As Propriedades da Castanha-do-pará: seus benefícios alcançam mais que o paladar
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI - UNIASSELVI
AS PROPRIEDADES DA CASTANHA DO PARÁ
Seus benefícios alcançam mais que o paladar
Amanda Modesto dos Santos
Belém
2017
Amanda Modesto dos Santos
AS PROPRIEDADES DA CASTANHA-DO-PARÁ
Seus benefícios alcançam mais que o paladar
Trabalho de graduação apresentado como requisito para obtenção da licenciatura plena em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI, sob orientação do professor Fabrício Pinho da Luz.
Belém
2017
Dedico
À minha filha, “um anjo”, que, com sua breve presença entre nós, trouxe felicidade e paz (in memoriam).
Ao meu amado esposo Hugo Alves, por acreditar em mim mais que eu mesma, por ser capaz de em cada degrau que subia em sua vida, me carregar consigo, por enxugar minhas lágrimas e jamais me deixar desistir de meus sonhos.
À minha mãe Auriléa Farias que muito me incentivou ao longo da vida para que tivesse uma formação e apesar das dificuldades compartilhadas, hoje também está realizando um sonho.
À amizade verdadeira de minha sogra Raimunda Alves, que sempre incentivou minha caminhada ao longo do curso.
E à minha querida amiga da Faculdade, Msc. e Dra. em educação Maria Alencar que se fez presente em minha história, sempre me aconselhando, sendo uma pessoa incrível em minha vida.
AGRADECIMENTOS
À Deus que me proporcionou o dom da vida e que sempre está presente em cada momento, me ajudando a realizar as escolhas certas, me concedendo a oportunidade de estar compartilhando momentos felizes com aqueles que amo. À Ele, que me deu a graça de estar finalizando um curso superior numa área que tenho verdadeiro fascínio, que é a Biologia, onde terei a alegria de estar compartilhando o saber com meus alunos.
Sou grata também pela compreensão de meus familiares por todas as vezes que me ausentei para estudar para as provas semanais e, por todo apoio que recebi. Agradeço aos carinhos de meus pais Auriléa Farias e Armando Filho, aos meus sogros Raimunda Alves e Bianor Cunha.
Minha sincera gratidão aos tutores internos do polo de Indaial – SC, Alex Bergmann, Raquel Abreu e à coordenadora do curso Maquiel Vidal que muito me ajudaram nesta caminhada.
Agradeço também ao professor e orientador Me. Leonardo Fernandes da Paixão por sua paciência e sabedoria na qual ofereceu ao longo do curso em minha turma de origem (BID 0256) e, ao professor e orientador Antônio Carlos na turma (BID 0396), pela compreensão e orientações ao final do curso. Sou grata também ao orientador Fabrício Pinho da Luz, da turma (GTI 0159) que com sua paciência e humildade me avaliou no final do curso.
Aos funcionários do polo de Belém, Srs. (as) Elias, Eli, Zuila e Nilza, que sempre foram muito amigos e estiveram a disposição por toda extensão do curso.
Grata!
“Se fui capaz de ver mais longe, é porque me apoiei em ombros de gigantes”
Isaac Newton 
AS PROPRIEDADES DA CASTANHA-DO-PARÁ
Seus benefícios alcançam mais que o paladar
Autora: Amanda Modesto dos Santos
Prof. Orientador: Fabrício Pinho da Luz
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Curso: Ciências Biológicas (BID ) – Trabalho de Graduação
28/04/2017
RESUMO
O presente artigo trata sobre a relação da castanha-do-pará dentro da etnobotânica, uma vez que está relacionada a vários fatores socioeconômicos, que vão desde seu cultivo até sua extração e importação/exportação para as mais variadas áreas. A castanha-do-pará faz parte do paladar dos paraenses e de milhares de pessoas dentro e fora do Brasil, para tanto, foi considerada o “ouro da Amazônia”, pois seus benefícios se propagam muito além da culinária, alcançando as indústrias cosmética e farmacêutica por possuir propriedades benéficas à saúde. Seus benefícios chamaram atenção de pesquisadores que ao longo de décadas descobriram seu alto poder curativo e anti-inflamatório, se estendendo desta forma para o uso de remédios, tendo em vista que, não apenas a semente/fruto mas também suas cascas e tronco são usados de forma curativa. Além disso, estudos foram capazes de transformar restos de frutos quebrados e cascas em óleos (torta proteica), fibras entre outros; tornou-se sustento de milhares de pessoas que realizam sua coleta, beneficiando desta forma a agricultura. Diversas são as formas de benefícios que a castanha-do-pará traz ao ser humano e muito ainda há a se descobrir, principalmente no seu uso para a estética e nutrição.
