O sexto dia da Criação

O SEXTO DIA DA CRIAÇÃO

Quando fizemos catequese (há muito tempo atrás, ufa!) ouvimos falar da humanidade começando através de um casal: Adão e Eva. Depois, um pouco mais esclarecidos, muitas vezes nos perguntamos como seria possível, geneticamente falando, a procriação das gerações a partir da união incestuosa dos filhos daquela “protofamília”. Embutido num contexto maior inegável que é a criação divina, o aparecimento do homem sobre a terra tem criado perguntas, hipóteses e teses de muitos cientistas, antropólogos, teólogos, ateus, humanistas entre outros menos votados. Hoje, dentro de uma análise científica gestada dentro da própria Igreja, se pode identificar algumas correntes sobre a geração e continuidade da raça humana; ou melhor, das raças humanas. Desponta, então a evidência de duas correntes chamadas de monogenismo e poligenismo.

A teoria monogenista é aquela que aprendemos no catecismo, fruto de uma análise fundamentalista das Escrituras, em que as afirmações são levadas ao entendimento do pé da letra, sem o desconto da época em que foram escritas, das realidades humanas daquele tempo, dos meios literários e de imagens que possuíam os hagiógrafos. Assim, por exemplo, temos o livro do Gênese rico em antropomorfismos, ou seja, de criações literárias adaptadas às formas humanas que o escritor sagrado conhecia. A teoria monogenista, então, é aquela que nos mostra o gênero humano descendente de um só berço (criação divina) e um só casal (Adão e Eva).

O poligenismo nos apresenta o homem criado de um só berço (criação divina, criado por Deus), mas a partir de muitos casais. Por conseguinte, quando o autor sagrado diz que Deus criou adam (adam, em hebraico, significa homem de barro, substantivo, e não nome próprio), está dizendo, criou o homem, e não um homem, individualmente. Em Gn 1,27 verifica-se que o substantivo adam não designa um indivíduo, mas a espécie humana criada por Deus e incumbida de crescer, multiplicar-se, encher a terra e dominá-la.

O nome Eva igualmente não é próprio, mas significa, no hebraico, hawwa, “mãe de vivos” (Gn 3,20). Esta teoria poligenista, bem mais racional do que a outra, em nada contraria, desmerece ou põe em cheque a nossa fé. Tudo fica no terreno das teorias; não há critérios científicos bem definidos para dirimir estas dúvidas que, embora de curiosidade especulativa, não são essenciais.

A Bíblia estabelece sua primeira cronologia com Abraão, entre 2000/1800 a.C. Estas teorias são desposadas pelos grandes biblistas contemporâneos. É sempre bom que se estude as Escrituras pelo ângulo místico, pelo científico e pelo social. Todos se completam. E não há nenhum mal para a fé.