O SURTO INFODÊMICO (20/04)
Dr M. MATTEDI
Universidade Regional de Blumenau
mam@furb.br
As informações falsas sobre a COVID-19 se espalham mais rapidamente que o vírus. A todo instante surgem medicamentos e tratamentos milagrosos, teorias do complô, rumor sobre medidas governamentais, imagens distorcidos... Informações falsas nas mídias sociais enfraquecem os esforços para manter o Distanciamento Social.
É muito comum atribuir a propagação de informações falsas ao fenômeno de Fake News, porém é também muito equivocado. Afinal, a ideia de Fake News encobre um processo muito mais profundo relacionado a capacidade das pessoas de processarem informação: a) os Atalhos Mentais; b) e as Bolhas de Filtragem.
a) Atalhos Mentais: Para viver é preciso interagir com o mundo. Porém, o mundo é muito complexo; e, nossa capacidade cerebral é limitada. Ocorre, contudo, que não podemos deixar que a falta de informações nos paralise.
Afinal, quando percebemos um acontecimento novo precisamos avaliar sua importância e a necessidade de agir. Para reduzir a quantidade de informação criamos Atalhos Mentais para entender e interpretar os acontecimentos.
Estes modelos mentais fazem com que nos concentremos em certos aspectos do mundo em detrimento de outros. Mas esses padrões mentais não são muito precisos e nem fáceis de atualizar.
b) Bolhas de Filtragem: Com o surgimento da internet a dificuldade de processamento de informações se intensificou. A diminuição do custo de produção provocou um crescimento exponencial de informações que atualmente encontra-se na ordem de Zettabyte (1021 ou 21 zeros).
Aqui entra a questão do C3 (Curadoria do Conteúdo Conectado): como acessar a informação que precisamos da forma mais rápida possível? Para nos ajudar a processar esta massa astronômica de informações as principais mídias sociais desenvolveram algoritmos que customizam as informações para as pessoas que nos aprisionaram em Bolhas de Filtragem.
O efeito combinado de nossa propensão natural a criação de Atalhos Mentais com as Bolhas de Filtragem produzida pelas mídias sociais acabou provocando uma Infodemia. Infodemia constitui uma expressão que junta a ideia de informação com a ideia de epidemia.
Descreve uma situação no qual a quantidade excessiva de informações sobre um problema dificulta a sua solução.
As informações falsas e verdadeiras se misturam constantemente causando um enorme ruído, e produzindo um Efeito Rumor. Trata-se, assim, da sobrecarga de informação provocada pela supersaturação do uso da internet em geral e das mídias sociais em particular.
Rumores são informações não verificadas. Surgem durante momentos de incerteza, quando as pessoas tentam entender situações ambíguas. Isto significa que a pessoa que manipula a informação não sabe ao certo se ela é verdadeira ou falsa.
Cognitivamente os rumores possuem um ciclo de vida: a) iniciam quando uma informação é colocada em discussão; b) se propagam quando a informação é discutida; c) e acabam quando a informação deixa de ter interesse.
Portanto, alguns estudos indicam que existe uma relação linear positiva entre incerteza e a taxa de transmissão de rumores: quanto maior a incerteza, maior a circulação de rumores.
Portanto, a profusão global de informações na COVID-19 acabou desencadeando também uma espécie de Surto Infodêmico.
Afinal, acompanhar a rápida mudança das instruções e respondê-las adequadamente constitui um desafio para a maior parte das pessoas.
Isto acontece porque processar a informação adequadamente é sempre uma tarefa muito difícil. Embora o acesso à informação tenha aumentado, algumas das respostas em massa indicam a falta de entendimento da situação em sua totalidade.
Isto acontece porque para entender o Distanciamento Social as pessoas enfrentam barreiras à compreensão que são, ao mesmo tempo, cognitivas e técnicas.
Este processo pode ser ilustrado considerando os impactos negativos da circulação de informações falsas sobre o Distanciamento Social no Facebook. Segundo o estudo How Facebook can Flatten the Curve of the Coronavirus Infodemic milhões de usuários da plataforma são colocados em risco de consumir produtos nocivos de desinformação sobre o Coronavírus em larga escala.