Palavras-chave: Benefícios. Nutrição. Etnobotânica.
1 INTRODUÇÃO
Há quem pense que a castanha Bertholletia excelsa possui evidência no cenário mundial em virtude de ser considerada uma especiaria que enriquece os sabores da culinária e, por isso, é crescente o investimento no agronegócio desse cultivar. No entanto, para além da culinária, as castanhas-do-pará são utilizadas para vários fins, dentre eles se destacam: como aromatizantes, oleorresinas, indústria farmacêutica, produtos usados na área da estética entre outros. Sendo assim, este assunto deve ser tratado dentro da etnobotânica, ciência que explica a relação entre o cultivo, saberes científicos e empíricos da flora em relação à comunidade.
O sabor é a característica da castanha-do-pará, que atrai muitas pessoas ao desejo de consumi-la. Apesar de ainda ter quem considere que os lipídios encontrados na castanha-do-pará faz mal à saúde, estudos realizados com esse fruto mostram que os benefícios à saúde por ele apresentados são inúmeros, especialmente devido à presença do selênio (Se), capaz de agir como lubrificante celular. Dentre tais benefícios, destaca-se seus princípios como antiinflamatórios (cicatrizante de feridas), é antioxidante, controla o colesterol, atua no fortalecimento do sistema imunológico, ajuda a controlar a liberação dos hormônios da Triiodotironina (T3) e Tiroxina ou tetraiodotironina (T4) que são responsáveis pela aceleração do metabolismo ou de seu aumento que ajudam na manutenção fisiológica porquanto possuírem Iodo (I) em sua composição, o que evita diversas doenças se lançado na corrente sanguínea em quantidade ideal. (MORA, 2012).
Por tudo o que foi mencionado, com embasamento em revisão bibliográfica, mostrar-se-á neste trabalho como a Bertholletia excelsa contribui para incrementar a culinária, assim como os diversos benefícios que trazem à saúde, sendo estas consideradas alimentos funcionais pelos órgãos que regulam e/ou investigam as contribuições de tais alimentos à saúde e bem-estar humanos.
2 A IMPORTÂNCIA DA ETNOBOTÂNICA
A etnobotânica tem um papel importante e fundamental, sendo considerada”[...] a ciência que estuda as interações dinâmicas entre as plantas e o homem; consistindo também na compreensão dos usos e aplicações tradicionais dos vegetais pelas pessoas” (JUSTO; MOTA; COELHO, p. 3, 2014), de forma que ela está ligada diretamente ao uso farmacológico (etnofarmacologia) em que diversas espécies que compõe a flora servem de estudo para o desenvolvimento de novos remédios. Porém, a etnobotânica vem tomando cada vez mais espaço em pesquisas, principalmente na região amazônica onde as espécies são bem variadas e, estas pesquisas são geralmente direcionadas a comunidade local, que depende muitas vezes da agricultura para o seu sustento e, a partir do momento que este estudo é desenvolvido na área, estes moradores são “presenteados” com os conhecimentos científicos levados e também retribuem como seus saberes empíricos a respeito de certas espécies, mantendo uma troca de informação muito importante na contribuição da etnobotânica. (PATZLAFF; PEIXOTO, 2009).
