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A genética das raças
Drauzio Varella 19 de abril de 2011 
Revisado em 28 de setembro de 2018
 
A Terra tem 4,6 bilhões de anos. A luta pela vida surgiu imediatamente, a partir dos elementos químicos da atmosfera e oceanos, que produziram moléculas com propriedade de formar cópias de si mesmas: RNA e, mais tarde, quando precisou armazenar mais informação genética, o DNA. O aparecimento de moléculas capazes de duplicar-se é, em essência, a origem da vida.
As bactérias mais antigas, encontradas em rochas de 3,5 bilhões de anos, foram donas da Terra até há 600 milhões de anos, quando surgiram os animais multicelulares, cuja complexidade aumentou rapidamente. Na versão humana, a cadeia de eventos que vai das primeiras moléculas autorreplicantes ao aparecimento dos mamíferos, foi um fenômeno evolucionário predestinado a atingir o apogeu da criação, há 5 milhões de anos: o Homo sapiens, a criatura mais complexa da Terra (do universo, como pretendem muitos). Para justificar nossa posição majestática no reino vivo, vangloriamo-nos da complexidade de nosso sistema nervoso, como fazem os racionais, ou de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus, como preferem os religiosos.
Na metade do século passado, quando a ciência ainda admitia que todas as formas de vida haviam sido criadas num só dia, por Deus, dois naturalistas ingleses Wallace e Darwin enunciaram uma teoria maravilhosamente simples, segundo a qual cada pequena variação existente nos seres vivos, quando útil, era preservada. Charles Darwin chamou esse princípio de Seleção Natural. Com a parcimônia que caracteriza nossa espécie, em vez de “seleção natural”, preferimos acreditar em “evolução natural” (termo jamais empregado por Wallace ou Darwin). Em nossa modéstia, a competição teve como objetivo permitir que as espécies evoluíssem para cumprir seu glorioso destino: a criação do homem.
Infelizmente, a análise dos dados paleontológicos discorda de nossa visão a respeito.
Veja também: A árvore da vida
As bactérias foram habitantes exclusivas da Terra por três bilhões de anos e estão aí até hoje (embora não possa ser descartada a possibilidade de que o sonho secreto de uma Escherichia coli, no fundo, seja um dia transformar-se na princesa da Inglaterra).
Depois desses três bilhões de anos de unicelularidade, vieram 600 milhões de anos de criatividade multicelular absolutamente imprevisível. Nesse período curto, surgiram vermes, mosquitos, cobras, dinossauros, besouros, lagartos, mamíferos, formigas e outras formas de sucesso e fracasso ecológico. O homem surgiu, então, por um tipo de fenômeno aleatório em nada melhor do que aquele que deu origem aos besouros, por exemplo.
Admite-se que existam pelo menos trezentas mil espécies de besouros (cerca de um milhão, segundo autores respeitados). Essa diversidade absurda, se compararmos com o número de espécies de mamíferos, por exemplo, parece ter sua origem coincidente com o aparecimento das angiospermas, plantas que produzem flores, às quais os besouros tiveram de adaptar sua anatomia para recolher o pólen nutritivo para eles e essencial para a reprodução da planta, através do mecanismo de polinização executado involuntariamente pelo besouro ao pousar de flor em flor. Não tivessem aparecido angiospermas, Deus não teria demonstrado predileção por besouros; de forma recíproca, não existisse esse favorecimento divino, as paisagens botânicas seriam bem mais monótonas.
Na linhagem evolucionária que conduziu ao homem, foram tantas as coincidências que muitos acham mais sensato aceitarmos a solidão de nossa espécie no universo.
Há 530 milhões de anos, por exemplo, ocorreu uma enorme explosão de biodiversidade na Terra. Entre todas as formas de vida presentes nessa época, havia uma criatura aquática dotada de um eixo dorsal, chamado notocorda, precursora de nossa coluna vertebral. Estivesse extinta essa criatura, não estaríamos aqui nós outros. Mais tarde, ainda na água, apareceu um peixe com coluna vertebral dura e pouco flexível, desvantagem grande para nadar, mas ótima para suportar o peso do corpo na Terra. Sem esse peixe desajeitado, estaríamos até hoje na profundeza dos oceanos.
Recentemente, há 65 milhões de anos, quando o homem nem sonhava existir e enquanto os mamíferos constituíam um grupo de pequenos animais noturnos, caiu um corpo celeste na península de Yucatán, no México. Provavelmente, como consequência da poluição e da intensa atividade vulcânica que se seguiu em diversos pontos do planeta, os dinossauros foram extintos (os únicos dinossauros que sobreviveram foram as aves). Um milésimo de grau no desvio da rota desse asteróide, e seriam os dinossauros, até hoje, os senhores do planeta, como o foram por quase duzentos milhões de anos. Seríamos, roedores noturnos, apavorados com o tamanho dos vizinhos.
Nas savanas da África, há pouco mais de um segundo evolucionário (5 milhões de anos), surgiu um primata de um metro de altura que, pressionado pela falta de comida e pelas condições climáticas, adotou a posição bípede. Devido à configuração dos músculos da laringe, esse animal desenvolveu uma linguagem de complexidade sem precedente entre seus pares. Tal fenômeno parece ter criado uma pressão irreversível para o crescimento do lobo frontal, a testa ficou menos achatada do que a de seus irmãos chimpanzés e a capacidade de planejamento cresceu significativamente.
Do ponto de vista filosófico, a visão de nossa existência como mero resultado do acaso, é insuportável aos que procuram um significado transcendental para a vida. Na própria sucessão dos acontecimentos que levaram ao nascimento do homem, muitos encontram a prova da presença de Deus.
Por outro lado, os que entendem o mecanismo da vida como uma combinação aleatória de moléculas replicantes, em permanente competição pela reprodução de cópias, consideram que a intromissão divina subtrai beleza do processo.