Capra e o Ponto de Mutação / Newton (Parte 02)
Cotidiano
“Nenhuma descrição do universo, em sua totalidade, pode ser definitiva se deixarmos inteiramente ignoradas as formas de consciência.”
William James
Capra e o Ponto de Mutação / Newton (Parte 02)
Queridos(as) amigos(as); na semana passada comentamos sobre o Best-seller de Fritjof Capra, O Ponto de Mutação. Inicialmente analisamos as características do reducionismo cartesiano, e verificamos as grandes limitações que essa visão de mundo apresenta, por basear-se na premissa, de modo algum provada, que a certeza do conhecimento científico é um dado objetivo.
Outro gigante do século XVII foi Newton. O cientista apresentou sua teoria de forma detalhada nos Principia (Princípios Matemáticos de Filosofia Natural). Era chamado de Principia por razões de brevidade, pois seu título em latim (língua franca da época) era Philosophiae Naturalis Principia Mathematica.
De acordo com Capra, a obra contém um conjunto abrangente de definições, proposições e provas que o mundo acadêmico considerou a correta descrição da natureza por um período superior a duzentos anos. Porém, ainda de acordo com o autor, a obra ainda vai além... Ela contém, ao mesmo tempo, uma exposição explícita do método experimental de Newton, que ele considerava um procedimento sistemático no qual a descrição matemática se baseia, passo a passo, para chegar a avaliação crítica da evidência experimental. O que diz Newton sobre seu método?
“Tudo o que não é deduzido dos fenômenos será chamado de hipótese; e as hipóteses, sejam elas metafísicas ou físicas, sejam elas dotadas de qualidades ocultas ou mecânicas, não têm lugar na filosofia experimental. Nesta filosofia, proposições particulares são inferidas dos fenômenos e depois tornadas gerais por indução”.
Para Capra, podemos concluir que o universo concebido por Newton era o espaço tridimensional da geometria euclidiana clássica. Um espaço absoluto, um recipiente vazio, independente dos fenômenos físicos que nele ocorriam. Segundo as próprias palavras de Newton, “o espaço absoluto, em sua própria natureza, sem levar em conta qualquer coisa que lhe seja externa, permanece sempre inalterado e imóvel”.
Todas as mudanças no mundo físico eram descritas em função de uma dimensão à parte, o tempo, também absoluto e sem ligação alguma com o mundo material, e que fluía de maneira uniforme do passado para o futuro através do presente. Para Newton: “O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, de si mesmo e por sua própria natureza, flui uniformemente, sem depender de qualquer coisa externa”.
Mas Newton era também teólogo, e reservava para Deus o poder sobre as partículas e sobre a força de gravidade, que desse modo estavam isentas de uma análise posterior. Vejamos o que diz Newton em sua Óptica:
“Parece-me provável que Deus, no começo, formou a matéria em partículas sólidas, compactas, duras, impenetráveis e móveis, de tais dimensões e configurações, e com outras propriedades tais, e em tais proporções com o espaço, que sejam as mais compatíveis com a finalidade para que Ele as formou; e que essas partículas primitivas, sendo sólidas, são incomparavelmente mais duras do que quaisquer corpos porosos compostos por elas; realmente tão duras que nunca se desgastam nem se fragmentam, e não existe nenhuma força comum que seja capaz de dividir o que o próprio Deus unificou na criação original”.
O fato é que, para Capra, na mecânica de Newton, todos os fenômenos físicos estão reduzidos ao movimento de partículas materiais, causado por sua atração mútua, ou seja, pela força da gravidade. O efeito dessa força sobre uma partícula ou qualquer outro objeto material é descrito matematicamente pelas equações do movimento enunciadas por Newton, as quais formam as bases da mecânica clássica. (...) Tudo o que aconteceu teria tido uma causa definida e dado origem a um efeito definido, e o futuro de qualquer parte do sistema podia – em princípio – ser previsto com absoluta certeza, desde que seu estado, em qualquer momento dado, fosse conhecido em todos os seus detalhes. Concluiremos na próxima semana com as características de uma abordagem para além da visão cartesiano-newtoniana.
21 de maio de 2011.