Trazendo a discussão sobre a importância da etnobotânica ao tema deste trabalho, é possível compreender que o plantio e sustento da Bertholletia é de caráter relevante ao domínio do conhecimento entre homem/ciência, de forma que esta troca de informações entre pesquisadores e comunidade leva a compreensão da importância de sua preservação, seus usos e economia.
2.1 HISTÓRIA DA CASTANHA-DO-PARÁ
A castanheira, segundo Santos (2012, p. 20) “[...] apresenta divisão botânica, a partir da seguinte classificação: é uma Angiosperma, da classe Dicotiledonea, da ordem Myrtiflorae, pertencente à família das Lecythidaceae, gênero Bertholletia, espécie excelsea [...]” e tratar sobre a história da castanha-do-pará, de certa forma também é falar sutilmente a respeito da cultura paraense, seja no cultivo de castanheiras ou na gastronomia. Segundo pesquisadores, a castanha-do-pará, também conhecida em algumas regiões como castanha-do-brasil não é uma fruta recente, mas sim há centenas de décadas vem sendo utilizada como conservantes de alimentos e uso medicinal (DANTAS, 2015; SALOMÃO, 2014). Conforme afirma Mori (2001, p. 125),
Cinco espécies da família da castanha-do-pará, nativas da floresta do Rio Negro, ilustram muito bem a adaptação floral a diferentes polinizadores:
A jeniparana (Gustavia hexapetala), espécie comum de terra firme com flores de simetria radial, é polinizada pelas fêmeas de Bombus cayennensis, abelha grande de coloração amarela e preta, e por muitas outras espécies de abelhas [...].
A sapucaia (Lecythis pisonis) é uma espécie com flores de simetria bilateral que ocorre na Amazônia e nas florestas da Mata Atlântica [...] O principal polinizador da sapucaia é a fêmea da abelha conhecida como mamangaba (Xylocopa frontalis) que visita a flor em busca da recompensa que é a coleta de pólen estéril [...].
Duas espécies com flores de simetria bilateral, jarana amarela (Lecythis poiteaui) e jarana da folha grande (L. barnebyi), são visitadas por morcegos em busca da recompensa que é o néctar produzido no capuz. Essas espécies diferenciam-se dos demais membros da família por apresentarem flores localizadas em inflorescências projetadas acima da copa e por abrirem-se à noite com odor de mofo, para facilitar a visita dos morcegos.
Finalmente, a castanheira-do-pará, que também tem flores de simetria bilateral, é polinizada por abelhas dos gêneros Bombus, Centris, Epicharis e Xilocopa, que visitam as flores em busca do néctar altamente energético. (GRIFO NOSSO).
Para a permanência das espécies é essencial que hajam os polinizadores como cita o texto acima, sendo responsáveis pela evolução da planta, garantindo sua sobrevivência na natureza.
Estas espécies são transportadas as vezes até mesmo para outras regiões através de insetos e outros predadores comuns, que na maioria das vezes acabam por brotar até mesmo próximo a outra de sua espécie, ou pode ser levada para outra região, podendo obter sucesso. O maior consumidor de seu fruto ainda na natureza é o macaco, que se alimenta de suas sementes de fruta carnosa, com habilidades para quebrar o ouriço. (MORI, 2001).
Muitas pesquisas vêm sendo desenvolvidas para o uso dos nutrientes da castanha-do-pará como forma de remédio, regulando o organismo e evitando certas doenças.
3 A CASTANHA-DO-PARÁ E SEUS USOS
A castanha-do-pará é utilizada para diversas finalidades, abrangendo desde o uso culinário ao farmacêutico. Tendo grande importância na nutrição por ser rico em proteínas, é recomendado por nutricionistas para equilibrar as dietas sendo uma espécie de repositor de alguns óleos e nutrientes. Já seu uso culinário é vasto na região norte, principalmente no estado do Pará.
3.1 A CULINÁRIA
Na cultura local, no estado do Pará mais especificamente, a castanha-do-pará é utilizada na preparação de diversas iguarias. Seja a castanha picada, ralada, em pó ou in natura, é sempre bem consumida pelos paraenses.
