A VIDA SECRETA DAS ÁRVORES
Desde menino que venho nutrindo certa afeição pelas plantas. Penso que isso tenha alguma coisa a ver com a Genética, pois foi bem consistente a influência de minha mãe nesse sentido. Seu carinho pelas plantas era patente e não perdia as oportunidades de estar lidando com as flores ou folhagens que se espalhavam pelos canteiros do jardim ou com as hortaliças nas leiras do quintal.
Na infância e, até boa parte da adolescência, tinha como uma das minhas brincadeiras acompanhá-la no aguar dos canteiros, limpeza dos ramos, retirada das flores murchas e colheita de algumas folhas ou frutos...
Após bom tempo, vivendo em apartamento, essa minha agradável rotina foi transferida para alguns poucos vasos enfileirados na varanda; a idade falara mais alto e essa troca foi necessária para adequação a essa fase da vida.
Mas, nem tudo está perdido nesse caso. Dias atrás ganhei de um grande amigo, um livro do qual tomei a liberdade de usar o título para esse curioso texto.
“A Vida Secreta das Árvores” é o título que identifica o livro do engenheiro florestal alemão Peter Wohllenben, cuja dedicação às árvores e florestas produziu trabalhos importantes nesse ramo da atividade humana.
Particularmente, logo nos primeiros capítulos, surgiu a identificação, com nuances de espanto, por ter, ali, contato, pela primeira vez, com tema pelo qual jamais imaginara poder ter diante dos olhos...
Wohllenben nos descortina um lado fascinante sobre as árvores nos fazendo entender “o que elas sentem e como se comunicam”; as descobertas de um mundo oculto.
Suas longas pesquisas e profundos estudos nos levam a entender como podem ser processadas essas comunicações. As árvores podem se comunicar através das raízes, por meio de emissões de sinais elétricos, com o auxílio de gigantescas colônias de fungos e, também, por meio da emissão de odores reconhecidos e interpretados por outras plantas e, principalmente, insetos e animais que lhes possam ser úteis ou perniciosos. Em um caso os atraem e, em outros, os repelem.
O comportamento, no subsolo, é efetivado através do embaralhamento das raízes, entre si, permitindo a transferência de sinais e dados pertinentes entre elas, bem como nutrientes, das mais para as menos abastecidas. Tais conexões cuidam de vários aspectos da vida dessas plantas, sobretudo, nas florestas, pois seus sinais apontam para perigos ou benesses que poderão ameaçar ou auxiliar a convivência dos espécimes. Isso envolve informações sobre estados hídricos, nutricionais, mórbidos incluindo agentes microscópicos que possam ameaçar as partes ou o total das colônias.
Ainda, sob a atuação das raízes, colônias de fungos também podem agir como instrumentos de comunicação entre as árvores uma vez que, por mais incrível que pareça, podem atingir quilômetros de extensão atuando como canais de transmissão levando até as raízes de árvores mais distantes os seus diversos códigos.
O autor nos expõe algumas teses a respeito do bombeamento da água desde as raízes até as folhas que formam as copas. Embora haja algumas em discussão, ao que parece, ainda não atingiram o nível de exatidão para serem consideradas situações de fato dentro dos parâmetros científicos. O autor passa pelos fenômenos desencadeados pela capilaridade e, também, pelo processo de evaporação, nas folhas, dando azo a que a umidade, vencendo a gravidade, ascenda para ocupar o campo nas folhagens.
Parte impressionante dos relatos do engenheiro florestal abre caminho para um campo inusitado, para o qual nunca tivemos voltado nossa atenção. Por mais incrível que pareça, Wohllemben afirma que as plantas possuem alguma espécie de memória e, supostamente, admite que tal memória esteja associada às raízes. Segundo ele, são elas que armazenam informações sobre o meio ambiente, as condições de umidade, localização de nutrientes, condições adequadas ou inadequadas para a estabilidade das árvores, etc...
Entusiasmado pelas maravilhosas informações disponíveis, a intuição nos impulsionou para uma interessante viagem que não iria aparecer, nesse texto, sem o conteúdo do livro. Afinal, aprendemos que tudo o que existe está dividido entre dois mundos; o orgânico e o inorgânico. Seguindo o dístico que nos ensinaram na Escola, “Matéria é tudo o que se compõe de substância e substância é tudo o de que se compõe a Matéria”. Mas, de que são formadas as substâncias que compõem os indivíduos desses dois mundos? Segundo os anais científicos, de células e moléculas.
Há um tempo atrás, no livro de Bruce Lipton, “A Biologia da Crença”, vimos inscrita uma informação bastante consistente dando conta de que “as células possuem memória e se comunicam entre si”. Essa argumentação parece coincidir com as conclusões de Peter Wohllemben, dessa vez aplicada com bases científicas.
Diante da nossa ignorância sobre o assunto ousamos enveredar por um tema até certo ponto inverossímil. Será que a divisão entre orgânicos e inorgânicos não seria “mera convenção científica”? Afinal, se tanto as células quanto as moléculas são formadas por “átomos”, será que o que convencionamos chamar de “vida” não poderia ser alvo de alguma discussão?
