Perspectivas para o setor florestal no século XXI
As florestas geram produtos e serviços para a humanidade, que consome, por ano, cerca de 1,6 bilhão de metros cúbicos de madeira. Consumo esse que poderá chegar a 3 bilhões em 2050 ou ao triplo disso se a crise econômica for equacionada, se a expansão das economias dos países em desenvolvimento continuar e se a distribuição de renda junto com o padrão do consumo de produtos de madeira se aproximar do padrão americano.
As perguntas para os dois casos são: como será e como se fará o suprimento de tamanha demanda, de forma sustentável, sem dilapidar os recursos florestais do planeta? Minha resposta é que, neste século, a sustentabilidade da exploração florestal resultará dos avanços científicos e tecnológicos e da universalização do processo de certificação; uma certificação além do campo e da fábrica, que atinja as questões socioambientais do entorno e da sociedade, tanto no manejo de Florestal Naturais – FNs – quanto nas Plantações Florestais de Rápido Crescimento – PFRC.
O manejo das FNs passará da extração econômica de madeiras ao uso múltiplo de baixo impacto, incluindo os produtos da biodiversidade com alto valor agregado. A exploração florestal dependerá mais da ciência e das tecnologias modernas. Assim, a conservação genética, o manejo de precisão, a saúde do ecossistema florestal e formas modernas de monitoramento dos planos de manejo serão temas centrais.
As PFRC terão ampliação substancial, inclusive nas pequenas e médias propriedades, devido a:
1. aumento da proteção às FNs;
2. maior produtividade comparativa;
3. utilização de materiais melhorados;
4. menor ciclo de exploração;
5. menor prazo na geração de tecnologias;
6. possibilidade de seleção de sítios específicos para plantio;
7. potencial para substituição de grande parte dos produtos obtidos pela exploração de FNs, com a vantagem de apresentarem maior uniformidade de fibras, principalmente quando a PFRC for clonal.
A atividade florestal como um todo sofrerá uma revolução pelo fato de que:
1. as serrarias serão muito mais eficientes e produzirão mais, com igual quantidade de matéria-prima e menor desperdício na exploração e na industrialização;
2. a produção de papel e celulose será aperfeiçoada;
3. os materiais genéticos terão maiores rendimentos e qualidade superior para os vários usos;
4. a reciclagem e a produção de “novas” famílias de produtos laminados terão um espaço muito maior;
5. as árvores serão aproveitadas ao máximo, diminuindo a pressão sobre as FNs.
Resolvidas as questões de suprimento da demanda via FNs e PFRC, restará um grande desafio: garantir à sociedade, via mecanismos de certificação independente, que a matéria-prima utilizada pelo setor provenha de áreas submetidas a boas práticas de manejo.
Sem isso, sofreremos grandes restrições comerciais na forma de barreiras não tarifárias. Resumindo, neste século, ver-se-á que:
1. a exploração das FNs não atenderá à demanda mundial de madeira, abrindo espaço para as PFRC;
2. os modelos de produção florestal terão que considerar incondicionalmente a diminuição dos desperdícios, o aumento da produtividade da exploração e a sustentabilidade dos sítios florestais;
3. as tecnologias inovadoras em engenharia da produção florestal diminuirão a necessidade de matéria-prima para a fabricação de alguns produtos;
4. o tamanho das plantações será diminuído, e sua complexação, ampliada;
5. aumentarão as plantações florestais nas pequenas e médias propriedades rurais; e
6. a certificação dos empreendimentos florestais será imprescindível.
Assim, concito ao novo governo (2011-2014) fortalecer o setor florestal frente à concorrência internacional, através de:
1. apoio à pesquisa florestal;
2. revisão dos dispositivos legais, considerando as realidades nacionais e regionais;
3. redução do custo de transação;
4. apoio às empresas industriais e comerciais;
5. desenvolvimento de um sistema de informação e de inteligência de mercado para apoiar o planejamento estratégico de ações do governo e dos investimentos privados no setor;
6. melhora da infraestrutura de estradas e portos; e
7. atuação em fóruns internacionais relevantes, visando à mitigação de barreiras de acesso ao mercado e ao fortalecimento da imagem do produto “Madeira do Brasil”.