Fundamentos da Psicologia Junguiana - Estruturas Especializadas

INTRODUÇÃO

Em artigo anterior, esclarecemos que foi nosso interesse sobre sonhos, o que nos indicou ser necessário pesquisar sobre os fundamentos da psicologia junguiana.

Nesse primeiro artigo, registramos parte desses fundamentos: Psique, sua divisão básica; e suas estruturas gerais.

Assim, para a conclusão do registro desses fundamentos teremos, ainda, que discorrer sobre as Estruturas Especializadas, objeto deste artigo e, num próximo, Inconsciente, Si-Mesmo e Individuação.

Iniciamos este artigo com a transcrição de Divisão Básica da Psique proposta no artigo anterior.

DIVISÃO BÁSICA DA PSIQUE

Basicamente, divide-se a Psique em: Consciência (Consciência Pessoal) e Inconsciente, que por sua vez se divide em: Inconsciente Pessoal e Inconsciente Coletivo, posteriormente denominado Psique Objetiva.

CONSCIÊNCIA PESSOAL – corresponde à percepção consciente ordinária;

INCONSCIENTE PESSOAL – exclusivo de psique individual, mas não consciente;

INCONSCIENTE COLETIVO OU PSIQUE OBJETIVA – possui estrutura aparentemente universal na humanidade.

Além desses três níveis da Psique, Jung considerava outro pertencente a ela:

MUNDO EXTERIOR DA CONSCIÊNCIA COLETIVA – o mundo cultural dos valores e formas compartilhadas.

Dentro dessa divisão básica existem: ESTRUTURAS GERAIS E ESTRUTURAS ESPECIALIZADAS.

As Estruturas Gerais são de dois tipos: IMAGENS ARQUETÍPICAS; E COMPLEXOS.

As Estruturas Especializadas são quatro: EGO; PERSONA; SOMBRA; E SIZÍGIA, grupamento pareado de ANIMUS/ANIMA.

Para melhor entendimento sobre a interação dinâmica entre as várias estruturas psicológicas especializadas, conceituadas por Jung, convém separá-las em: ESTRUTURAS DE IDENTIDADE; E ESTRUTURAS DE RELAÇÃO, ou RELACIONAMENTO.

Assim: EGO e SOMBRA são primordialmente estruturas especializadas de Identidade; e PERSONA e SIZÍGIA (Animus/Anima) estruturas especializadas de relacionamento.

ESTRUTURAS ESPECIALIZADAS DE IDENTIDADE

EGO E SOMBRA

Essas duas estruturas se formam concomitantemente. Enquanto o Ego se forma, tendências e atividades inatas rejeitadas se agregam para formar a Sombra.

No processo de formação do Ego: uma identidade básica se forma inicialmente inserida na díade mãe-filho; depois é ampliada dentro da unidade familiar; e mais tarde expande-se para incluir o meio cultural. Durante a fase inicial desse processo, certas atividades e tendências inatas serão aceitas pela mãe e família; e outras atividades e impulsos serão rejeitados.

Essas rejeições não se perdem e tendem a se aglomerar como imagem, logo abaixo da superfície do Inconsciente Pessoal. Isso é o que Jung denominou Sombra.

O Ego é um Complexo; o “Complexo do Ego” disse Jung e acrescentou: “O Complexo do Ego, entretanto, é diferente dos outros complexos, porque se impõe como centro da consciência e atrai para si os demais conteúdos conscientes, visa também, mais do que outro complexo, a totalidade”. Afirmou ainda que os dois principais fatores componentes do Ego são: percepção geral de nosso corpo e existência; e registros de nossa memória – certa ideia de já ter existido e acúmulo de longa série de recordações.

O Ego é o centro do campo do Consciente, a parte da Psique onde nossa consciência reside, o nosso sentido de identidade e existência. O Ego seleciona e organiza nossos pensamentos, sentimentos, sentidos, e intuição, e regula o acesso à memória.

A Sombra é o arquétipo receptáculo dos aspectos que foram suprimidos no desenvolvimento da Persona, e mais que isto, ela contém conteúdos que nem chegaram a passar pelo crivo do consciente.