[...] é muito mais saborosa assim, fresca, porque sua carne se mantêm leitosa e macia. Dela pode se extrair um leite empregado em receitas variadas. Também podem ser torradas e transformadas em farinhas, doces e sorvetes. (FIDALGO, 2007, p. 24)
Em restaurantes é utilizado principalmente em pratos bem regionais, como por exemplo, peixada de filé do tucunaré ao leite da castanha-do-pará (que substitui o leite do coco) entre outros. Nas lanchonetes as variedades são ainda mais extensas, pois são servidos desde doces, cuscuz, biscoitos, bolos, torta gelada, pudins, sorvetes (o mais consumido é a mistura de doce de cupuaçú com a castanha-do-pará) e tradicionais bombons de chocolate com recheio de castanha-do-pará. Ambos agradam os paladares tanto dos moradores locais quanto dos turistas.
Há também no uso culinário o azeite extraído da castanha, onde segundo Glória e Regitano-d´Arce (2000), através das sementes quebradas que se tornam comercialmente inviáveis e, seu aproveitamento ocorre através de processos de prensas e pasteurizações; óleo este comercializado inclusive para o exterior, porém, pouco conhecido na região por ser economicamente caro para a realidade financeira da grande parte dos moradores locais. Isto também ocorre com a extração do leite da castanha-do-pará, porém este não precisa de muitos recursos, pois seu processo de extração se iguala à extração de leite do coco. O leite da castanha é riquíssimo em nutrientes e lipídios e muito utilizada na culinária local; por vezes também substitui o leite de gado quando este se torna escasso em algumas regiões (CARDELLI; OLIVEIRA, 2000).
3.2 O USO FARMACÊUTICO
Estudos tem sido realizado sobre as propriedades da castanha-do-pará, tendo em vista que, não apenas a fruta é riquíssima em vitaminas, proteínas, selênio entre outros, mas também a casca da castanheira tem sido utilizada para fabricação de remédios pela indústria farmacêutica. O estudo científico foi iniciado através de teorias empíricas dos nativos, e através de pesquisas bioquímicas, farmacêuticas e nutricionais, demais descobertas sobre a Bertholletia excelsa tem sido expostas. (AGRO, 2005; LIMA, 2013).
De acordo com os autores Lima; Coelho-Ferreira; Oliveira (2011) cascas e outras extrações da Bertholletia exc. são comercializadas em feiras ao longo da BR-163, com ênfase na feira rural de Santarém (Oeste do Pará) e, de acordo com as pesquisas, poucas são as pessoas que conhecem o alto poder curativo anti-inflamatório da casca da árvore, que tem sua escassez maior durante o período chuvoso, conhecido por inverno amazônico. Segundo eles, muito falta ainda a ser esclarecido à população sobre suas propriedades, pois seu uso em pó em farmácias de manipulação são mais comuns, assim como o isolado de certos componentes.
Pode também ser encontrado um alto teor de Se no fruto da castanha-do-pará, que ajuda a regular o organismo de forma a fortalecer o sistema imunológico prevenindo doenças e eficaz na redução das infecções virais, controle do metabolismo do T3 e T4, fortalecimento de fibras cardiovasculares, além de ser um antioxidante potente que tem ação em células do corpo todo, sendo considerada um “lubrificante celular” dos neurônios e, quanto a sua ausência ou teor reduzido no organismo, pode causar sérias deficiências que compreendem desde de enfraquecimento dos cabelos e unhas, até desordem no sistema nervoso causando paralisias; porém, com apenas o consumo de uma castanha diária, é capaz de equilibrar e manter o organismo. (SILVA JÚNIOR, 2016).
De forma que ainda se têm a descobrir em pesquisas sobre os valores da castanheira-do-pará.
4 O CONSUMO DA CASTANHA-DO-PARÁ
Como citado anteriormente pelo autor Silva Júnior (2016), o consumo da castanha-do-pará traz muitos benefícios à saúde do consumidor que podem ser refletidas no corpo, através das unhas, cabelo e fortalecimento do sistema imunológico. Ao que Stuppiello (2016) afirma ser uma das sementes (frutos) mais ricas e benéficas a todo o organismo, regulando as funções do metabolismo celular, induzindo ao bom funcionamento do corpo se consumida na quantidade certa.
