A hipótese como construção da ciência

A hipótese como construção da ciência

A ciência é criação e a criação causa felicidade aos próprios criadores e aos que dão atenção a esta criação.

Em ciência, tal como na arte, não há lugar para a insipidez, para a repetição fastidiosa de verdades banais, para o dogmatismo enfadonho ou para a confiança cega em ideias feitas.

O objectivo da ciência não é ser interessante em si, mas sim é conhecer a verdade. O divertimento pelo divertimento é fastidioso. A investigação científica começa pelas hipóteses, as quais são em seguida verificadas e se revelam verdadeiras ou falsas.

A investigação científica não começa por uma generalização que seria em seguida ensaiada com os dados existentes para se verificar se ela assenta bem, como um chapéu a uma senhora.

A investigação científica começa pela análise de todos os dados relativos ao problema, pela elucidação dos factos. E este estudo obedece a métodos científicos precisos. Os métodos científicos traçam vias sem limitar de modo algum a investigação e, em vez de entravar o investigador, oferece-lhe a possibilidade de se elevar acima da banalidade.

As hipóteses nascem das observações. É justamente uma análise precisa destas observações que redunda no estabelecimento de hipóteses. Nas ciências exactas as hipóteses transformam-se, ao fim duma verificação experimental que pode ser muito longa, em teorias, isto é, numa explicação condensada de fenómenos particulares a partir dum pequeno número de princípios gerais.

A psicologia da criação científica mostra que, mesmo nas ciências exactas o primeiro impulso que faz nascer uma hipótese é de carácter estético, A satisfação estética é, para o sábio, o ponto de partida e a etapa final da formulação duma nova hipótese.

Os argumentos acerca das hipóteses são geralmente os seguintes: porque privar o leitor de hipóteses engenhosas, paradoxais, etc.

O que se poderá chamar hipótese interessante?

Uma hipótese imprevista, paradoxal. Os que assim raciocinam, esquecem os objectivos da ciência. Seguir esta via é substituir a ciência pela ficção pura.

A que é que eu chamo hipótese interessante e bela?

Eis um exemplo duma hipótese verdadeiramente interessante: a descoberta do planeta Neptuno por Le Verrier: a existência deste planeta tinha sido demonstrada por cálculos, matemáticos e só depois é que, a partir deste cálculos, o planeta foi descoberto por observações directas, visuais. A hipótese astronómica requeria muito menos destreza para a construção de paradoxos que um grande trabalho preparatório. Foi justificada por cálculos matemáticos extremamente árduos.

É apenas com base nesta ideia que se poderá formar uma nova geração de sábios de talento, trabalhadores e responsáveis pelas suas hipóteses.