A Sombra foi dinamicamente dissociada da identidade do Ego dominante no decorrer do desenvolvimento inicial. Daí seu possível retorno, para reclamar parcela de vida consciente.

Muitos atributos naturais da Psique na infância e outros, quando desenvolvemos a Persona, para a nossa adaptação social, que foram rejeitados, por serem considerados impróprios, são necessários ao saudável funcionamento, em outra época de nossas vidas.

Alguns, quiçá muitos, destes aspectos rejeitados, mas que impulsionam o ser humano para a criatividade e busca de soluções, quando os recursos conscientes se esgotaram , poderão voltar e ser úteis, uma vez que não serão mais prejudiciais à nossa adaptação. Até, poderão mudar o rumo de nossa história.

Grande parte do trabalho da psicoterapia e da psicanálise consiste em criar um lugar onde seja seguro reexaminar o conteúdo da Sombra e, possivelmente, devolver ao Ego, à vida consciente, parte do que foi rejeitado.

A Sombra, além de ser materializada em sonhos e em fantasias, é, em geral, projetada em pessoas do mesmo sexo, por ter qualidades que não estão suficientemente desenvolvidas, na imagem dominante do próprio indivíduo.

A Sombra influirá nas relações com pessoas do mesmo sexo e, quando trabalha em harmonia com o Ego, deixa a vida mais rica e colorida. Vida sem a presença da Sombra torna-se sem brilho e sem criatividade.

ESTRUTURAS ESPECIALIZADAS DE RELAÇÃO

PERSONA

A Persona é a função de relacionamento com o mundo exterior. Muito importante, na medida em que dependemos dela para os relacionamentos diários com grupos sociais.

Com o desenvolvimento da consciência, o ser humano, que é gregário por natureza, necessita desenvolver algumas características básicas, para a adaptação social. O arquétipo desta adaptação é a Persona.

O nome vem da antiga máscara usada no teatro grego, pelos atores para representar. Para a psicologia junguiana, Persona tem o mesmo sentido, ou seja: é a máscara ou fachada aparente do indivíduo exibida de maneira a facilitar a comunicação com o seu mundo externo, com a sociedade onde vive e de acordo com os papéis dele exigidos. O objetivo principal é o de ser aceito pelos grupos sociais a que pertence.

A Persona auxilia a convivência em sociedade. Também, transmite certa sensação de segurança, na medida em que cada um desempenha exatamente o papel dele esperado, da melhor forma possível. A Persona serve, ainda, como proteção contra nossas características internas, que julgamos como desabonadoras e, portanto, queremos esconder.

Qualquer cultura contém muitos papéis sociais reconhecidos: pai; mãe; esposa; marido; médico, sacerdote, advogado...

O Ego saudável pode adotar diferentes papéis de Persona, de acordo com as necessidades duma situação. Entretanto, existem casos de funcionamento inadequado da Persona. Três casos se destacam: desenvolvimento excessivo da Persona; desenvolvimento insuficiente da Persona; e identificação com a Persona.

O desenvolvimento excessivo da Persona pode produzir personalidade, que preenche com precisão os papéis sociais, mas deixa a impressão de que não existe pessoa real “dentro”.

O desenvolvimento insuficiente da Persona produz personalidade vulnerável a rejeições e danos, ou personalidade sujeita a ser arrebatada, eliminada, ou isolada pelas pessoas com quem se relaciona.

A identificação com a Persona se faz de forma tão exagerada, que o Ego se sente, equivocadamente, idêntico ao papel social primário. É gravíssimo, pois existe a indevida percepção de que o Ego é inseparável do papel da Persona. Tudo que ameace o papel social é vivenciado como ameaça direta ao próprio Ego.

Ilustram essa identificação os exemplos: “síndrome do ninho vazio”, tédio e depressão quando os filhos se emancipam e abandonam o lar; e o sentimento de vazio, exceto quando a pessoa está trabalhando.