TABELA 1: VALORES NUTRICIONAIS DA CASTANHA-DO-PARÁ
Castanha-do-pará – 10 g (2 castanhas)
Calorias 66 kcal
Gorduras totais 6,71 g
Gorduras saturadas 1,6 g
Gorduras monoinsaturadas 2,38 g
Gorduras poli-insaturadas 2,4 g
Proteínas 1,43 g
Carboidratos 1,17 g
Cálcio 16 mg
Ferro 0,24 mg
Fósforo 72 mg
Magnésio 38 mg
Potássio 66 mg
Zinco 0,41 mg
Vitamina E 0,57 mg
Selênio 192 mcg
Extraído e adaptado do site minhavida (2016).
Disponível em: https://www.minhavida.com.br/alimentacao/tudo-sobre/17977-castanha-do-para-e-benefica-para-o-coracao-e-o-cerebro. Acesso em: 16 de Mar. 2016.
Ao que pode se observar na tabela nutricional acima, o fruto é rico em minerais que são facilmente encontrados nos solos e, é justamente isso que o torna tão especial em seu consumo moderado. Se tratando das substâncias contidas no solo, encontra-se um alto teor de Mercúrio (Hg), principalmente nos solos de região amazônica. Acredita-se que esta grande concentração seja proveniente de ações garimpeiras e/ou pelo empobrecimento da área por assoreamento, que no entanto acaba por contaminar rios, lagos e outras espécies como vegetais, porém, em teor mais reduzido e, no caso da castanha-do-pará há uma correlação importante entre Hg e Se, havendo alta relevância no estudo; pois ao mesmo tempo em que as concentrações de Hg no solo amazônico são prejudiciais ao alimento/fruto, o Se vem a agir como uma espécie de “antagonista”, trazendo benefícios a saúde dos consumidores, principalmente de mulheres em fase gestacional. (CAMPOS, 2001).
São muitos os benefícios trazidos à saúde pelo consumo da castanha-do-pará. O fruto é rico em gorduras, que conforme Tonini et.al (2008, p. 16),
[...] é do tipo saturada, de baixo colesterol, possui sabor e aromas agradáveis com variada aplicação. Contém muitos nutrientes, incluindo proteínas, fibras, selênio, magnésio e fósforo, sendo também considerada fonte de agimina, importante agente oxidante que atua na proteção contra doenças coronarianas e o câncer.
Ao que se refere a proteção contra doenças do coração e ao câncer, o consumo de castanha-do-pará é recomendado por este atuar como lubrificante celular. Porém, não deve se exagerar na ingestão do fruto, pois uma grande quantidade de Se pode levar a intoxicação do organismo e desencadear inúmeras deficiências do organismo. A respeito de seu consumo excessivo, se faz saber que,
Consumir além de quatro a seis castanhas-do-pará pode ser prejudicial para a saúde. Isto porque esta quantidade do alimento possui entre 200 e 300 mcg de selênio, um pouco abaixo recomendação diária máxima de selênio (400 mcg). O consumo ocasional de uma quantidade maior não vai causar nenhum problema, o que complica é o consumo crônico de altas quantidades da castanha. Pode ocorrer uma overdose de selênio que leva a uma condição tóxica conhecida como selenose. Os sintomas deste problema são náuseas, vômitos, dor abdominal, fadiga, irritabilidade, descamação das unhas, perda de cabelo, mau hálito, distúrbios gastrointestinais e danos ao sistema nervoso. (STUPIELLO, p.1, 2016).
A saber, seu consumo em excesso pode fazer mal a saúde assim como demais alimentos presentes na cadeia alimentar.
