mundo em que vivemos e relacionar com o outro mundo, o virtual.
O mundo virtual é uma cópia do mundo real, então os conteúdos e informações nesse mundo são relativamente interessados em cada uma das diferentes categorias, como educação, política e saúde e notícias médicas entre as questões mais importantes que interessam as pessoas. Observando também o entretenimento.
A exposição dos fatos não deve ser entendida pelo usuário ou leitor para que o mesmo aja de forma cética diante das informações na internet, mas que busque informação correta, julgar autenticidade, apurar o propósito de uma narrativa para que se torne um internauta pouco duvidoso, muito cauteloso e extremamente confiante.
A falta de informação correta tem como consequência a omissão da sociedade carente. Desta forma, o usuário/internauta é autônomo no ambiente e cabe a ele lutar pela justiça e imparcialidade informacional e publicar textos que demonstram várias formas de se livrar desse mal e também com informações cruciais para maior aproveitamento de todos.
4 – REFERÊNCIAS
ALTARES, Guillermo. A longa história das notícias falsas. El Pais - Cultura. Madri, 2018. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/08/cultura/1528467298_389944.html> Acesso em: 12 Nov. 2018.
BRASIL. [Lei n. 12.965, de 23 de abril de 2014]. Marco civil da internet [recurso eletrônico]: que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. – 2. ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2015. – (Série legislação; n. 164).
DARNTON, Robert. Notícias falsas existem desde o século 6. Por: Fábio Victor. São Paulo: UOL, 2017.
HORRIGAN, John B. Como as pessoas se aproximam de fatos e informações. The groups – Publics of information. Relatório. US, 2017.
KAFURE, I., CUNHA, M.. Revista ACB: Usabilidade em ferramentas tecnológicas para o acesso à informação. Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.11, n.2, p. 273-282, ago./dez., 2006. Disponível em:<http://revista.acbsc.org.br/index.php/racb/article/view/483> Acesso em: 10 de Dez. 2018.
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RESENDE, Letícia. “Pós-vida” digital: o que acontece com suas contas depois que você morre? HypeScience, 2012. Disponível em: < https://hypescience.com/pos-vida-digital-o-que-acontece-com-suas-contas-depois-que-voce-morre/ >. Acesso em: 23 out 2018.
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