Quem sabe se, diante do gigantismo do Universo, não poderia haver uma outra explicação para o fenômeno “vida”? Se todos os átomos são integrados por elétrons e esses, livres, tem movimento próprio manifestando energia, será que o que chamamos de vida não estaria condicionado, por nós mesmos, ao período de existência do ser? E o que vem a ser “existência”? Não poderia ser, também, mera convenção humana?
O físico consagrado, Stephen Hawking, em “Uma Breve História do Tempo”, afirma que o tempo não existe quando se mira o Universo. Segundo ele, “o tempo é mera convenção humana, não existe no Universo”! Não foi sem razão que, Zecharia Sitchin, em seu “O 12º Planeta”, explica que “um ano do planeta Nibiru, ou seja uma volta completa em torno do Sol se verifica em 3.600 anos terrestres. Assim, fica fortalecida a ideia de que “existência”, se for textualmente relacionada com um ciclo de vida baseado no calendário terrestre, pode ser alvo de discussão. Do mesmo modo, considerar que os chamados “inanimados” não possuem vida, também pode abrir cortinas para discussão.
Se levarmos em conta que toda a substância e, por conseguinte, toda a matéria que a forma é composta de células e moléculas, que são átomos em movimentação, poderemos admitir que tudo o que é substância é vida, em qualquer estado em que se encontre!
Um ser orgânico pode ter vida com duração efêmera, outro da mesma organicidade poderá ter vida mais longa. Entre os considerados inorgânicos, sem vida, há possibilidade de admitir que possam estar íntegros por séculos e que, nessa visão de Universo, um dia poderão ter o ocaso dos seus próprios ciclos, sendo submetidos à descombinação química que, nos orgânicos é visível; voltarão a ser átomos tal como o eram antes de ser substância.
Nos pórticos de alguns cemitérios encontramos a inscrição: “Voltarás ao teu lugar. Tu és pó e ao pó haverás de tornar”. Para quem estiver atento isso é uma solene informação, pois quer nos levar a considerar que o defunto, imerso nas leis internas do solo terá todo o seu quimismo descombinado, suas células se dissolverão e os átomos que as configuraram serão mantidos ativos, desta vez, iniciando um novo processo de combinação...
Parte da decomposição corpórea servirá de nutriente para levas de vermes e lhes assegurarão existência pelo tempo necessário até que novo ciclo descombinação/combinação seja processado. Outra parte, já integrada ao chorume, também passará pelo novo processo de combinação dando origem a outras células ou moléculas...
Em síntese, aquele corpo humano que, ao longo do seu périplo, na superfície, foi nutrido, alimentado, com componentes químicos originários do solo planetário. A morte nada mais é do que o ponto de partida para o regresso dos elementos ao solo, de onde vieram. Assim, não fica difícil aceitar a verdade do dístico do cemitério, bem como admitir que nós, seres humanos bem como todos os demais seres sejam orgânicos ou não, somos, todos, partículas do solo planetário, somos, também, Terra...
Assim, não é inadequado darmos créditos ao nosso Raul Seixas, o Maluco Beleza, quando, em sua música, dizia ser uma “Metamorfose Ambulante”!
Li, certa vez, em um dicionário que: “Ser é tudo o que existe”. A Tradição nos ensina que, “Tudo o que existe é O Ser”. Assim, resta-nos a percepção de que tudo o que existe seja “energia”, considerando o átomo como ponto de partida, pois é ele que engendra as moléculas e células que dão forma a tudo o que existe, submisso à constante metamorfose cuja duração visível seja, em alguns casos, imaginável e, em outros, inalcançável para nossas mentes, porém, possivelmente presumível.
Depois de todas essas ilações, concluímos que, “toda causa produz uma consequência”; essa é a lei da Causalidade. Assim, cabe-nos aceitar a ideia de que, partindo da memória das árvores, oculta lá nas profundezas do solo, passando pelo chamado “tudo o que existe”, nos defrontamos com uma “fantástica engenharia”, cujo projetista também seja uma gigantesca fonte de energia inteligente dotada de pensamento e poder de decisão. Talvez, a própria Fonte do Todo, o Ser onde o Tudo se insere, até mesmo a nossa maluquice beleza!
Sou muito grato ao meu amigo Viégas pelo maravilhoso presente! Obrigou-me a pensar de que modo seria mais adequado nominar Deus? Qual seria a pergunta sensata? “Quem é Deus ou O Que é Deus? Quando coloco a primeira questão, sinto que com o interrogativo “quem”, atribuindo-Lhe uma personalidade, o que é inerente à persona, à pessoa, ao humano; criando uma forma antropomórfica, deificada, estou “reduzindo-O à nossa imagem e semelhança”, tal como a figura que vemos nas naves e afrescos das igrejas, com barbas, cabelos, roupas e sandálias! No segundo caso, invocando a parvice do nosso conhecimento, cujo vocabulário é insuficiente para descrevê-Lo, por inefável, imagino tratar-se de uma Energia Inteligente dotada de Poder e Vontade muito acima das nossas rasteiras ilações confessionais ou artísticas. Sinto-me em paz, quando O sinto como “O Todo onde o Tudo se insere”! Com mais simplicidade, ainda, “A Fonte”.
Amelius
10/03/2018