5 O PODER SOCIOECONÔMICO LIGADO AO CULTIVO E EXTRAÇÃO DA CASTANHA-DO-PARÁ
Os benefícios da castanha-do-pará não se concentram apenas no fruto e seu sabor ou, em seus benefícios a saúde. Destina-se também à agricultura e economia local, pois através de pesquisas ao longo dos anos foi desenvolvido maneiras para o total aproveitamento do fruto (cascas, massa e/ou miolo, raspas da casca da árvore, lenhas do tronco etc.); pois a castanha,
É um dos produtos da nossa economia extrativista, com significativo valor no mercado de exportação. Devido à devastação indiscriminada das matas amazônicas, a castanheira nativa tem sido vista como uma das espécies ameaçadas de extinção. Porém, tem-se [sic] verificado que esta espécie é uma excelente alternativa para reflorestamento. (BRASIL, p. 22, 2002).
Este cultivo tem ajudado a manter famílias que dependem de forma direta e/ou indireta de sua produção. De acordo com pesquisas realizadas por Paiva; Guedes (2008) e Tonini et.al (2008), além de seus polinizadores ajudarem na sobrevivência da sua espécie, outros animais também tem papéis fundamentais para que seu cultivo seja preservado em áreas diferentes; um exemplo disto é a cutia (Dasyprocta spp) que age numa espécie de mutualismo, pois se alimentam dos frutos e o carregam consigo como forma de estocagem de alimentos, os escondendo em baixo da terra, facilitando desta forma o seu plantio natural, o que vem ajudando de forma significativa seu reflorestamento e, com isso a economia local.
Ao se tratar de setor socioeconômico, afirma o autor Homma (2002) que a castanha-do-pará, juntamente com outras frutas regionais tem se tornado uma potência econômica na região, principalmente o que se refere ao setor de exportação, elevando o Produto Interno Bruto (PIB) do país, onde são exportados os frutos da castanha-do-pará para o consumo em outros países, assim como para uso farmacológico e testes estéticos (que em grande parte retorna o produto importado e processado ao Brasil) que movem milhões de reais na economia brasileira.
6 MATERIAL E MÉTODOS
Neste trabalho, a pesquisa se configura como um estudo bibliográfico na medida em que se projeta para a análise de estudos e discussões que autores que investigam a temática aqui proposta. Ou seja, o embasamento metodológico deste trabalho se deu a partir de um estudo exploratório de cunho bibliográfico visando conhecer a castanha-do-pará e os benefícios que ela pode proporcionar ao ser humano, tanto na área da saúde, quanto na área econômica (dos que dependem do plantio e coleta). Para tanto, livros e artigos científicos, assim como buscas em sites na internet serviram como fonte de investigação para empreender a elaboração dos seguintes tópicos: A importância da etnobotânica; História da castanha-do-pará; A castanha e seus usos (culinária; farmacêuticos); O consumo da castanha-do-pará.
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesse estudo foi possível não apenas conhecer a castanha da espécie Bertholletia excelsa, mas também identificar que além do uso culinário em todo o mundo, também possui outras aplicações relevantes nos campos da medicina, farmacologia, estética, indústria e outros que estão enquadrados na etnobotânica, em que segundo o autor Patzlaff e Peixoto (2009) vem sendo um elo entre a ciência em forma da pesquisa e os moradores locais, que no entanto, ao longo de sua discussão trata o assunto como um sistema complexo a partir do envolvimento do pesquisador com a comunidade, assim como estas trocas de conhecimentos. Já para os autores Justo e Mota (2014) não há esta visão de complexidade e sim uma interação ainda maior que vem ajudando cada vez mais no desenvolvimento desta ciência. Para eles, esta interação entre pesquisador/comunidade, ajuda a expandir cada vez mais o saber e a importância do conhecimento, ajudando inclusive na economia local nas áreas de cultivo.
