Florestas energéticas: visão territorial e geotecnologias
Tem sido crescente a participação da EFR - Energia de Fontes Renováveis, na matriz energética mundial. No Brasil, a EBF - Energia de Biomassa Florestal, deverá ser uma das principais alternativas de EFR, destinada ao atendimento de demandas residenciais urbanas e rurais e do setor industrial, em especial a siderurgia. Estima-se que para uma produção de gusa da ordem de 27 milhões de toneladas, necessita-se de 17,5 milhões de toneladas de carvão, que podem ser produzidas a partir de 3,3 milhões de hectares de eucaliptos.
Portanto, as florestas energéticas, serão, certamente, uma ferramenta importantíssima, evitando, inclusive, a utilização ilegal de produtos extraídos de florestas naturais (Amazônia e Mata Atlântica), da caatinga e do cerrado brasileiro. O Brasil é um dos países que melhor poderá se beneficiar do aproveitamento de madeira para fins energéticos. Suas vantagens são enormes. Possui:
a. cerca de 90 milhões de hectares disponíveis para novas alternativas;
b. clima e solo propícios para o desenvolvimento de espécies florestais de rápido crescimento;
c. silvicultura avançada;
d. milhões de hectares de florestas manejadas, com resíduos aproveitáveis para geração de energia;
e. o SFB - Serviço Florestal Brasileiro, recém criado, e
f. o FNDF - Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal, para financiamento do setor florestal.
As áreas de plantações florestais comerciais no Brasil concentram-se nas regiões Sudeste e Sul, com destaque para os estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Paraná. As plantações florestais de Minas Gerais e Espírito Santo são para celulose, as de São Paulo e dos estados sulinos são para produção de chapas de madeira e celulose, e as de Mato Grosso do Sul são, em grande parte, vendidas para fabricação de celulose. Nas outras regiões, destaque para Bahia, no Nordeste; Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste; Pará e Amapá, no Norte.
Esta situação indica a possibilidade de problemas em algumas regiões. Falhas no planejamento de médio e longo prazos poderão fazer com que: na Amazônia, prevaleça a utilização de resíduos florestais da industrialização de madeira extraída de florestas naturais e de derrubadas, para fins de produção agropecuária, devido às plantações florestais com espécies exóticas, feitas no Pará e Amapá, serem para produção de celulose; e ainda pelo fato de serem escassos os sistemas de produção monoculturais ou mistos para espécies florestais nativas, com potencial para produção de energia.
No meio-norte, tem-se visto que, no Maranhão, houve a expansão de siderúrgicas, após o início da exploração de minério de ferro da Serra de Carajás, e o carvão vegetal é insumo para a transformação de minério de ferro em ferro-gusa; no Nordeste, a maioria da biomassa florestal utilizada para produção de energia continua proveniente da degradação da vegetação natural, inclusive da caatinga; e no Centro-Oeste segue a destruição do cerrado de forma ilegal e como meio de solucionar a necessidade de madeira, para secagem dos grãos produzidos na região.
A produção de carvão vegetal no Brasil ainda é dependente da exploração de matas nativas, embora esteja crescendo a importância do carvão vegetal, oriundo de plantações florestais comerciais. Os principais estados produtores de carvão vegetal no Brasil são Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Bahia e Goiás.
Essa concentração regional da produção de carvão vegetal ocorre devido ao estabelecimento, nesses estados ou em seus vizinhos, de siderúrgicas, que consomem o carvão vegetal. Uma outra questão importante a ser considerada é que as plantações florestais localizam-se em poucos estados, estão concentradas em poucas áreas dentro de cada estado e próximas das empresas que demandam a madeira para fins industriais.
Considerando os aspectos anteriores, torna-se evidente que a integração de geotecnologias (topografia, base cartográfica, sistemas de informações geográficas e sistemas de posicionamento global) será de fundamental importância para o planejamento e gerenciamento das empresas florestais envolvidas no programa de produção de energia. Elas também serão imprescindíveis no planejamento e na gestão nacional do programa de produção de biomassa florestal.
O uso de sistemas de georefenciamento - SIG, em especial, será fundamental para a avaliação do suprimento de biomassa, estimativa dos custos de transporte para plantas existentes e mesmo para localização de plantas novas. Eles têm a importância de adicionar ao processo de planejamento a dimensão espacial, podendo ser usados, em primeiro lugar, para a análise da distribuição espacial das florestas energéticas; em segundo, para impor restrições espaciais, relacionadas ao uso adequado da terra; e em terceiro lugar, para calcular a capacidade e o teto de geração de energia, baseado nos locais disponíveis.
O uso de SIG como ferramenta para análise temporal e espacial pode, também, prover meios para identificar e quantificar os fatores espaciais e climáticos, afetando a disponibilidade de energia de biomassa florestal potencial. Por fim, as geotecnologias poderão auxiliar o governo, os empresários e os produtores na obtenção de informações necessárias ao desenvolvimento das florestas energéticas, de forma mais rápida, precisa e com menor custo, quando comparadas às geradas pelas técnicas subjetivas, tradicionalmente utilizadas.