Como a Persona corresponde à face externa da Psique, que possui dinâmica de compensação energética entre os seus conteúdos, então ao funcionamento inadequado da Persona implica em tendência à compensação, ao equilíbrio por meio dos Arquétipos de sua face interna: Anima e Animus.

ANIMA E ANIMUS

O arquétipo da Anima, constitui o lado feminino na Psique do homem, e o arquétipo do Animus constitui o lado masculino na Psique da mulher. Ambos os sexos possuem aspectos do sexo oposto, não só biologicamente, através dos hormônios e genes, como também, psicologicamente através de sentimentos e atitudes.

O homem traz consigo, como herança, a imagem de mulher. Não a imagem de uma ou de outra mulher especificamente, mas sim imagem arquetípica, ou seja, formada ao longo da existência humana e sedimentada através das experiências masculinas com o sexo oposto.

Cada mulher, por sua vez, desenvolveu seu arquétipo de Animus através das experiências com o homem durante toda a evolução da humanidade.

Embora, Anima e Animus desempenhem funções semelhantes, entretanto uma não é exatamente o oposto da outra.

A Anima, quando em estado inconsciente pode fazer com que o homem, numa possessão extrema, tenha comportamento tipicamente feminino, como alterações repentinas de humor, falta de controle emocional.

Em seu aspecto positivo, a Anima servirá como guia, quando reconhecida e integrada à consciência, e despertará o desejo masculino de união e de vínculo com o feminino e com a vida. A Anima será a “mensageira do inconsciente”.

A valorização social do comportamento viril no homem, desde criança, e o desencorajamento do comportamento mais agressivo nas mulheres, poderá provocar Anima, ou Animus subdesenvolvidos e potencialmente carregados de energia, atuando no inconsciente.

O Animus, em estado inconsciente poderá se manifestar de maneira negativa, provocando alterações no comportamento e sentimentos da mulher. Segundo Jung: “em sua primeira forma inconsciente o Animus é uma instância que engendra opiniões espontâneas, não premeditadas; e exerce influência dominante sobre a vida emocional da mulher.”

O Animus e a Anima, se devidamente reconhecidos e integrados ao Ego, contribuirão para a maturidade do psiquismo.

A relação com a Anima é teste de coragem para as forças espirituais e morais do homem. Em se tratando da Anima, estamos lidando com realidades psíquicas, as quais até então nunca foram apropriadas pelo homem, uma vez que se mantinham fora de seu âmbito psíquico, sob a forma de projeções.

Anima e Animus são responsáveis pelas qualidades das relações com pessoas do sexo oposto. Enquanto inconscientes, o contato com estes arquétipos são feitos em forma de projeções.

O homem, quando se apaixona, está projetando a imagem da mulher que ele internalizou. É fato que a pessoa que recebe a projeção é portadora, como dizia Jung, de um “gancho” que a aceita perfeitamente.

Para o homem a mãe é o primeiro “gancho” a receber a projeção da Anima, ainda quando menino, o que se dá inconscientemente. Depois, com o crescimento e sua saída do ninho, o filho vai, aos poucos, retirando esta projeção e lançando-a a outras mulheres num processo inconsciente.

A qualidade, do relacionamento mãe-filho, será essencial e determinará a qualidade dos próximos relacionamentos, com outras mulheres. Salienta Jung: “Para o filho, a Anima oculta-se no poder dominador da mãe e a ligação sentimental com ela dura às vezes a vida inteira, prejudicando gravemente o destino do homem ou, inversamente, animando a sua coragem para os atos mais arrojados.”

OBSERVAÇÃO FINAL

No próximo artigo encerraremos os fundamentos da psicologia Junguiana abordando as o Inconsciente, o Si-Mesmo e a Individuação.

Com isso, entendemos estar preparados para estudo e compreensão sobre os sonhos.

FONTES:

LIVROS:

Jung e a Interpretação dos Sonhos - James A. Hall e

Sonhos e a Cura da Alma - John A. Sandford

SITES

institutofreedom.com.br; e

portaldapsique.com.br.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 15/10/2019
Reeditado em 15/10/2019
Código do texto: T6770289
Classificação de conteúdo: seguro