Constatou-se que são diversas as propriedades benéficas alcançadas a partir do consumo da castanha, principalmente por causa das vitaminas, proteínas e alto teor de Se, capaz de regular a liberação de T3 e T4, além de fortalecer o sistema imunológico do ser humano. Ainda apresenta efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, onde a autora Stupiello (2016) discute seus benefícios e também seus malefícios se consumida em grande quantidade podendo levar a outras deficiências do organismo como a descamação das unhas, queda de cabelo, problemas estomacais e intestinais (por conta de ser um fruto oleoso), mau-hálito dentre outros problemas citados pelo consumo exurbitante de Se encontrado na castanha-do-pará. Por conta disso, os benefícios que as castanhas Bertholletia exc. trazem à saúde são diversos, uma vez que podem ser administradas com a finalidade de curar e/ou controlar o colesterol, doenças virais, cicatrização de feridas gastrointestinais e muitos outros.
Se constatou também, ainda a respeito dos benefícios e malefícios no consumo da castanha-do-pará um alto teor de minerais no solo (principalmente solo amazônico), rico em Se, o que torna a castanha-do-pará a fruta com maior concentração em Se, porém, em contrapartida, conforme explica a autora Campos (2001), também há uma enorme taxa de Hg contido no solo, com poder de contaminação em baixa quantidade encontrados no fruto que, não são capazes de trazer riscos à saúde pela incrível ação do Se que age como uma espécie de antagonista, uma vez que seus benefícios são maiores que os malefícios trazidos pelo Hg.
Durante o desenvolvimento teórico foram citados por diversas vezes a respeito da castanha-do-pará e sua importância socioeconômica e extrativista. De modo em que seu plantio e extração tem movimentado, de acordo com Salomão (2014) e Homma (2002) milhões de reais no PIB brasileiro através, principalmente da exportação do fruto muito apreciado em outros estados e fora do Brasil, onde nas últimas décadas, houve uma valorização comercial; empregando muitas pessoas, seja na comunidade local ou comércios de exportação e importação, assim como em pequenas e grandes empresas de cosmético que utilizam o “poder” da castanha em benefício da pele, cabelos e outros. A castanha-do-pará também movimenta a indústria farmacêutica que utiliza seus compostos minerais em benefício da saúde humana. Segundo descreve o autor Homma (2002) a castanha e outros frutos da região amazônica são considerados por algumas pessoas como o novo eldorado (algo promissor e rentável) que movimenta a economia local.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo de cunho etnobotânico ora apresentado foi muito relevante para esclarecer questões acerca dos benefícios que a castanha-do-pará pode oferecer. Não apenas para a saúde, mas também para os agricultores responsáveis pelo seu plantio e coleta de seus frutos, que em geral ocorrem no interior de matas fechadas, que “lucram” com a atividade.
Há milhares de anos as castanhas são usadas pela humanidade com o intuito de alimentar e melhorar o sabor e a aparência dos mesmos e, ainda, como medicamento natural. Apesar disso, existem muitas pessoas que declaram que tudo que é gorduroso não faz bem à saúde. No entanto, este estudo comprovou que quando se trata da castanha-do-pará, seu teor lipídico trará benefícios à saúde humana.
Nesse sentido, do uso culinário a castanha passou a despertar o interesse de cientistas, que passaram a estudá-la com o objetivo de descobrir seu princípio ativo e, assim, aprender a empregá-lo para outros fins fora da culinária. O que confere à castanha Bertholletia exc. poderes medicinais, farmacológicos, fungicidas e outros é a presença do Se e vitaminas em grande quantidade nesses frutos.
Nos dias atuais, pode-se encontrar seus princípios ativos em cosméticos fabricados no Brasil e exterior. São utilizados para a fabricação de cremes corporais e faciais, shampoo, condicionadores, colônia, desodorantes e muito mais. Há implantação de fábrica de cosmético na região metropolitana de Belém, gerando emprego e renda aos moradores.
Por tudo isso que foi mencionado, conclui-se que a Bertholletia exc., além de possuir sabor inigualável é bastante nutritiva e saudável. Assim, com equilíbrio, acompanhamento e com a administração de uma alimentação balanceada, é possível assimilar todos os benefícios que esse fruto tem a oferecer, de modo a adquirir uma vida saudável recheada de sabor.
REFERÊNCIAS
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