O estudo baseou-se em 100 peças de conteúdo de desinformação em seis diferentes idiomas sobre o vírus.
E o caso Facebook é apenas a ponta do iceberg, afinal o Twitter, Instagram, YouTube ou Grupos de Whatsapp também são potenciais vetores de transmissão de informações falsas.
No Brasil os efeitos do Surto Infodêmico são ainda mais perniciosos devido a politização da gestão da COVID-19.
É que a polarização entre Quarenteners e Cloroquiners propulsada pela subordinação da agenda sanitária à agenda política acabou comprometendo os efeitos de contenção do Distanciamento Social.
De um lado, um conjunto de pessoas recomendando que as pessoas permanecessem isoladas; enquanto, de outro, incentivando as pessoas a saírem de casa.
A ambiguidade entre o Viés de Normalidade e o Viés de Anormalidade torna no Twitter, Facebook ou no Whatsapp diante do Distanciamento Social aumenta o desconforto das pessoas sobre suas escolhas.
O monitoramento do Surto Infodêmico envolve a consideração tanto de nossos Atalhos Mentais quanto das Bolhas de Filtragem.
Afinal, o Surto Infodêmico sobre a COVID-19 constitui um efeito emergente do Distanciamento Social. É que a diminuição do contato direto, implica um aumento do contato indireto.
Neste sentido, a relação entre o Surto de Conronavírus e o Surto Infodêmico é inversamente proporcional:quanto menor o risco de contágio de SARS-CoV-2, maior o risco de informações falsas.
É que a utilização de mídias sociais aumenta com o Distanciamento Social. Ou seja, quanto maior o contato indireto, maior a exposição ao SurtoInfodêmico.
É muito comum atribuir a propagação de informações falsas ao fenômeno de Fake News, porém é também muito equivocado. Afinal, a ideia de Fake News encobre um processo muito mais profundo relacionado a capacidade das pessoas de processarem informação: a) os Atalhos Mentais; b) e as Bolhas de Filtragem.
a) Atalhos Mentais: Para viver é preciso interagir com o mundo. Porém, o mundo é muito complexo; e, nossa capacidade cerebral é limitada. Ocorre, contudo, que não podemos deixar que a falta de informações nos paralise.
Afinal, quando percebemos um acontecimento novo precisamos avaliar sua importância e a necessidade de agir. Para reduzir a quantidade de informação criamos Atalhos Mentais para entender e interpretar os acontecimentos.
Estes modelos mentais fazem com que nos concentremos em certos aspectos do mundo em detrimento de outros. Mas esses padrões mentais não são muito precisos e nem fáceis de atualizar.
b) Bolhas de Filtragem: Com o surgimento da internet a dificuldade de processamento de informações se intensificou. A diminuição do custo de produção provocou um crescimento exponencial de informações que atualmente encontra-se na ordem de Zettabyte (1021 ou 21 zeros).
Aqui entra a questão do C3 (Curadoria do Conteúdo Conectado): como acessar a informação que precisamos da forma mais rápida possível? Para nos ajudar a processar esta massa astronômica de informações as principais mídias sociais desenvolveram algoritmos que customizam as informações para as pessoas que nos aprisionaram em Bolhas de Filtragem.
O efeito combinado de nossa propensão natural a criação de Atalhos Mentais com as Bolhas de Filtragem produzida pelas mídias sociais acabou provocando uma Infodemia. Infodemia constitui uma expressão que junta a ideia de informação com a ideia de epidemia.
Descreve uma situação no qual a quantidade excessiva de informações sobre um problema dificulta a sua solução.
As informações falsas e verdadeiras se misturam constantemente causando um enorme ruído, e produzindo um Efeito Rumor. Trata-se, assim, da sobrecarga de informação provocada pela supersaturação do uso da internet em geral e das mídias sociais em particular.
Rumores são informações não verificadas. Surgem durante momentos de incerteza, quando as pessoas tentam entender situações ambíguas. Isto significa que a pessoa que manipula a informação não sabe ao certo se ela é verdadeira ou falsa.
Cognitivamente os rumores possuem um ciclo de vida: a) iniciam quando uma informação é colocada em discussão; b) se propagam quando a informação é discutida; c) e acabam quando a informação deixa de ter interesse.
Portanto, alguns estudos indicam que existe uma relação linear positiva entre incerteza e a taxa de transmissão de rumores: quanto maior a incerteza, maior a circulação de rumores.
Portanto, a profusão global de informações na COVID-19 acabou desencadeando também uma espécie de Surto Infodêmico.
Afinal, acompanhar a rápida mudança das instruções e respondê-las adequadamente constitui um desafio para a maior parte das pessoas.
Isto acontece porque processar a informação adequadamente é sempre uma tarefa muito difícil. Embora o acesso à informação tenha aumentado, algumas das respostas em massa indicam a falta de entendimento da situação em sua totalidade.
Isto acontece porque para entender o Distanciamento Social as pessoas enfrentam barreiras à compreensão que são, ao mesmo tempo, cognitivas e técnicas.
Este processo pode ser ilustrado considerando os impactos negativos da circulação de informações falsas sobre o Distanciamento Social no Facebook. Segundo o estudo How Facebook can Flatten the Curve of the Coronavirus Infodemic milhões de usuários da plataforma são colocados em risco de consumir produtos nocivos de desinformação sobre o Coronavírus em larga escala.
O estudo baseou-se em 100 peças de conteúdo de desinformação em seis diferentes idiomas sobre o vírus.
E o caso Facebook é apenas a ponta do iceberg, afinal o Twitter, Instagram, YouTube ou Grupos de Whatsapp também são potenciais vetores de transmissão de informações falsas.
No Brasil os efeitos do Surto Infodêmico são ainda mais perniciosos devido a politização da gestão da COVID-19.
É que a polarização entre Quarenteners e Cloroquiners propulsada pela subordinação da agenda sanitária à agenda política acabou comprometendo os efeitos de contenção do Distanciamento Social.
De um lado, um conjunto de pessoas recomendando que as pessoas permanecessem isoladas; enquanto, de outro, incentivando as pessoas a saírem de casa.
A ambiguidade entre o Viés de Normalidade e o Viés de Anormalidade torna no Twitter, Facebook ou no Whatsapp diante do Distanciamento Social aumenta o desconforto das pessoas sobre suas escolhas.
O monitoramento do Surto Infodêmico envolve a consideração tanto de nossos Atalhos Mentais quanto das Bolhas de Filtragem.
Afinal, o Surto Infodêmico sobre a COVID-19 constitui um efeito emergente do Distanciamento Social. É que a diminuição do contato direto, implica um aumento do contato indireto.
Neste sentido, a relação entre o Surto de Conronavírus e o Surto Infodêmico é inversamente proporcional:quanto menor o risco de contágio de SARS-CoV-2, maior o risco de informações falsas.
É que a utilização de mídias sociais aumenta com o Distanciamento Social. Ou seja, quanto maior o contato indireto, maior a exposição ao SurtoInfodêmico.
Um novo vírus atinge o planeta, talvez ainda mais mortal e, certamente, mais difícil de conter. O Surto Infodêmico é mais perigoso e durará mais que a COVID-19.
Precisamos ter claro, portanto, que não estamos lutando apenas contra a COVID-19, mas também com a Infodemia. A Infodemia provoca dano público e agrava ainda mais o problema da subnotificação: não somente não sabemos o que está acontecendo, mas também estabelecemos uma imagem distorcida dos acontecimentos.
Afinal, a desinformação sobre o Distanciamento Social dificulta os esforços de combate da COVID-19 e, no limite, pode acabar custando, potencialmente, mais vidas.
Precisamos ter claro, portanto, que não estamos lutando apenas contra a COVID-19, mas também com a Infodemia. A Infodemia provoca dano público e agrava ainda mais o problema da subnotificação: não somente não sabemos o que está acontecendo, mas também estabelecemos uma imagem distorcida dos acontecimentos.
Afinal, a desinformação sobre o Distanciamento Social dificulta os esforços de combate da COVID-19 e, no limite, pode acabar custando, potencialmente, mais vidas.